Babi Micheletto e Thauê Neves são dois crias dos esports que desbravam a narratividade no futebol (Foto: Arte por Dust2 Brasil)

Crias dos esports, Babi e Thauê Neves ganham notoriedade narrando futebol

Casters falam sobre o início da nova jornada, desafios e jogos que já marcaram a carreira

Ari Aguiar, Everaldo Marques e Octavio Neto são algumas vozes dos esportes tradicionais que já narraram emoções de campeonatos de modalidades eletrônicas. Mas quem imaginou que o inverso também aconteceria? Cria dos esports, Bárbara "Babi" Micheletto e Thauê Neves mostram que é possível com a notoriedade que estão ganhando narrando o esporte mais amado do país, o futebol.

Em entrevista à Dust2 Brasil, os narradores que atualmente integram o canal de internet GOAT não só explicaram como surgiram as primeiras oportunidades, mas também falaram sobre as guinadas nas carreiras, os desafios nas novas jornadas e garantiram que esses novos capítulos não significam que estão deixando os esports.

Apaixonados por futebol, Babi e Neves contaram que se arriscaram na nova modalidade no famoso "radinho de pilha", narrando as partidas sem as imagens.

"Eu comecei com o 'Radinho da Babi'. Fiz a transmissão da Copa do Mundo feminina, no ano passado, com os jogos do Brasil. Chamei alguns narradores, alguns comentaristas, mas tudo no meu canal. Essa foi a primeira oportunidade para conseguir criar um portfólio e em busca das oportunidades", explicou Babi.

E o projeto de Neves que surgiu na pandemia se tornou oficial a partir da indicação do amigo e também narrador Marcelo Hazan para os responsáveis pelas transmissões da CONMEBOL Libertadores para o Facebook.

"Ele foi convidado para poder transmitir no Facebook os jogos da Libertadores em apenas áudio. Nisso ele me indicou, dizendo que tinha um amigo que vinha transmitindo futebol na Twitch no estilo rádio. Os responsáveis pela transmissão me chamaram e comecei a fazer as partidas no estilo rádio para o Facebook", contou.

Do Facebook para o GOAT, canal esportivo transmitido via YouTube, foi um pulo, completou Neves: "Essa equipe responsável pelas transmissões no Facebook acabou deixando a Conmebol para criar o canal e eles gostaram do meu trabalho. Foi daí que recebi o convite para continuar narrando no futebol, mas no GOAT e agora com as imagens.

Já Babi chegou no canal de outra forma, "batendo na porta" ao pedir oportunidade para os responsáveis pelo GOAT no Linkedin.

"Eu com meu portfólio em mãos comecei a falar mais com a galera que já tinha um contato. Então pelo Linkedin entrei em contato com o pessoal do GOAT e falei que tinha interesse para fazer parte da equipe, falando que eu já narrava futebol. A resposta positiva veio no dia seguinte e me convidaram para um período de teste narrando o Campeonato Brasileiro feminino", relembrou.

"Eu aceitei e foi uma doideira porque, por mais que eu tivesse ido atrás, eu ainda não estava preparada para uma resposta tão rápida. Mas em uma semana foquei bastante nos estudos e fiz minha primeira 'narratividade' oficial no futebol", completou.

As diferenças de narrar futebol e esports

Para Neves a maior das diferenças está no fato as transmissões e narrações dos esportes tradicionais são muito mais profissionais que nos esports: "Vai desde a maneira como se lida com os profissionais até a maneira como esses profissionais são orientados".

"As experiências são muito diferentes, assim como as exigências. O público exige diferente. O público no futebol já tem um padrão que considera aceitável. É um padrão que ele gosta e é comum aos ouvidos desse público. Então, se você faz um futebol completamente diferente daquele padrão que o padrão brasileiro está acostumado e gosta de assistir, você é muito criticado. Então, você precisa aprender o roteiro da narração e a lidar com esse público", explicou.

O principal desafio encontrado por Babi na jornada de narrar futebol foi a questão do vocabulário. Rindo, não escondeu que já chamou o chute de tiro e o campo de mapa. "São alguns vícios de outras modalidades, mas fui me adaptando. Então segui estudando os campeonatos, os elencos das equipes e até mesmo a janela de transferência, assim como já fazia nos esports", afirmou.

Porém, assim como quando se aventurou nas narrações de esports, Babi também precisou superar a "exigência" do preconceito que existe com as vozes femininas no futebol. Mas, diferente de quando iniciou a carreira, ela chegou mais blindada para o futebol.

"Eu fui para o futebol sabendo que ia receber algumas críticas, mas fui mais blindada e preparada, sabendo utilizar essas críticas para evoluir no futuro. Então me vi como no começo da carreira, pisando em um lugar novo, o pessoal precisando me conhecer e que eu ia sofrer alguns hates, mas depois conquistaria o meu espaço", disse.

"Escola" esports rendeu frutos

Babi e Neves concordam que as experiências com os esports renderam bons frutos na questão do saber interagir com o público da internet, notoriamente mais "barulhento" que o da TV por conseguir interagir em tempo real nos chats das transmissões e também nas redes sociais.

"Eu fui orientado a fazer o que eu já fazia nos games porque eu já falava com a internet. Como já tenho a prática de narrar lendo o chat, eu consigo ver o que tão falando numa partida com 2 milhões de espectadores e fazer um filtro do que está agradando para amplificar ainda mais, mas também o que está desagradando para eu mudar", explicou Neves.

Marcou a carreira

Tanto Neves, como Babi já têm jogos marcantes narrando futebol. Coincidentemente, ambos citaram jogos do futebol feminino.

"Meu primeiro jogo muito importante, que deu uma 'tremedeira nas pernas', foi a final da Libertadores feminina entre Corinthians e Palmeiras. Peguei essa responsabilidade e eu estava muito nervoso, mas a ficha acabou caindo de que eu poderia e que as pessoas estavam conseguindo que eu conseguiria entregar jogos importantes no futebol. Então, essa final foi o primeiro jogo que falei 'Caramba, isso aqui pode dar certo e estou conseguindo colher bons frutos de toda a minha dedicação'", apontou.

Já Babi relembrou uma partida do Flamengo pelo Campeonato Brasileiro na qual pôde narrar a atacante Cristiane: "Os fãs do futebol sabem a história que aquela mulher carrega. Narrar ela fazendo um gol é diferenciado, sabe? Me marcou muito porque eu não tinha nem um mês de narração de futebol e fui escalada para fazer esse jogo".

Leia também

Você precisa estar logado para fazer um comentário.