ninjaZ sobre classificação ao RMR: "Sensação que nunca senti na vida"
Com 19 anos, Icaro "ninjaZ" Cavalari já sentiu diversas emoções diferentes em sua vida. A mais recente foi aflorada pela conquista da vaga no RMR Americas com a Arctic, algo que não estava nos planos do jogador.
"Dez meses atrás, quando cheguei na Arctic, eu não esperava toda essa evolução do time, então fiquei muito emocionado quando conseguimos a vaga. Uma sensação que nunca senti na vida, foi bizarro. Eu já jogo campeonatos desde os 15 e, diferente de alguns jogadores que receberam oportunidades desde cedo e pularam algumas etapas, eu fui passo a passo", disse ninjaZ em entrevista à Dust2 Brasil.
"Joguei Liga Aberta, Série C, Série B, Série A, CBCS, depois fui campeão do CBCS e agora vou pro RMR. Foram muitos altos e baixos, uma montanha-russa de emoções e sinto que desta vez eu calei a boca de muita gente e desta vez estou conseguindo me mostrar e performar".
A Arctic foi para o open qualifier sem ser considerada uma das favoritas a conquistar a vaga para a seletiva presencial. Esse status de azarão é visto como algo bom para ninjaZ, e o jogador quer surpreender novamente, agora no RMR Americas.
"O nível sobe bastante, ainda não tivemos essa experiência internacional. Eu não duvido nem um pouco (da Arctic), mas é difícil dizer que a gente vai chegar lá (no IEM Rio Major). Tenho certeza que vamos chegar como underdog mais uma vez e isso é bom, cada vez mais provando que eles estão errados e que somos um time forte. Eu gosto desse status, com a gente sempre chegando e provando que estão errados, é muito bom esse sentimento".
Para conseguir chegar bem em sua estreia em solos internacionais, a Arctic planeja viajar para um bootcamp antes do RMR. NinjaZ revelou que a organização deseja ir para a Sérvia, onde já vão se acostumar com o horário, ritmo de treino e o ambiente europeu.
O planejamento da Arctic já era de ir para um bootcamp, porém a classificação para o RMR acelerou os planos da organização. NinjaZ conta que o time está precisando correr atrás de várias coisas que não esperavam resolver por ora.
"Se falar que alguém esperava (a classificação), tá mentindo. Ninguém esperava, mas claro que a gente acreditava, porém esperar e acreditar são coisas diferentes. Foi uma grata surpresa conforme o projeto foi evoluindo e vimos que estava crescendo muito rápido. Estávamos pensando em algo mais a longo prazo e as coisas acabaram acontecendo bem rápido. A organização está precisando ir atrás de muitas coisas que eles não esperavam que teriam que ir atrás. Estamos crescendo bem rápido".
NinjaZ está na Arctic desde o final de 2021, quando a organização chegou no CS:GO. Além dele, Marcello "MaLLby" Czarneski e Paulo "short" Ballardini são os remanescentes da primeira lineup. A fusão dos veteranos com os recém-contratados foi essencial para essa evolução repentina.
"Com a adição do ponter e exp nos tornamos uma equipe que tem um potencial imenso. Estamos bem próximos da ODDIK e da B4 para sermos a melhor equipe do Brasil. Vamos surpreender justamente pela nossa evolução rápida, vamos manter essa característica por conta da mentalidade que temos. O exp traz muita bagagem e desde que ele começou a trabalhar conosco tivemos uma melhora absurda. Coisas que eu e maLLby não conseguíamos evoluir em 10 meses, ele cobrou e em duas semanas conseguimos", declarou.
"O ponter também está ajudando muito, ele é muito dedicado, está se sacrificando pelo time, fazendo funções que a gente precisa para nos deixar confortável. Hoje em dia temos um time muito flexível, os rifles conseguem fazer muitas posições e isso nos dá muita vantagem. Conseguimos ter muita dinâmica no nosso jogo. Acredito que, com essa experiência de treinos na Europa, vamos voltar para o Brasil com um gap maior entre nós e os outros times".
Nos holofotes
Em julho, a Arctic foi campeã do CBCS Elite League 2022. No entanto, a lineup atual já não é mais a mesma que conquistou o título do campeonato nacional. A equipe vendeu Guilherme "piria" Barbosa para O PLANO e contratou Gabriel "ponter" Amaral.
Embora esteja nos planos de ninjaZ conseguir chegar longe com seus companheiros de equipe, ele tem um medo: a lineup se desmanchar por conta do interesse de outros times.
"Esse é meu maior receio. Estou mais tranquilo do que em outras épocas porque passamos por momentos que recebemos mais propostas. O short, history e maLLby receberam várias propostas, mas o principal é como a organização passa isso para os jogadores. Eles são sempre transparentes e sabemos do projeto deles, não vejo nenhuma organização que pense da mesma maneira que eles pensam e agem".
"Nos bastidores trabalhamos com uma dinâmica de longo prazo, então estou confiante que vamos conseguir manter a lineup. Óbvio que se chegar um time extremamente grande não vai ter o que fazer, mas é recomeçar o projeto. Não é um jogador que vai acabar com todo projeto, é algo que já está sendo cultivado há muito tempo. Mesmo se dermos alguns passos para trás, vamos saber como chegar lá. É do esporte", continuou.
NinjaZ é firme em elogiar o estilo de trabalho da Arctic, avaliado como uma organização que não trabalhava visando vender e lucrar em cima dos jogadores. Para ele, a equipe foca no resultado esportivo, não somente mercadológico.
"Não era o foco da Arctic crescer, ganhar campeonato e vender jogadores. Eles sempre quiseram chegar longe, manter o time pelo maior tempo que desse para evoluirmos e chegarmos nos maiores campeonatos do mundo e ganhar vaga internacional. Eles querem, assim como nós, chegar no Major. Não é igual às outras organizações que só querem vender os jogadores, o que não é errado, só uma forma diferente de trabalhar".
"O faturamento (na Arctic) não é o foco, então eles saem negativados na maioria dos meses, é algo normal em todas as empresas que querem crescer. Tem que entender que é givando o curto prazo para chegar lá longe. Esse é um dos maiores diferenciais, então sempre que ganhávamos campeonatos e chegavam propostas, eles eram transparentes no que pensavam", seguiu ninjaZ.
Estruturas abaladas
No último dia do terceiro open qualifier, a Arctic publicou um vídeo em que ironizava o racismo. A publicação teve grande repercussão e surtiu efeitos negativos para a organização, como a separação da INTZ que era parceira do time. NinjaZ lembrou o clima entre os jogadores nas horas que antecederam a seletiva.
"Eu fui o que mais ficou abalado quando houve toda a repercussão e vimos a proporção que o vídeo tomou. Dá uma insegurança não saber o que vai rolar, foi um baque bem grande. 10 meses de projeto, não sabíamos o que ia rolar dentro da organização, com os organizadores do evento, então foi uma grande insegurança para mim. Depois que trocamos bastante ideia com o Dom, o cabeça do projeto da Arctic, ficamos mais tranquilos por saber que nosso esforço não foi em vão".
Em suas redes sociais pessoais, os jogadores tiveram uma postura firme e se mostraram veementemente contra o conteúdo do vídeo. NinjaZ acredita que essa atitude foi essencial para todo o time.
"Não era só o time que não concordava, então tinha membros da staff que ficaram revoltados. Eles deram total liberdade para nós postarmos o que quiséssemos e realmente (o vídeo) não era o que a gente concordava. Quisemos deixar isso bem claro para quem vê de fora porque acabam vinculando a imagem da organização com os jogadores e achamos importante conscientizar todo mundo".
Posteriormente, a Arctic afastou o CEO Marco Castellari e o sócio e diretor de marketing Jorge Alves. Por conta da separação da INTZ, a Arctic perdeu pontos no ranking que classifica ao CBCS Finals, torneio mais importante do circuito.
Mesmo com a dedução, ninjaZ se mantém confiante que a Arctic pode se classificar para o CBCS Finals.
"Tínhamos praticamente a vaga encaminhada para o Finals, agora não sei como vai ser, mas estou até tentando não pensar muito nisso. Estamos tranquilos porque ainda temos os pontos (que vamos ganhar) do Masters. Acredito que se formos campeões vamos conseguir a vaga, que é o principal campeonato do circuito que estamos almejando", finalizou.