Não é só CS: IEM Katowice também é "casa" de maior brasileiro do StarCraft
Jogadores como Gabriel "FalleN" Toledo e Marcelo "coldzera" David já disputaram a IEM Katowice em seis oportunidades, mas tem um brasileiro que não fica atrás - mas em vez de balas, ele distribui unidades. Trata-se de Diego "Kelazhur" Schwimer, o principal jogador de StarCraft II da história do Brasil.
Kelazhur já disputou seis edições da IEM Katowice. A primeira foi em 2018 e a última agora, em 2024 - o resultado, porém, não foi dos melhores, com o brasileiro saindo na lanterna do Grupo B e terminando na 21-24ª colocação.
"Eu cometi erros que, com 9 anos de StarCraft, eu não deveria ter cometido. Faltou confiança, fiquei duvidando das minhas estratégias por nenhum motivo. Foi um leve problema psicológico nesse evento que eu espero que não aconteça de novo", disse Kelazhur em entrevista à Dust2 Brasil.
O jogador de 28 anos contou que vive um momento de transição na carreira. Morando na Holanda e recém formado em um curso de International Business, Kelazhur não sabe se seguirá competindo nos próximos campeonatos - e uma carreira de 9 anos está próxima de chegar ao fim.
Os diferentes da LAN
Kelazhur, assim como muitos dos jogadores brasileiros nascidos nos anos 90, começou sua carreira nos games nas lan-houses. Ele e seu irmão eram os "diferentões", que optavam por jogar StarCraft enquanto o restante do pessoal focava no Counter-Strike e no DOTA. Uma nova versão do jogo saiu em 2010, e foi aí que Kelazhur começou a se destacar.
"Depois de uns 2 ou 3 anos eu cheguei no nível mais alto do jogo, o Grão Mestre. Foi mais ou menos nessa época que eles anunciaram um circuito mundial com duas vagas, e só de se classificar para uma dessas vagas tinha um prêmio de 4 mil e 500 dólares, o que para um brasileiro era insano, ainda mais para mim que estava no ensino médio. Eu sai do meu trabalho, eu era recepcionista de hotel, e comecei a treinar StarCraft II. Meu irmão me apoiou bastante, consegui me classificar para uma dessas vagas e aí a carreira decolou profissionalmente", relembrou.
"No começo era bem difícil, porque os jogadores latinos eram poucos, muito menos brasileiros. Além de mim só tinha um outro Grão Mestre. No StarCraft II é semelhante ao CS. Você pode ser Global, mas não está nem perto de ser um jogador profissional. Você tem que ser o top do top do Global, level 20 da GC", explicou.
Anos de ouro
De acordo com Kelazhur, seu auge da carreira aconteceu entre 2015 e 2017, quando ele se mudou para os Estados Unidos e começou a ter acesso a treinos contra adversários mais bem qualificados no servidor norte-americano, sul-coreano e europeu, mesmo com uma diferença de ping.
"Naquela época era complicado, porque ainda existia um abismo entre jogadores não coreanos e coreanos, e hoje em dia esse abismo é bem menor, principalmente com os europeus, que batem de frente, e nas Américas também conseguimos trocar bem. Naquela época você ficava feliz se conseguisse tirar um mapa deles. Era complicado. Eu estava mais focado em bater de frente com os europeus, o que já era bem difícil", relembrou.
Na América do Sul, Kelazhur também tinha um grande rival, Juan "SpeCial" Lopez, com quem o brasileiro travou uma série de batalhas em decisões de Copa América e competições locais.
"Para mim ele foi a primeira meta, o primeiro obstáculo a ser batido. Comecei a morar na Califórnia em 2015 e só consegui derrotar ele no Regional no fim de 2016. A partir disso foi uns 2 ou 3 anos para bater constantemente contra os europeus", disse.
Trabalho dobrado
Depois de duas temporadas, Kelazhur sente que começou a cair de nível. Em 2018, ele se mudou para a Holanda para estudar o curso do qual se formou recentemente, o de International Business. Sem muito tempo para treinar, foi ficando para trás e, posteriormente, conseguiu um estágio na Team Liquid. Depois de um tempo trabalhando na sua área de formação dentro da organização, recebeu um convite para compor o elenco de StarCraft II.
"Fui contratado como jogador mas não estava treinando em tempo integral, então em termos de salário e dinheiro de premiação era bem pouco. Nesses anos eu fazia em média 12 ou 13 mil dólares de premiação, basicamente um salário mínimo na Holanda", explicou o jogador.
"Hoje em dia, no StarCraft II, se você não é o Serral, o Reynor, os caras que estão ganhando campeonatos grandes, de 150 mil dólares, aí você está na minha posição, que é jogar 4 ou 5 campeonatos por ano, tentando fazer o que dá", explicou.
Sem arrependimentos
Hoje em dia, mesmo com o apoio da R8 Esports, Kelazhur ainda não consegue se dedicar integralmente ao StarCraft. O jogador inclusive está em vias de se aposentar - ou fazer uma transição -, já que busca um emprego na sua área de formação. Kelazhur não esconde a frustração por ter que deixar o jogo, mas também é grato pelo que alcançou.
"Se não fossem aquelas duas vagas que eles deram para América Latina no começo é possível que eu nunca teria me tornado um profissional. Desde então eu disputei mais de 100 torneios presenciais, viajei o mundo todo, consegui bancar minha própria faculdade fazendo algo que eu amo. Não tem como eu me arrepender disso", contou.
"Por outro lado, eu gostaria de ter feito mais, inclusive nesse campeonato, que tive um resultado terrível, e é algo que afeta bastante meu psicológico. Eu tento ver as coisas pelo lado positivo. O lado bom do StarCraft II, na minha opinião, é que não é um jogo de time. Nunca é um eterno fim. Posso estar trabalhando, mas posso decidir jogar um campeonato online, não preciso arrumar quatro caras para jogar comigo, treinar e coordenar tudo, porque é uma coisa que depende só de mim mesmo", explicou o jogador.
Antes de se aposentar, ainda dá tempo de um "last dance" na Esports World Cup, que será disputada na Árabia Saudita no meio do ano? Kelazhur não perde a fé.
"Esse é o objetivo. Eles anunciaram a forma de qualificar, é bem difícil, eu estava bem esperançoso porque em termos de pontos ainda estou em segundo nas Américas, mas eles só deram uma vaga. É difícil alcançar essa vaga, então, para eu conseguir qualificar, vou ter que tirar um milagre aí. Mas, com certeza, não é impossível. Qualificar para cá já era extremamente difícil e eu consegui, então é possível que eu consiga", disse.
Memórias e mil e poucas horas
O jogador esteve em Katowice por seis vezes entre 2017 e 2024. No calendário do StarCraft II, o evento era, até pouco tempo atrás, o mais importante.
"O jeito que você pode ver o que Katowice significa para o StarCraft é que, basicamente, ele é o mundial. É como se, no CS, você só tivesse um Major. Esse é o nosso Major. O fato é que isso mudou esse ano, vamos ter um mundial de verdade na Arábia Saudita, mas mesmo assim não deixa de ser o segundo maior torneio do ano, com meio milhão de premiação", disse Kelazhur.
"É o sonho de todo jogar ir bem nesse campeonato, e infelizmente é uma coisa que não aconteceu para mim. Tive bons anos aqui, consegui avançar várias rodadas, mas infelizmente nunca consegui chegar nos playoffs. É uma disputa muito acirrada. É o evento que todo jogador de StarCraft se prepara o ano todo para ir bem", continuou.
Mas isso não impede o brasileiro de ter boas memórias da IEM Katowice. E elas envolvem o Counter-Strike também.
"Em 2018, lembro que assisti a um jogo deles (dos brasileiros) na arena. Eu acabei encontrando com o boltz, eu reconheci ele, ele me reconheceu, e foi bacana. Era uma época que eu gostava muito de CS, foi uma memória bacana para mim", contou.
Kelazhur disse que ainda não jogou muito CS2, mas se divertiu bastante no CS:GO.
"Nessa época eu jogava muito CS:GO. Devo ter umas mil e poucas horas. Não é tanto quanto muita gente no Brasil, mas é o suficiente para entender o que está acontecendo. Ultimamente, nesses anos, não tive muito tempo para jogar. Joguei só umas duas ou três partidas de CS2. É uma coisa que eu sinto falta e talvez eu baixe de novo para dar uma olhada", finalizou.