MIRA JOVEM: ujliana lamenta início precoce no CS e conta que largou escola
Só com 19 anos, Juliana "ujliana" Scaglioni já tem uma carreira com momentos de altos e baixos no CS:GO. Competindo desde nova, a jogadora hoje na w7m já trocou o FPS da Valve pelo Valorant, desinstalou o jogo, ficou afastada do competitivo e até largou a escola para focar no FPS.
"Não sei se me arrependo, se tomei a decisão certa, porém larguei tudo quando voltei pro CS. Eu não tinha vontade de estudar, tinha treino exaustivo à tarde e não queria acordar e pegar ônibus para ir à escola. Teve uma época que larguei a escola e até hoje não terminei. Vou terminar esse ano", contou em entrevista à Dust2 Brasil.
O desejo por ter um foco cada vez maior no CS:GO foi criticado pelos pais de ujliana, que tentaram convencer a jovem a retomar os ensinos. No entanto, ela seguiu com a convicção de que não conseguiria combinar ambas obrigações.
"Minha mãe me cobrou, meu pai me aconselhava para não desistir da escola, mas minha mãe quem ficava mais incomodada com isso. Vi que não conseguia seguir, fazer as duas coisas. Para mim era inviável manter uma rotina de atleta, tentando ter uma alta performance, e conciliar com a escola".
ujliana é a oitava de doze entrevistadas do MIRA JOVEM, uma série promovida pela Dust2 Brasil e GG.BET que vai contar a história de promissores jogadores e jogadoras do cenário nacional de CS:GO.
Durante a conversa, a profissional da w7m relembrou os primeiros contatos com os jogos desde criança, começo precoce na carreira e seu objetivo com a equipe.
Nerd se faz em casa
Seria quase que impossível que ujliana não se envolvesse no mundo dos jogos, mesmo que de forma casual. Com um pai "sonysta", apelido dado aos fãs da Sony, ela conta que desde nova sempre teve Playstation em casa - e aí já começou a pegar gosto pelo FPS.
"Sempre tive contato, eu e meus irmãos crescemos no meio de jogos. Tínhamos o PC da casa, meu irmão mais velho tinha um computador e revesávamos. Meu pai, por ser nerdão, criou vários nerds. Meu irmão me introduziu ao CS, então dentro de casa sempre tive essa influência por conta do meu irmão Gustavo e meu pai Flávio".
"Cresci jogando CoD, Battlefield e Black. Sempre joguei jogo de história como Resident Evil, Skyrim, mas depois que conheci CS... Tem a questão da repetição. Sempre fui muito competitiva, e com a repetição você vai ficando boa, principalmente quando começa muito nova. Me coloca para chutar uma bola com dois anos, que com 18 estarei muito boa. Me encontrei no FPS e criei memória muscular desde nova", continuou.
Estar em um ambiente antenado aos videogames também foi importante na formação da personalidade de ujliana. Por ser competitiva desde nova, os churrascos de família se tornavam um local de disputa contra o irmão.
"A gente disputava no Guitar Hero, Dragon Ball. Era legal porque isso cresceu na família, então quando tinha churrasco a gente se juntava na sala e ficava jogando Guitar Hero, ou joguinhos de luta. Fomos crescendo e, quando entra na adolescência, você fica um porre e quer ficar mais no quarto. Ganhei um PC, foi cada um ficando mais no seu canto. Porém antes era algo competitivo e isso moldou minha personalidade por estar sempre competindo dentro de casa com meu irmão".
Macaquinha de imitação
Irmã mais nova, ujliana era a macaquinha de imitação que ficava colada no irmão Gustavo e queria fazer tudo o que ele fazia. Foi nessa que ela conheceu mais o CS e deixou o Minecraft de lado.
"Meu irmão jogava CS 1.6 em LAN, eu ia com ele, sempre ficava como a sombrinha do Gustavo. Até hoje em dia ele é meu melhor amigo. Eu era um porrezinho porque queria fazer o que ele fazia. Nossa diferença é de 4 anos, mas ele sempre foi paciente comigo. Na época jogava Minecraft, não queria trocar tiro, só jogar meu PVP no Mine. Um dia parei para ver ele jogar,, ele perguntou se eu queria jogar e topei".
"Não sabia fazer nada, era muito ruim, só que ele me ensinou, abriu o aimbotz e foi até um momento fofinho porque ele botou a mão em cima da minha e me ensinou a dar spray. Comecei a achar legal, jogava só mata-mata ou aimbotz no meu notebook porque rodava muito mal. Tinha uns 11 anos e comecei a criar muita memória muscular porque o Gustavo me ensinava e ficava do meu lado para me ensinar a atirar bem", adicionou ujliana.
Já pensou?
Conforme os anos se passaram, ujliana ganhou um computador e deixou de jogar só mata-mata e aimbotz. Ela passou a jogar matchmaking e começou a subir de patente.
Inicialmente sozinha, ujliana lembra que sua boa mira surpreendia alguns companheiros de equipe - efeito, de acordo com ela, da memória muscular fruto dos treinos de mira. Assim, ela passou a jogar com um novo grupo de amigos, e um deles lhe fez a pergunta que lhe abriu os olhos.
"Conheci a GC, fui upando de level, via os vídeos do FalleN, e nisso perguntaram: "Já pensou em virar profissional?". Nunca tinha considerado isso, no entanto já via as partidas do time da showliana que dominou o Brasil, e percebi que dava pra ser profissional. Então comecei em um fake, jogamos Liga Feminina e me destaquei", lembrou a jogadora.
Por mais que só quisesse "trocar uns tiros e dar risada", ujliana considerou a possibilidade de ser jogadora profissional e passou a se dedicar mais. Foi, então, que recebeu sua primeira grande oportunidade. No entanto, o conto de fadas hoje é uma lamentação para ujliana.
"Comecei a me destacar na Liga Feminina e depois recebi um convite na Steam da santininha e da fly. Já as conhecia, me adicionaram e aceitei. Elas me chamaram para um projeto que foi meu primeiro time profissional e foi aí que pensei "vou jogar né, da hora". Só que não levava muito à sério por ter mente de criança, ainda era muito nova".
"Fico um pouco chateada por ter acontecido algumas coisas em uma idade tão nova, sinto que tive pouca supervisão em relação aos meus pais, eles foram tão legais comigo que sinto que perdi uma oportunidade. Era tão nova que não tinha noção de nada e talvez se tivesse uma cabeça mais adulta, começado mais tarde, talvez tivesse ido por um caminho melhor", lamentou ujliana.
Ensino de lado
Cada vez mais certa que queria jogar CS:GO profissionalmente, ujliana avaliou que não conseguiria conciliar a carreira no FPS com a escola. Mesmo com resistência por parte dos pais, ela conta que largou os ensinos e hoje, com 19 anos, busca finalizar o Ensino Médio.
"Esse esporte é repetição. Então, na minha opinião, não conseguiria ir pra escola, fazer faculdade ou trabalhar de manhã e jogar. Mal consigo fazer tudo que quero no jogo, só tendo isso como minha profissão. São muitas horas, muito puxado, horários absurdos porque tem campeonato que acaba de madrugada. Me senti muito mal por ter tomado essa decisão (de largar a escola), mas sei que tem meios como o Encceja para terminar o médio e depois pensar em faculdade".
"Falar sobre isso é bom porque sempre me senti muito culpada. Quando saio com uns amigos aqui na cidade, todo mundo está na faculdade, enquanto estou trabalhando. Recebendo salário e tal, maneiro, porém com vergonha por não ter terminado (a escola), mesmo sendo uma escolha. Este foi o único empecilho que tive com meus pais, de resto tive muito apoio", continuou ujliana.
Se arrependimento matasse
A lamentação de ter começado a carreira ainda muito nova é também uma grande questão para ujliana. A jovem lembra que, por ainda ter uma mentalidade infantil, enfrentou muitos problemas internos no time.
"Receber um salário tão nova, em um meio que as pessas são mais adultas, me levou a cometer alguns erros. Sinto que não soube lidar com certas pressões e cometi erros no começo da minha trajetória. Meu começo não foi bem aproveitado, queria ter feito algumas coisas diferentes", comentou.
Estes problemas resultaram em adversidades dentro da equipe, que afetaram o psicológico de ujliana. Abalada com a situação e cada vez mais em "um buraco bem fundo", ela decidiu dar uma pausa na carreira e ficou um ano sem jogar CS - tanto casualmente quanto profissionalmente.
"Alguns conflitos dentro do primeiro time pegaram muito no meu psicológico, despertaram ansiedade, fiquei um pouco deprimida na época. Eu estava me sentindo muito mal, entrei em um buraco bem fundo então percebi e vi que não dava para continuar quando tinha uns 15 anos, então decidi parar, desinstalei o CS, foi uma experiência bem ruim tudo o que vivi nessa época. Algumas coisas culpa minha, outras porque ainda era muito nova e talvez as pessoas não percebiam isso".
"Não joguei mais nada, peguei e falei "vai se foder". Fiquei (neste período) só focando em mim, cuidando do meu mental e botando a cabeça no lugar. Definindo prioridades também para encontrar um caminho", seguiu ujliana.
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Depois que avaliou que estava apta para retornar ao CS:GO, ujliana teve oportunidades em equipes como a Soberano e a Liberty. Depois de alguns meses na Liberty, surgiu a oportunidade de ir para o Valorant - esta, que também é uma ponderação que ujliana faz sobre sua carreira.
"Assim que o time estava começando a ficar bom veio o Valorant... e é foda... fico pensando se não tivesse ido, será que seria diferente? Se ficasse no CS, não teria perdido tanta coisa? Fiquei inativa por muitos meses, foi algo bem negativo para minha carreira no jogo, mas foi uma experiência legal".
"O cenário (de Valorant) já estava muito consolidado quando fomos e começamos do zero, era um pouco complicado e difícil dizer que ia dar certo. Porém foi algo diferente que tentamos, aprendi muita coisa em questão de mentalidade que somou muito para minha vida, sair da zona de conforto. Foi uma experiência...", adicionou.
De volta e com casa nova
Cerca de um semestre depois de migrar para o Valorant, ujliana voltou ao CS:GO em busca de uma nova equipe. A jogadora lembra que se surpreendeu com o interesse das equipes nela, já que vinha de um outro FPS, e celebrou o acordo com a w7m.
"Foi interessante porque logo de cara surgiram algumas oportunidades. Foi legal ver que fui desejado por vários projetos, lineups legais, no entanto sempre tinham o pé atrás por estar inativa e voltando do Valorant. E hoje estou em um desses projetos de line que eu via como muito interessante. Saber que as pessoas ainda viam algo em mim no CS foi legal", celebrou.
ujliana fez parte da reformulação da w7m, que contratou a ex-FURIA Mariana "mari" Prestes e a ex-MIBR Beatriz "hera" Silva, trio que se juntou às remanescentes Bruna "brunakiller" Bonfati e Samara "Samys" Ferreira. Em um time de boa sintonia, ujliana fala da possibilidade de sair da zona de conforto e como o time precisa se acertar para alçar voos maiores.
"Desde o início, quando soube dos nomes no projeto, fiquei muito animada. É um time que tem muita mira, individual muito forte. Fiquei bem animada para encabeçar esse projeto, até virei awper para me tirar dessa zona de conforto porque temos muitas riflers boas. Estou bem animada. E a w7m me surpreendeu muito, é uma organização muito boa e com um suporte super positivo".
"Sou uma pessoa pé no chão. O projeto está muito bom, no papel está ótimo, mas estamos em um processo meio turbulento ainda, alguns resultados instáveis, um jogo bom, outro ruim. Estamos trabalhando para nos estabelecer, temos noção disso, estamos trabalhando muito principalmente para essa GC Masters que é nosso grande objetivo", seguiu ujliana.
Além do CS
Fora do servidor, ujliana almeja fazer o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) para concluir o Ensino Médio e, assim, poder considerar fazer faculdade. No entanto, o Ensino Superior não está entre os primeiros planos da jovem.
"Gosto de tudo planejadinho na minha vida, do plano A, B, C, até o Z, então quero terminar o médio e deixar aberto para o ano que vem. Se continuar na w7m, perfeito, porém vou ter um plano B. Caso eu não vá seguir, vejo se recebo proposta de algum time da hora, porém no pior dos casos quero ter essa opção de faculdade".
"Talvez eu faça stream nas horas vagas porque CS é meu sonho, meu sonho de vida é me consolidar nesse jogo. Eu treino, falo e consumo ele. É tipo um ex abusivo que você larga mas depois volta. Eu não almejo entrar na faculdade porque quero jogar, ganhar, ir pra mundial, viajar, viver experiências pelo jogo. Eu já vivi muitas, sou muito grata, porém quero mais. Eu sou apaixonada por esse jogo e quero sentir que tudo que eu fiz, me sacrifiquei, fazer valer à pena", finalizou.