kakaveL explica opção da LOS por América do Norte: “Não existe CS no Brasil”
Depois de nove meses de hiato, a LOS está, oficialmente, de volta ao Counter-Strike. Um dos sócios da organização, Alexandre “kakaveL” Peres diz ser “um cara muito pouco emotivo”, nem mesmo quando seu time está de volta à modalidade em que o empresário surgiu para o mundo dos esports. Mesmo assim, há um lado dele feliz com a correria das últimas semanas.
“Foi uma parte meio morta do ano, ficamos com estrutura, que não é barata, parada durante oito meses. O baque de não ter o CS foi muito grande. Eu sempre vou estar feliz de estar em uma modalidade nova, em montar uma equipe nova, trazer pessoas novas para trabalhar com a gente”, disse em entrevista à Dust2 Brasil direto da casa que sedia a LOS em Las Vegas, nos Estados Unidos.
kakaveL passa parte do ano no país e estava preparando os detalhes finais para receber seu novo time, que chegou nesta sexta-feira para disputa da seletiva aberta norte-americana do PGL CS2 Major Copenhagen. Foi o próprio empresário quem formatou os computadores que serão usados na disputa.
“Eu gosto de trabalhar, pôr o pé no chão e fazer as coisas acontecerem. Fico feliz de ter a oportunidade de fazer isso e, mais uma vez, aprender. Toda vez que você vai montar um time novo você está aprendendo. Nos últimos dois meses, eu praticamente montei dois times do zero, tanto de CS quanto de LoL. Foram dois ou três meses extremamente cansativos, mas gratificantes”, completou.
O novo time é totalmente diferente daquele que defendeu a organização em seu último compromisso, o RMR americano do BLAST.tv Paris Major. A nova escalação é liderada por Paulo “short” Ballardini, que estava livre, e conta com Allan "history" Lawrenz e Henrique "t9rnay" Menacho, emprestados pelo Fluxo; Jhonatan "JOTA" Willian, emprestado pela Imperial; Leonardo "leo_drk" Oliveira, comprado junto à Case; e o treinador Jhonatan "jnt" Silva, que exercerá a função pela primeira vez na carreira.
Em quase uma hora de entrevista, kakaveL, falou sobre a montagem do elenco, o uso da marca Team One, a opção por jogar na América do Norte e mais. Confira os principais trechos em texto e o vídeo, na íntegra, no topo da matéria.
Acelerando
Outro sócio da LOS, Rodrigo Terron já havia afirmado que o time voltaria ao Counter-Strike no início do ano. E foi no ano passado, às 22h30 da véspera de Natal, mais especificamente, que o martelo sobre a escalação foi batido. kakaveL disse que não queria fazer nada na correria.
“Na minha visão de gestor e team builder não fazia sentido montar um time sem entender como seria o jogo novo, como as peças iam se encaixar, se teríamos muita mudança de dinâmica. Ainda não há uma certeza sobre isso, mas, durante esse tempo que o CS2 está no ar, estamos estudando o cenário, e, neste momento, vimos algumas boas alternativas e resolvemos montar o time, que sairia entre janeiro e fevereiro. Como tivemos alternativas já em dezembro, resolvemos dar uma acelerada no projeto”, disse.
kakaveL conta que o plano inicial era ter um time com a base formada por Alencar “trk” Rosatto e Mateus “supLex” Miranda, mas as conversas acabaram tomando outro rumo. O principal alicerce acabou se tornando jnt, que procurou o veterano para falar sobre a montagem de uma nova equipe. Com medo de perder o treinador para outras equipes, a LOS começou a acelerar o processo.
“(O treinador) foi um grande problema que eu tive desde a saída do chucky. Ter essa peça de confiança que entendesse bastante do jogo, que fosse boa de lidar e tivesse uma capacidade de gestão de grupo boa”, disse kakaveL.
Dali em diante, as coisas começaram a clicar. Desejo antigo de kakaveL e terceiro nome do que o diretor considerava a base ideal, JOTA, também se interessou pelo projeto.
“O JOTA chegou a ser contratado na época que ele surgiu no Santos, mas, infelizmente, não conseguimos tirar o visto dele”, relembrou.
“Quando surgiu a possibilidade de ter o JOTA, eu troquei uma ideia e ele animou com essa base (de trk e supLex), e começamos a estruturar, sem muita correria, porque eu queria entender como o mercado ficaria, se teríamos peças boas o suficiente para terminar essa montagem”, continuou.
kakaveL explicou que a ideia era de que JOTA assumisse o papel de capitão, mas que, com pouco tempo para as seletivas do Major, era melhor ter o ex-Imperial num papel mais confortável. Aí surgiu o nome de short, que já havia sido procurado pela LOS no primeiro semestre, quando a organização montaria uma equipe com seus remanescentes e Lucas “lux” Meneghini, hoje na paiN.
O diretor se acertou com short, que chama de “grande talento”, mas ressalta que o jogador “é uma peça a ser trabalhada”.
“Uma das maiores dificuldades que temos no Brasil é de produzir essas duas peças: o capitão e o treinador. Da mesma forma que o jnt tem muito potencial e muito talento para ser esse cara, ser a cabeça de uma equipe, o short também tem. Você pegar ele e colocar num grupo que já tem a cabeça formada, já tem um estilo de jogo e muita coisa, dificilmente vai dar certo. Acredito que seja o problema que ele teve na Paquetá”, disse.
“Na montagem do grupo, uma das coisas que mais conversamos foi que ele precisaria desse espaço, precisaria ser vocal, e que o time não poderia ser tão 'intrometido', que todo mundo teria que ter voz mas que ele seria a voz mais alta. Mas, com certeza, ele tem muito a aprender. Dentro dos nomes que temos no Brasil, acredito que ele é a peça mais preparada para ser o capitão do futuro”, continuou.
Com short assegurado, o nome de history pipocou e agradou JOTA, formando uma nova base para a equipe.
“Tendo a possibilidade de trazer o history, não fazia muito sentido tocar a negociação com o supLex. Virou uma partida de xadrez, movimentei algumas peças e deu certo”, contou.
Do Fluxo também veio t9rnay, que, de acordo com kakaveL, “sempre esteve nas conversas”. Destaques em seus clubes em 2022, nenhum dos dois jogadores teve sucesso em duas diferentes escalações do Fluxo ao longo da última temporada - na LOS, a expectativa é que isso seja diferente.
“Falar que vai ser diferente é profetizar o futuro. Eu espero que seja diferente. O que eu acredito, vendo de fora, é que no cenário de CS, assim como no esporte em geral, são poucas as pessoas que têm capacidade e sabem como trabalhar novos talentos. Os dois tiveram o mesmo problema, foram colocados em times com estrutura e esqueleto muito bem definidos, com pessoas que tinham vozes bem definidas. Na hora de tomar decisões, de falar, o jovem é precipitado, imaturo. Pode ser que eles não tenham conseguido, nesses grupos mais fechados, conquistar seu espaço. Eu vejo que os dois foram afastados do grupo porque pegaram grupos fechados”, disse.
“Quando você vem para um grupo novo, que tem que construir tudo do zero e todos tem que ter voz, eles vão ter espaço para colocar o que pensam, e também vão ter o jnt, e eu também quero ficar próximo, para falar se estão sendo afobados, se precisam escutar, se estão colocando algo do jeito errado. Eles não estão prontos para serem peças capazes de liderar e, talvez num grupo mais pronto, as pessoas querem essa peça. Essa montagem de grupo é difícil e é algo que fizemos a vida inteira na Team One. Sempre trouxemos novos talentos e demos espaço para eles. Todos chegaram e deram conta de desempenhar bem”, continuou.
A dúvida, então, ficou para o último jogador. O desejo era manter o plano original com trk, mas, com problemas médicos, o Golden Boy preferiu ceder seu lugar no time.
“Ele até foi liberado pelos tratamentos para poder voltar a jogar, mas ele ainda está sentindo incômodos, dores, e acha que não pode voltar no 100%, e aí não achou justo com o time ele fazer esse retorno”, explicou kakaveL.
A equipe passou a procurar outros nomes e chegou a fazer testes com Vinicius “vinnaBEAST” Santos, que defendeu as categorias de base no time, mas aí surgiu o nome de outro desejo antigo de kakaveL: leo_drk. No banco da Case e fora dos servidores desde fevereiro de 2023, virou prioridade. O dirigente reconhece que a falta de ritmo pode prejudicar o jogador, e estende esse problema ao time todo, mas diz que a equipe terá tempo para trabalhar e se desenvolver.
“Eu não posso ser leviano e falar que esse time está pronto para chegar amanhã, jogar e ser o melhor time. Todos estavam parados. O leo_drk fevereiro, o history maio, o t9rnay setembro, o JOTA outubro, o short também está parado há muito tempo. Todos estavam parados há muito tempo, mas tem conhecimento de jogo, todos tem sua habilidade e não pararam de jogar, fazer lives, FPL. O contato com o jogo não sumiu. Eu acho que estamos montando um projeto novo, e temos que tratá-lo assim”, completou.
Contrato curto, projeto longo
O projeto é novo, a ideia é que ele dure por um longo período, mas os contratos são curtos. Dos cinco novos reforços, três estão emprestados - history, JOTA e t9rnay -, sendo dois deles por seis meses e um, não revelado, por três. A LOS tem preferência de compra em todos os acordos. short e leo_drk têm contratos em definitivo, mas eles também só vão até junho.
“No momento de montagem de um time, onde você não tem certeza nenhuma, eu tentei ser o mais assertivo possível. Quando você tem jogadores no banco, como é o caso dos três, e até do leo_drk, eles têm um valor de mercado que não é condizente com o seu potencial, então os próprios times não tem tanto interesse em vendê-los”, explicou.
“Eu não tenho capacidade de chegar a uma organização parceira e fazer uma proposta que eu não gostaria que fizessem para mim, o que já aconteceu várias vezes. Eu fui direto nas organizações e fiz a proposta que eu gostaria de escutar se eu tivesse um atleta no banco”, contou o diretor, que elogiou Otávio Roichmann, gerente do Fluxo. e Felippe Martins, CEO da Imperial, na viabilização dos empréstimos.
Apesar dos contratos curtos, kakaveL reforçou em vários momentos que o desejo é de um projeto a longo prazo.
“Tenho convicção de que o grupo vai desempenhar muito bem, se encaixar muito rápido, e vamos conseguir efetuar as compras dos jogadores e ficar com eles em definitivo”, reforçou.
Não existe CS no Brasil
Nos Estados Unidos desde 2018, kakaveL é um defensor ferrenho do cenário norte-americano, mesmo em momentos de baixa, como o atual. O time, assim como sempre foi com a Team One desde a mudança, vai ter como base os Estados Unidos, permanecendo na casa da organização em Las Vegas. A decisão foi, mais uma vez, criticada pelo público, mas o mandatário se defende de maneira enfática.
“Já falei isso várias vezes. Em 2018 eu tomei a decisão de mudar do Brasil e internacionalizar a marca, e acho que fomos extremamente bem sucedidos nesse ponto”, afirmou.
“Para mim não faz sentido ter um time de CS no Brasil. Me perdoem quem está aí, qualquer outra organização, mas não existe CS no Brasil. Existem vários atletas se desenvolvendo, times ficando bons, mas não existem torneios, premiações, logística, muitas coisas”, cravou.
kakaveL ressalta que a estrutura montada em Las Vegas é de ponta, perdendo apenas para as instalações da FURIA entre os times brasileiros. O mandatário afirmou que não poderia ceder as mesmas condições para os jogadores no Brasil, e reforça que não tem o desejo de voltar o time ao país.
“Não tem porque eu desmontar tudo que está montado para começar algo em uma região que não existe. A região brasileira não existe. Pode mudar com o CS2? Pode. Mas, na minha visão, tivemos de queda na América do Norte pós pandemia, com a saída dos times daqui, mas com o CS2 isso vai voltar. É a visão que eu tenho, porque estamos falando do país da maior economia do mundo. Estar nos EUA, para qualquer modalidade, é muito melhor que estar em qualquer lugar do mundo. A Europa é muito mais competitiva, concordo, mas com o fim das franquias, os times começam a voltar para suas regiões, começam a investir novamente, e vejo a América do Norte evoluindo já no ano de 2024”, opinou.
A decisão de jogar dos EUA também foi criticada por uma pequena parcela da comunidade internacional, que acredita que a LOS está “roubando” vagas destinadas ao time dali. kakaveL reforçou o compromisso da equipe com a região, seguindo o trabalho que já era feito pela Team One.
“A primeira coisa que eu fiz quando começamos a conversar de remontar o time foi perguntar para o campeonato se poderíamos ou não jogar aqui. Já tivemos essas discussões no passado, com PGL e ESL. No ano passado, a ESL bloqueou outros times brasileiros de jogar aqui, mas não a gente. Nunca vim aqui para roubar vagas dos outros, até porque, quando viemos para cá, não existiam vagas no Brasil de quase nada, e tinham vários times disputando aqui as mesmas vagas que a gente. Nós tivemos autorização, somos uma organização americana, que está no cenário norte-americano desde 2018”, afirmou.
Team One, Los + oNe ou LOS?
Assim como a região, outro assunto que gerou polêmica foi o fato do time ter se inscrito como Team One e não como LOS, marca que adota desde junho do ano passado. De acordo com kakaveL, a marca a ser utilizada é a que fizer mais sentido para a organização naquele momento.
“No momento que trazemos um time de CS para os Estados Unidos, existem plataformas onde você já está cadastrado, existe uma HLTV onde há todo o histórico, então quando você vai fazer o cadastro dessa equipe no campeonato, você vai na plataforma, onde ele já está inscrito como Team One. Tem toda uma burocracia por trás que tem que ser respeitada”, disse.
Questionado se foi obrigado pela PGL a usar a marca para poder jogar na América do Norte, kakaveL se esquivou.
“A resposta da PGL é que FURIA e Team One são as únicas equipes que têm sede nos Estados Unidos. Como já tínhamos a inscrição no campeonato passado da PGL com essa autorização, naquela mesma plataforma, eu só peguei o mesmo time, troquei os jogadores, me inscrevendo de novo. Não criamos nada novo, só estamos seguindo o cronograma que seguiria se o time não tivesse desmontado”, afirmou.
O diretor, porém, afirmou que o time utilizará o uniforme atual da LOS e que, em caso de classificação ao Major, o sticker também terá o logo atual da organização.
Nada é impossível
kakaveL disse que não espera um time pronto no RMR e também que foi discutida até mesmo a possibilidade do time não jogar a competição e focar em outros objetivos. Nada disso, porém, faz com que ele desacredite de uma possível vaga no campeonato em Monterrey e, posteriormente, no PGL CS2 Major Copenhagen.
“Dá (para chegar em Copenhague). Nada é impossível. Temos boas peças, não sei se teremos tempo hábil para chegar no ponto, mas se conseguirmos ter aquela lua de mel de 1 ou 2 meses que todo time de grandes talentos tem, talvez surpreenderemos”, disse.
“E depois vamos ter que trabalhar dobrado para buscar o alto nível e se reinventar, mas estou confiante que depende só do nosso trabalho. Não sei se temos tempo o suficiente para fazer esse trabalho, mas, independente de tudo, se não conseguirmos para esse, chegamos como candidatos fortíssimos para o segundo, não tenho dúvida nenhuma”, finalizou.