
arT explica mudanças no Fluxo e diz o que falta para o time se estabilizar
Andrei "arT" Piovezan está no Fluxo há quase um ano e, neste tempo, a equipe passou por muitas mudanças. Em entrevista à Dust2 Brasilo jogador explicou o motivo das várias trocas na escalação nos últimos meses e também falou onde o time ainda está tendo dificuldade para se estabilizar entre os melhores do Brasil.
"Eu diria que isso (o motivo das mudanças) é uma soma de fatores. Não conseguimos encaixar 100% o time nas posições que queríamos. Quando o piria entrou, tentamos encaixar ele em algumas posições, e fomos transicionando ele para outras. Com isso, você vai mudando mais coisas no time e vai abrindo gaps, acha necessidades que você precisa buscar que não tem no time agora, e acontecem mudanças."
"O piria começou a fazer mais (posições de) âncora, eu mesmo comecei a pegar algumas funções mais de âncora, aí voltei para ser mais posição de star player, então fica meio esse troca-troca de função, porque não achamos essa identidade ainda. Os próprios jogadores não tem isso inserido neles, não sabem o que eles são ainda,eles estão achando essa função de forma definitiva, e esse trabalho não tem como você só olhar o cara jogar e falar, 'você vai jogar aqui', disse
"Vai do conforto dele,do que gosta de fazer, de onde é mais confortável, de onde vai fluir melhor. Esse processo realmente é tentativa e erro.Testamos em alguns campeonatos de um jeito, esperamos que vai dar certo, mas algumas coisas vão aparecendo que não é como gostaríamos. Então vamos lá, ‘pô, querem trocar de posição? Vamos testar?’ E aí você vai achando necessidades de troca de jogadoras até por questão de função", continuou.
arT explicou que a contratação de Matheus "mlhzin" Marçola para o lugar de Nicollas "nicks" Polonio foi por ele precisar de um jogador agressivo para jogar ao seu lado.
"O nicks é um jogador mais ancora, mais trader, mas já temos o piria que também joga nessa função. O mlhzin, como um jogador mais agressivo, entra com uma peça para tentar solucionar um pouco dos problemas que temos, me ajudar a fazer um pouco disso, para não ficar só nas minhas costas e eu poder escolher melhor as situações onde eu vou fazer esse entry, essa agressão, e também quando ponderar mais e ele ficar para trás e ser um trader, um closer, ou ajudar os moleques no situacional."
arT deixou claro que a função que mlhzin vai fazer não é fácil, e que o jovem de 19 vai ter muita pressão com o classificatório do Major chegando.
"Ter duas pontas orquestrando ao mesmo tempo é muito importante em todos os mapas, principalmente nos clássicos, como na Inferno, você tem dois blocos trabalhando simultaneamente o tempo inteiro, o bloco da B e o bloco da A. Ele entra como essa peça, mas, como sabemos, não é um trabalho fácil e é uma responsa muito grande para um moleque novo. Entra naquele ato de ser um processo em trabalho, em evolução, não é uma coisa setada na pedra, precisamos trabalhar isso e ver se o mlhzin está pronto já pra fazer isso. O Major está logo aí, ele precisa ter uma responsa, uma cabeça muito forte para poder fazer o trabalho que tem que fazer dentro da pressão que ele vai ter."
Além da contratação de mlhzin, o Fluxo recentemente também passou por mudanças no dono da AWP do time. No começo de janeiro, Romeu "zevy" Rocco foi colocado no banco de reservas, e Allan "history" Lawrenz voltou à equipe titular. Porém, no dia 23 de março, history voltou para o banco de reservas e zevy foi novamente para a lineup ativa. arT explicou essas mudanças.
"Estávamos precisando desses blocos mais dinâmicos, mais agressivos, e o zevy não é um jogador tão agressivo, talvez no passado, no CS:GO, ele era, mas no CS2 os awpers estão mais passivos, todos eles, sem exceção. Tivemos a oportunidade de testar o history, que estava no banco, e era um pouco mais agressivo. Essa foi a grande dinâmica da coisa, foi o teste que queríamos fazer, mas fica aquela coisa, sentíamos que os riflers precisavam ter esse impacto a mais e não os awpers. Testamos diversas formas de isso fazer acontecer e não sentimos que tivemos muito sucesso nisso, a nossa efetividade não foi como gostaríamos. O próprio Fluxo já postou sobre isso, foi até um pedido do jogador (history), que não estava tão confortável, com uma responsa muito grande."
"Agora vamos buscar com mlhzin essa mudança que precisamos e buscamos no awper, mas agora vamos buscar no rifle, que é até esse bloco mais dinâmico, é colocar ele em funções um pouco mais ativas, para dividir um pouco essa parte comigo. Fica ali um pouco eu, kye e mlhzin com essas funções mais ativas no mapa e deixar mais nas costas do zevy e piria como closers de round, de suporte e lurker. São esses os trabalhos que fizemos agora para buscar esse dinamismo, para ter a efetividade que queremos. No papel fizemos o que achamos que era certo. Vamos ter o teste agora na prática."
Mudança no estilo de jogo?
arT sempre foi conhecido como um jogador agressivo, principalmente quando era capitão da FURIA. Porém, o jogador disse que está mudando um pouco esse seu estilo de jogo para um que funcione melhor no Fluxo.
"Tenho esse perfil, ‘o jogador mais agressivo’, mas não é uma realidade tão grande atualmente. Quando entrei no Fluxo eu estava botando o pé na água ainda e aí com o tempo fui percebendo que não adiantava tanto ser agressivo porque a gente não conseguia finalizar os rounds com tanto sucesso. Geralmente a agressividade vem para você fazer uma kill rápida e poder realizar o round em cima disso, e aí eu percebi que nem sempre isso ficava tão fácil para os moleques, então senti que às vezes eu estando mais naquele meio termo ali fazendo o round mais trabalhados era um caminho mais sólido do que a fazermos algumas coisas ali, onde jogávamos mais no flow, no situacional, e criando situações para eles resolverem."
"Fui fugindo um pouco desse cenário que acontecia muito na FURIA, porque lá eu tinha jogadores que estavam acostumados a trabalhar assim, como o KSCERATO e o yuuurih,jogadores excepcionais fechando rounds. Também tinham jogadores que iam pegar situações que eu geralmente criava ou que na época, seja o VINI ou o drop, criavam e conseguiam fechar elas com muito mais facilidade. Até pela bagagem, pela experiência. Aqui estávamos com um pouco de dificuldade em relação a isso. Você não conseguia transformar os 3v3, os 4v4, ou às vezes ter aqueles 4v5 com vantagem situacional, vantagem de espaço ou até no bombsite, com cara a menos, então fomos transicionando", complementou.
Pressão no Major
Nos últimos anos o Fluxo não teve um bom desempenho quando o assunto é Major. Nos últimos dois mundiais, a equipe acabou sendo eliminada no closed qualifier sul-americano e não conseguiu se classificar nem para o RMR. arT confessou que sempre existe uma pressão r, mas que não acha que os resultados ruins nos últimos anos vão impactar o time.
"A pressão, quando se fala de Major, sempre está lá, independente de qual situação você esteja. Se você é a FURIA vindo jogar um RMR, ou se você é um time extremamente underdog vindo jogar um RMR, a pressão está dos dois lados. Não acho que os resultados anteriores vão impactar muito, até porque foi outra lineup, mudou bastante coisa desde então, muitos jogadores, ideologias, mindset, jeito de jogar, é um time bem diferente do que era antes. Esperamos que seja suficiente para conseguirmos exercer o que criamos e o que construímos desde então para esse Major, porque, quando se fala de Major, você tem que botar na prática, provar, porque dois confrontos podem fazer toda a diferença pra você qualificar ou não. Então são uma MD3 ou duas MD3 onde você tem que provar tudo o que construiu por meses", disse.
"É o que buscamos fazer,o que queremos. Um mapa mal jogado, esses detalhes, é o que vamos tentar punir ao máximo. É tentar tirar um pouco dessa pressão para poder jogar o CS que queremos jogar, mais solto, inteligente, sem tantos erros, sem ter dúvidas de si mesmo, então queremos jogar um CS mais sólido, consistente. O trabalho para isso vai começar agora com campeonatos como (o closed qualifier da PGL) Astana, o qualificatório da FiReLEAGUE também vai ser um ótimo playground para a gente botar em prática agora que zevy que voltou para a lineup. Vamos ver o que precisa ser feito e mudar para o Major, que é o nosso foco principal."
"(...)É até engraçado isso, porque um time ele é muito cobrado porque não tem mudança, o outro é cobrado porque tem mudanças demais, então realmente é difícil você agradar todo mundo, é difícil você acertar sempre, se você não muda você erra, se você muda você erra, então você fica tentando fazer o que é melhor pro time."
"Estamos tentando de todas as formas possíveis, mudando posição, jogador, mindset, ideologia, tentando tudo. Espero que vocês (torcida do Fluxo) enxerguem com bons olhos o que estamos tentando fazer, porque o objetivo é o mesmo, tanto pra torcida como para nós. O objetivo é que consigamos elevar o Fluxo para um patamar que não conseguimos ainda, que é consolidar a gente como um time tier 1 brasileiro. Futuramente poder disputar ali um tier 2 da Europa com solidez, e quem sabe um tier 1, que é um futuro ainda um pouco distante para nós. Precisamos jogar um CS melhor do que está sendo apresentado hoje, mas o caminho é esse. O caminho é pensar no dia de amanhã", continuou.
O que falta para o time ainda está com problemas
Aos 29 anos, arT é o jogador mais experiente do Fluxo. A equipe é composta por mlhzin de 19, piriajr de 22, zevy de 23 e kye de 20. O IGL disse que gosta de trabalhar com esses jogadores mais jovens, mas também afirmou que ainda falta eles terem uma "casca grossa", pois o Fluxo ainda está tendo dificuldade quando enfrenta os times tier 1 do Brasil em jogos decisivos.
"É uma coisa que eu gosto de ter, acho que o potencial do CS vem desses talentos novos. Uma coisa que sempre busco quando vamos contratar ou manter um jogador é esse possível talento, essa possibilidade de talento futuro.Óbvio que isso causa mais trabalho e faz com que o projeto seja um pouco mais difícil, mas, quando encaixa, traz muitos bons frutos. Muitos times têm seguido esse caminho, a paiN conseguiu fazer esse caminho muito bem feito, nós na FURIA, quando começamos também foi bem assim, muitos talentos novos não provados e aí, quando eles se provam, conseguem jogar por anos em alto nível e beneficia tanto o time quanto o cenário brasileiro. Ficamos só nesse impasse de conseguir achar os talentos, conseguir trabalhar eles, enquanto você ainda consegue ser competitivo e disputar oportunidades que é o que você quer."
"Não adianta você estar lá só construindo talentos e não conseguir transformar isso numa realidade. Esse é o trabalho que estamos fazendo agora, que é acelerar esse processo, já temos alguns meses com o piria e com o kye, e aí você começa agora a tentar fazer com que eles sejam jogadores mais casca grossa, chegam agora num campeonato e consigam performar com menos volatilidade, sob pressão, que é o que a vamos precisar agora para o Major. Conseguimos criar uma solidez dentro do cenário brasileiro. Onde mais estamos pecando é nos jogos mais decisivos contra os times tier 1 brasileiros, paiN, Imperial e agora a Legacy também começou a entrar nesse meio de playoffs no Brasil. Quando você fala desses times, nós não conseguimos exercer o mesmo que conseguimos durante os campeonatos", continuou.
"Acho que aí vem o grande X da questão. Por ter jogadores mais inexperientes e sem tanta responsabilidade, pesa um pouco mais nesse jogo, sobrecarrega alguns jogadores, então esse é o caminho que temos mais dificuldade agora. Conseguimos ter bastante sucesso em questão de estabilizar e criar uma certa consolidação, mas precisamos dar esse step up para quando pegar times com mais experiência, mais bagagem, consigamos performar de igual e performar como queremos performar, como esperamos que a gente consiga. É mais essa chave que temos que girar, é o que estamos buscando agora", explicou.
Leia também

