ANa durante o HLTV Awards Show em 2023

ANa responde críticas sobre contratação e status de melhor da história: "Sou humilde"

Jogadora comentou reações sobre transferência surpreendente, pressão por títulos consecutivos e revelou sonho de vir ao Brasil

A contratação do melhor time feminino do mundo pela Imperial surpreendeu o cenário brasileiro no último final de semana. Ana "ANa" Dumbravă, duas vezes eleita a melhor jogadora do mundo e candidata número um ao posto de melhor da história do cenário feminino, disse que temia a reação da comunidade, mas está feliz com as mensagens que tem recebido dos fãs brasileiros.

"Eu estava com um pouco de medo da reação das pessoas", disse ANa em entrevista à Dust2 Brasil antes de embarcar para as finais da 5ª temporada da ESL Impact League.

"Sei que eles me conheciam, conheciam meu time, tivemos essa rivalidade primeiro com a FURIA e mais recentemente com o Fluxo, e eu estava um pouco cética quanto a reação das pessoas, pensando que talvez elas não ficassem tão felizes com isso, mas estou feliz que eles nos mandaram emoções e mensagens positivas", contou.

Apesar da maioria da ter aplaudido a decisão da Imperial, alguns torcedores e membros da comunidade, como a jogadora Giovanna "Cara de Banana" Cimetta, criticaram a opção por um time estrangeiro em tempos que o Brasil tem uma série de jogadoras sem contrato. ANa disse estar ciente dos comentários e respeitar as críticas.

"Estou tentando não pensar muito nesse tipo de comentários. Obviamente, respeito a opinião de todos, as pessoas são livres para fazer comentários, não vou julgá-las por isso. Sei que é a primeira vez, pelo menos na cena feminina, que um time internacional se junta à uma organização brasileira, e eu, como jogadora, darei meu melhor para representar a organização e vencer troféus", disse.

"Se você é uma das melhores jogadoras, está em um dos melhores times, não deveria ser um problema entrar numa organização. Tanto nós como a Imperial estamos felizes, eles viram isso como uma oportunidade de crescer a cena feminina, de ter bons resultados. Para mim, pessoalmente, não vejo isso de um lado negativo, mas eu estava pronta para ver alguns comentários sobre isso", afirmou.

ANa também falou sobre a expectativa para viajar ao Brasil, a pressão pelos títulos consecutivos, a disputa das finais da ESL Impact League e seu status como melhor de todos os tempos. Confira a entrevista na íntegra:

Como foram as negociações com a Imperial?

Estou muito feliz que acabamos assinando com a Imperial, porque é um time muito popular, muito grande no Brasil e já conhecíamos eles antes mesmo de se juntar ao nosso antigo time. Não sei exatamente sobre as negociações, pois foi nosso treinador quem conversou com os chefes da Imperial. Mas vou contar uma história engraçada. Foi no HLTV Awards, em fevereiro, lembro que estávamos na recepção do hotel com a yungher, jogadora do Fluxo, a minha companheira ajudou ela com algo, acho que deu um vape para ela ou algo assim, e por ela nós conseguimos contatos de organizações diferentes, fizemos o primeiro contato com a Imperial pelo meu treinador. Desde então, meu treinador falou com eles, explicou nossa situação e disse que queríamos representar uma organização muito importante por conta de nossos resultados, nossos campeonatos.

Como tem sido lidar com os fãs brasileiros nos últimos dias?

Eu esperava (a reação), sabia que isso seria um aspecto positivo. Desde que entrei para o cenário da ESL Impact, jogando os campeonatos, sempre recebi comentários positivos e apoio da comunidade brasileira. Para mim foi um grande passo representar uma de suas organizações, vestir a bandeira dela, ir para campeonatos e espero vencê-los. Ir para o cenário brasileiro foi algo grande para mim. Desde que anunciamos publicamente, recebi muitas mensagens dos fãs me desejando sorte, fiquei feliz, estou muito grata. Mesmo no passado, a comunidade brasileira me deu apoio, é incrível.

Está animada para vir para o país e conhecer os fãs?

Era meu sonho desde que disputei a primeira edição (da ESL Impact) em Dallas. Se me lembro bem, estávamos na final contra a FURIA, e desde então conheci a comunidade brasileira, e todos me perguntavam quando eu iria para o Brasil, mesmo que eu não estivesse num time brasileiro, eles me perguntavam se eu viajaria para o Brasil, e nesses dois anos estive sempre pensando em viajar, ver a cultura, comida, o povo. Ter essa chance de ver o país é um dos maiores presentes da Imperial. Vamos ajudar a comunidade de CS e fazer coisas legais no país.

No Brasil vocês são conhecidas por sempre vencer os times daqui. É diferente ter toda essa rivalidade no servidor e agora ser parte da cena?

Eu estava com um pouco de medo da reação das pessoas. Eu sei que eles me conheciam, conheciam meu time, tivemos essa rivalidade primeiro com a FURIA e mais recentemente com o Fluxo, e eu estava um pouco cética quanto a reação das pessoas, pensando que talvez elas não ficassem tão felizes com isso, mas estou feliz que eles nos mandaram emoções e mensagens positivas. Me sinto bem, sei que a comunidade de CS no Brasil é grande, todos são apaixonados, respeitam os jogadores. Estou feliz de estar no lado brasileiro.

ANa (segunda da dir. para esq.) e as companheiras de Imperial (Foto: Divulgação/Imperial)

A maioria dos comentários sobre a transferência foram muito positivos, mas tivemos uma parte da comunidade que não gostou de ver a Imperial contratar um time estrangeiro enquanto há muitas jogadoras brasileiras sem organização. O que você acha desses comentários?

Estou tentando não pensar muito nesse tipo de comentários. Obviamente, respeito a opinião de todos, as pessoas são livres para fazer comentários, não vou julgá-las por isso. Sei que é a primeira vez, pelo menos na cena feminina, que um time internacional se junta à uma organização brasileira, e eu, como jogadora, darei meu melhor para representar a organização e vencer troféus. Se você é uma das melhores jogadoras, um dos melhores times, não deveria ser um problema entrar numa organização. Tanto nós como a Imperial estamos felizes, eles viram isso como uma oportunidade de crescer a cena feminina, de ter bons resultados. Para mim, pessoalmente, não vejo isso de um lado negativo, mas eu estava pronta para ver alguns comentários sobre isso.

O time fez sua primeira mudança em dois anos, com a entrada da zAAz no lugar da vilga. Como tem sido jogar com ela?

Eu conheço ela desde o começo da minha carreira há quase 8 anos atrás. Conheço as qualidades dela e a sua capacidade de melhorar no servidor. Eu tomei isso de um lado positivo. Sabia que ela seria capaz de se adequar ao time e performar (bem) conosco. Foi fácil porque ela tem essa experiência, foi fácil fazer as táticas, colocá-la na estrutura do time, e até agora tudo tem sido perfeito, não temos nada para reclamar. Eu gosto que ela é muito engraçada, ela me faz rir em vários momentos, tem uma energia boa que cerca o time. Isso é o que mais gosto.

E como tem sido jogar com a tori como capitã?

Eu fiquei surpresa de ver o quanto ela trabalhou desde que fizemos a movimentação e mudamos algumas funções. No começo foi difícil porque a tori não tinha tanta experiência. Também fizemos mudanças entre as jogadoras. Para mim foi fácil porque sou a awper, então não foram tantas mudanças em questão de estrutura. Mas eu fiquei impressionada porque senti que ela é muito capaz de liderar o time, ela tem as características perfeitas não só no servidor, mas como pessoa, ela tem qualidades boas de uma líder, é muito aberta a ouvir outras jogadoras, criar táticas e gosto muito disso em particular. Até agora tudo certo com as mudanças, com a nova jogadora, e tudo mais.

Está animada para jogar as finais da Impact em Dallas mais uma vez?

Claro, para todo jogador o maior sonho é ir para o palco, estar no servidor na frente do público, lutar por títulos. É a coisa mais animadora que você pode fazer. O mais importante é terminar com o troféu, ser a última a desplugar o teclado e mouse. Para mim, essa é a melhor sensação do mundo. Estou muito animada para o campeonato em si, acho que trabalhamos muito durante os últimos meses, especialmente com as trocas que tivemos, com as mudanças no CS também, com os mapas, as atualizações. Estou muito feliz, animada, acho que teremos partidas boas contra as equipes e espero que provemos mais uma vez que podemos vencer.

Vocês venceram os seis eventos que a ESL Impact teve até hoje. Existe uma pressão, um medo, de que esse sentimento vai acabar?

Para mim, ter pressão é algo humano, natural, e todo mundo, não só no CS, mas nos esportes, na vida cotidiana, todos estão sob algum tipo de pressão. Eu mesmo (me sinto pressionada), em rounds de muita tensão, situações importantes. Você tem essas emoções. Às vezes pode ser bom, às vezes pode se tornar ruim. Obviamente, nós ganhamos todos os campeonatos, tivemos bons resultados, mas eu acho que se você quer ser campeã, você não vai ser uma campeã com zero derrotas. Eu não ganhei tudo durante minha carreira, eu perdi também, eu derramei lágrimas, tive esse período na minha carreira, mas você aprende com isso, melhora, acho que você pode ser um jogador melhor a cada dia, individualmente e como companheiro de time. Toda vez que eu perco, eu ganho algo, eu tenho certeza que ganharei algo no próximo campeonato ou partida.

Vocês tiveram duas derrotas para a NAVI Javelins em campeonatos online no primeiro semestre. O que aconteceu?

Sabemos que elas são um grande time, com ótimas jogadoras, com capacidade de vencer os clutches, mostrar um bom CS, nunca subestimamos elas, nunca pensamos que eram ruins ou algo do tipo. Sempre tivemos em mente que elas eram boas, mas que tínhamos de ser melhores. Acredito que perdemos essas partidas porque não jogamos o nosso melhor nesses dias, cometemos erros cruciais na economia, na comunicação. Não foram nossos dias perfeitos de CS e elas foram melhores. E também é difícil para um time que está sempre ganhando jogar contra a mesma equipe 10, 14 vezes. Sabíamos que, em algum momento, perderíamos um mapa, uma partida. É humano esperar uma derrota em 20 ou 30 vezes que jogamos no ano. Foi dolorido, mas nós vimos aquilo como uma mensagem positiva e espero que nós consigamos reparar esses erros durante Dallas.

Jogadores do time feminino da Imperial (Foto: Jorge Abi/Imperial)

O que você aprendeu especificamente nesses dois jogos que você acredita que será importante para as finais?

Em termos de comunicação, não demonstrar emoções. Às vezes, nos jogos apertados, as emoções podem atingi-la e a comunicação pode ficar ruim. Por conta da pressão, você perde clutches, não ouve a tática ou esquece alguma granada importante. A maioria dos erros foi individual. Não acho que foram erros como time, acho que foi baseado na pressão, em não ter um dia bom, uma performance individual boa. Eu recebi aquilo como uma mensagem, uma lição de como melhorar, de como comunicar melhor, minhas jogadas, meus pós plants, esse tipo de coisas.

Derrotas como essas são importantes para o time?

Sim, obviamente. Acho que já disse isso antes, mas para mim é muito mais difícil ficar no topo do que chegar lá. Eu estou sempre pensando que tenho que trabalhar 10 vezes mais, melhorar 10 vezes mais pelo meu time, e, como você disse, foi um aviso, um alerta, que precisávamos trabalhar em algumas coisas para não termos esses problemas no evento maior em Dallas. Foi algo importante de acontecer. Acredito que tudo tem um porquê, e acho que isso aconteceu porque tinha que acontecer antes de Dallas.

Quem você acha que vai dar trabalho para a Imperial nessa Impact?

Acredito que todo mundo que se classificou para o campeonato é capaz de vencê-lo. Eu nunca subestimo nenhum time que enfrento, especialmente na LAN. Sinto que todos os times são capazes, ou tem um estilo próprio para nos dar problemas durante o campeonato. Vão ter clássicos, jogos de tensão alta, como contra o Fluxo, um jogo muito importante para a cena brasileira, caso nos encontremos na semifinal ou na final. Estou muito animada para jogar, mostrar um bom CS contra os melhores times da América do Norte, América do Sul e Europa. Estou muito confiante.

Você teve tempo de estudar a atualização do CS?

Quando eu vi o post das mudanças, já pulei para o servidor para checar o que tinha mudado, me adaptar o mais rápido possível. Teoricamente, se você olhar para o calendário, não houve um tempo grande para treinar ou se acostumar às grandes mudanças. Acredito que foram alterações cruciais na economia, mudaram a molotov. Especialmente, em mapas como a banana da Inferno, a Ancient, molotovs cruciais em partes do mapa (mudaram). Nesse curto período de tempo nos adaptamos, checamos tudo possível nos servidores. Não me afetou pessoalmente porque sou a awper, é mais sobre os âncoras, que seguram os bombs. Acho que estamos preparadas, olhamos as mudanças da Vertigo, e acho que, nos últimos dias, fizemos um bom trabalho.

É mesmo diferente jogar online e jogar em LAN com a AWP do CS2?

Eu acho que sim. Não sei exatamente porquê, talvez porque você tem zero de ping e a reação é melhor quando você atira ou na movimentação. Talvez seja melhor por isso, mas eu concordo com a comunidade, com os jogadores que jogaram na LAN. É um pouco diferente quando se acerta esses tiros, os flicks, e ser um awper no geral. É diferente, mas de uma maneira boa. Acredito que é melhor na LAN do que no online.

ANa atuando pela Nigma Galaxy nas finais da 4ª temporada da ESL Impact League

Como se sente sendo a melhor mulher que já jogou CS?

Pessoalmente, quando você diz isso, eu não levo da maneira de que sou a melhor ou algo do tipo. Sou muito humilde. Todas as jogadoras, todos que me conhecem, sabem que sou humilde e não falo alto para todo mundo que 'sim, você não é boa, eu sou a melhor'. Sou grata por você ter dito isso a mim, significa muito. Significa muito quando você trabalha por muitos anos e tenta ser a melhor para o time. Para mim, pessoalmente, eu penso mais no time do que na minha performance. Eu prefiro ganhar um troféu do que ser a melhor. Significa muito para mim quando vem das outras pessoas, do público.

Você tem feito um bom trabalho nas duas coisas, em ser a melhor e estar no melhor time.

Sim, é verdade, sou muito grata por isso. Eu sinto que todo o trabalho valeu a pena. Eu não estava nessa forma ou tendo esses títulos no começo, comecei quando tinha 15 anos e agora tenho 24, levou um tempo para melhorar, erguer troféus e ter toda essa admiração das pessoas, mas valeu a pena.

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