Camisa dos novos jogadores d'O PLANO (Foto: Reprodução/PLANO)

Coração, amizade, stickers: como um novo PLANO foi executado

Karine Dutra, CEO d'O PLANO, conta os bastidores da contratação do novo elenco da organização

Reuniões não são exatamente uma novidade no Counter-Strike brasileiro, mas até mesmo o mais cético fã do jogo fica animado quando uma acontece. Não é diferente com O PLANO, que montou uma escalação que nunca jogou junta, mas é repleta de membros de times históricos dos anos de ouro da modalidade no país, numa mistura de lineups icônicas de SK e Immortals.

E, quase que como um presente para a comunidade, o time ficou pronto às vésperas do Natal. É o que conta Karine Dutra, CEO d’O PLANO, e responsável por lidar com as centenas de mensagens que vem recebendo de fãs, possíveis patrocinadores e até ex-funcionário querendo voltar.

"Foi algo muito rápido, um projeto que tinha que ser resolvido e acontecer muito rápido", disse em entrevista à Dust2 Brasil.

"As conversas oficiais começaram em dezembro. Eles jogaram um pouco junto nas lives, mas ainda estavam acertando como o projeto seria realizado. E foi na semana do Natal que o time se firmou mesmo", disse.

Como os jogadores já tinham compromissos para a passagem de ano e não havia times para treinar, as coisas que já estavam corridas ficaram ainda mais.

"Fomos obrigados a dar essa pausa também, e retornamos no dia 4, fechando tudo, correndo atrás de camisa e fazendo um anúncio em menos de 24 horas", contou.

Coração

Karine reconhece que o projeto "caiu como uma luva" para O PLANO, e ele estava muito distante do que se imaginava em outubro, quando a antiga escalação foi dispensada e Vito "kNg" Giuseppe, fundador da organização, anunciava uma pausa. A ideia inicial era concentrar as forças em outras atividades, depois virou um novo time com Jhonatan "JOTA" Willian, e acabou com a reunião de velhos amigos.

"O kNg e o JOTA firmaram um acordo (pelo novo time), só que tivemos alguns problemas de negociação", relembrou a mandatária.

"E, neste momento, começou a pintar uns gatos pingados. Primeiro veio o fnx, depois o boltz, o fer, e foram surgindo os convites. Eles chamaram o kNg para ser essa peça, o AWP que faltava no time, e o kNg não tinha certeza se jogaria, já que estava bem avançado com o time do JOTA, estava feliz", destacou.

O projeto antigo acabou esfriando - JOTA foi parar na LOS -, e a ideia da reunião foi ganhando força dentro de kNg.

"O coração falou mais alto", afirmou Karine.

Amizade

Com kNg garantido no novo time, restavam outras questões a serem definidas. A principal delas era a organização que acertaria com o time. O PLANO, é claro, manifestou seu interesse, mas não fez disso uma exigência para que kNg se juntasse ao time.

"A gente deixou claro que poderia sim acontecer por outra organização. Mas que não comprassem o kNg d'O PLANO", completou a CEO.

Karine ressalta, a todo momento, que O PLANO ainda não é uma organização - ou hub criativa de entretenimento de esports, como ela prefere se referir -, grande. A diretora faz questão de valorizar seus poucos funcionários e os esforços que são feitos para que os projetos sejam realizados, incluindo um com jogadores desse tamanho.

"Não temos milhões de patrocinadores ou sheik árabe por trás, fazemos tudo com o melhor que temos. A operação do CS não é sustentável. É difícil manter um time competitivo nos valores que temos no Brasil. Achar essas peças que estariam dispostas para fazer isso acontecer dentro da nossa organização (foi muito importante)", disse.

TACO e kNg atuando juntos pelo MIBR em 2020

Se a organização se mostrou disposta a deixar kNg jogar por outro time e ainda não tem o poderio financeiro que possa seduzir um grupo de jogadores desse tamanho, como eles acabaram vestindo a camisa preta e dourada? Pela amizade.

"Foi mais amizade do que qualquer outra coisa. Eles fortaleceram a nossa tag, a nossa causa, viram o nosso projeto, a força que temos dentro do cenário, e como eles poderiam nos ajudar a subir, alavancar ainda mais o processo", explicou Karine.

"Eles se juntarem pela mesma causa, terem o mesmo objetivo e terem a certeza de que querem chegar nesse Major. E O PLANO tem toda estrutura para proporcionar isso para eles. Centro de treinamento, mídia, uma base de fãs. Unimos o útil ao agradável", completou.

Stickers

A chefe d’O PLANO não revela muitos sobre o acordo que foi firmado com os jogadores como salário, duração de contrato ou participação em cotas de patrocínio - que são normais em negócios dessa magnitude -, mas dá um detalhe interessante: em caso de classificação ao Major, todo o dinheiro arrecadado será dos jogadores.

"O que eu posso adiantar e que acho muito justo, aceitei prontamente, por mais que a maioria não vá entender, é que o sticker será 100% dos jogadores. Até os stickers da organização. O PLANO não vai pegar nada", disse.

Mesmo que o dinheiro arrecadado com os cosméticos do Major estejam na casa dos milhões de dólares e mudem o patamar da organização, Karine sabe que não poderia bancar a heroína - e confia que conseguirá faturar alto em outros campos.

"Acordamos, em termos financeiros, que essa seria a contrapartida (por eles jogarem n’O PLANO). É um time extremamente caro. Eu não sou boba. Quando uma bomba dessa cai no meu peito, eu preciso saber trabalhar com essas peças", disse.

"Tendo o que eu tenho na mão, vejo que consigo trazer um retorno muito interessante, se trabalhado a longo prazo, de marketing, camisa, hype, cotas de patrocinador. Temos muito mais possibilidades", disse.

DM lotada

A caixa de mensagens, inclusive, está movimentada. Casas de apostas e outros patrocinadores têm procurado O PLANO desde a época do vazamento até o anúncio. O foco no momento, porém, é conseguir a classificação para a seletiva fechada.

"Nosso primeiro foco é nos classificarmos, e isso vai nos dar um pé no chão para podermos trabalhar. Esse time não tem prazo de validade. Tudo é feito com muita cautela, porque também nos importamos com as marcas que estamos fechando e o que faremos por elas. Nos classificando na primeira fase, vamos definir como será a questão de patrocínio e de novos apoiadores", disse.

A Betnacional, casa de apostas patrocinadora da organização e sua principal parceira nos últimos anos, está em período de renegociação de contrato. Karine, que destaca a gratidão e a possibilidade de permanecer com a parceria, prega cautela para passar por esse momento de grande exposição, que chama a atenção de mais marcas.

"Agora é sentar, analisar a caixa de mensagens, fazer o melhor tipo de negócio, tanto para os jogadores quanto para mim. Não é o momento em que eu vou ganhar sozinha. Esse projeto pode alavancar O PLANO a longo prazo", garantiu.

kNg e Karine Dutra, fundadores d'O PLANO (Foto: Reprodução/X)

Além dos patrocinadores, outras formas de capitalização são prometidas pelo PLANO. A primeira é a TV da organização, que pretende transmitir todos os jogos da seletiva aberta. Também haverá uma watch party para o closed qualifier, vídeos no YouTube e no Instagram, e, é claro, os jogadores já têm feito transmissões diariamente.

"Todos são extremamente midiáticos, eles também estão aqui para dar entretenimento. Uma coisa é treino, é por isso que é um momento de bastante concentração, e outra são as lives que acontecem depois, para eles terem mais tempo jogando juntos", afirmou Karine.

O pedido que O PLANO mais recebeu nos últimos dias, porém, é de uma camisa nova, que deve sair caso a classificação aconteça.

"Estou correndo atrás de uma nova versão comemorativa, que deve sair depois do dia 11, então a classificação muda tudo. Vai vir linha de produto, mais conteúdo", completou.

Vivendo o presente, pensando no futuro

A empolgação é grande, as coisas têm acontecido de maneira muito rápida e a cada fase que o time superar junto, novas possibilidades comerciais e de conteúdo vão se abrindo. Mesmo com tanta coisa para resolver no presente, Karine também está de olho no futuro, e garante que O PLANO tem interesse na permanência do elenco, que, segundo ela, não tem prazo de validade.

"É viver o presente, fazendo o que tem que ser feito agora, mas não posso deixar o que eu quero para o meu futuro escapar das minhas mãos. Eu quero, obviamente, por todos os motivos claros, esse time. Queria que esse time continuasse, mas estamos falando de jogadores que já tinham encerrado a carreira, que tem sucesso como criadores de conteúdo, outros que se afastaram e não sabem do futuro. É algo muito incerto, porque o poder de escolha é totalmente deles", disse.

“Eu vejo que, quanto mais o resultado vier e mais gostoso for jogar, a chance deles continuarem aumenta. Esse é o mais importante. É ter os resultados esperados, numa cobrança ok, onde todos se entendem, e aí fica fácil de jogar. Porque você ouve um burburinho de 'Aí se a gente fizer isso, vamos jogar mais esse'. Eu vejo que tem muitas chances do time continuar se alcançarmos os mínimos resultados que esperamos, e isso inclui a primeira classificação", completou.

E, se o time não ficar? O PLANO fica.

"Meu projeto é jamais deixar que a minha marca morra, esfrie, fique sem hype. Vamos estar sempre criando projetos e produtos em cima da estrutura que temos. O PLANO tem muitos braços, temos como trabalhar muitas oportunidades para a comunidade esportiva no geral e, acho que o principal, é não perder o contato e o carinho que temos da comunidade, porque se estou onde estou é por causa deles", finalizou.

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