FalleN destaca falta de ego em relação com guerri: "Conseguimos coexistir e coliderar"
Há cerca de dois meses, Gabriel "FalleN" Toledo tomou a decisão de trocar a Imperial pela FURIA, num dos movimentos mais aguardados da história dos esports no Brasil. Depois de semanas de convivência e competição, o veterano destaca a experiência como "bem satisfatória".
"Deu para dar uma primeira sentida no potencial que temos como time, deu para ver que, como já era esperado, apesar de que nas nossas maiores fantasias as coisas vão dar certo simplesmente quando os jogadores se juntam, a realidade não é bem assim", disse FalleN em entrevista à Dust2 Brasil no media day da ESL Pro League.
"Você precisa colocar tempo, trabalho, e passar por experiências juntos para poder tirar significados e aprendizados, criar uma identidade de time. Tivemos algumas boas partidas já, estamos numa crescente recente, encontrando um pouco mais da maneira que queremos jogar, começando a falar um pouco mais a mesma língua dentro do jogo, então isso vai nos ajudar", completou.
Para FalleN, jogar pela primeira vez com Andrei "arT" Piovezan, Kaike "KSCERATO" Cerato e Yuri "yuurih" Boian tem sido ótimo. Ele também destacou a relação com Nicholas "guerri" Nogueira e Sidnei "sidde" Macedo, da comissão técnica do time.
"Jogar com os meninos tem sido fantástico, todos são muito esforçados, talentosos. Jogar sob o comando do guerri tem sido muito legal, ele e o sidde, nosso analista, fazem um trabalho bem bacana de preparação, tanto nos treinamentos quanto nas competições", disse.
"Tem sido legal mesclar as ideias de jogo e poder contar com o arsenal de ideias e jogadas que o arT sempre traz, nesse dinamismo que ele tem como jogador. Tem sido muito legal estar com o chelo nesse projeto, ele é um soldado, está comigo desde a Imperial, um cara que complementa muito bem tudo e tem um talento muito bom. yuurih e KSCERATO são dois jogadores que eu já vinha jogando contra há alguns anos e tem sido muito divertido jogar com eles. São grandes pessoas, bons companheiros, e acho que não conseguimos ainda mostrar para nós mesmos e para os outros tudo que somos capazes de fazer, mas estamos no caminho e estou bem satisfeito", descreveu o capitão.
Sem ego
Nos últimos anos, FalleN conviveu com a crítica de que não consegue trabalhar com treinadores por um longo período. O jogador, porém, garantiu que sempre teve um bom relacionamento com os mandatários.
"Apesar de ter consciência de que o público em geral tem um receio de como eu trabalho com treinadores, porque trabalhamos com muitos no decorrer do tempo, considero que trabalharia novamente com 90% dos que já trabalhei. Temos um respeito muito grande. Desde o moses, zews, peacemaker, todos que trabalhei, sempre tivemos um nível de respeito muito alto e um nível de abertura para conversar sobre as abordagens e aprender uns com os outros", afirmou.
Parte da comunidade estava ansiosa para ver como seria o encontro do jogador com guerri, um dos treinadores que mais tem controle sobre o estilo de jogo do time no cenário brasileiro. FalleN disse que a dinâmica tem sido ótima, e que não há nenhum tipo de disputa de ego.
"Grande parte da preocupação que possa ter existido das pessoas de fora em relação a isso poderia se concretizar como verdade se houvesse uma disputa de ego, ou um comportamento dentro desse ambiente que fosse movido pelo ego, mas aqui não tem isso. Eu e guerri nos damos super bem, eu entendo a importância dele para esse time, assim como ele entende", garantiu o jogador.
"Essa (minha) vinda para o time acaba aliviando um pouco o trabalho de liderança que ele tem que fazer com os meninos. Conseguimos coexistir e coliderar em aspectos diferentes. Isso está sendo muito positivo", completou.
FalleN ressaltou que a divisão de responsabilidades tem ajudado bastante no dia a dia da equipe.
"Estou sendo super bem recebido e fica fácil, dessa maneira, de poder ajudar com o que consigo ajudar e deixar que outras responsabilidades (sejam cuidadas por outras pessoas), porque é muito satisfatório saber que tem alguém olhando para coisas que você não está olhando, e pegando responsabilidades difíceis. Tem sido uma mescla boa. Estou satisfeito, mas é só o começo do trabalho, estamos muito motivados para o que podemos fazer nos próximos meses e com o passar do tempo", disse.
Aproveite o processo
A FURIA jogou pouco mais de 20 mapas, participou de apenas cinco campeonatos e ainda está longe de sua forma ideal. Segundo FalleN, o time ainda está em construção, mesmo que alguns sinais já comecem a aparecer no map pool e no individual dos jogadores.
"A Mirage é um dos mapas que estávamos menos confiantes e, na hora do 'vamo ver', foi o mapa que mais trouxe retorno para gente. Os treinamentos não contam toda a história, os campeonatos são muito importantes por causa disso. É muito cedo para dizer", contou.
Um desses sinais está sendo refletido no individual dos jogadores. Todos os cinco transitam num rating de 1.00 a 1.08, mostrando que o protagonismo tem sido dividido nesse início de equipe. FalleN não ignora os números, mas não coloca muito peso nesse tipo de análise.
"Em termos estatísticos, é válido olhar para alguns números e tentar tirar conclusões, sempre podemos trazer uma análise de alguma coisa para qualquer ponto de vista que queiramos comprovar baseado nos números. Mas a grande verdade é que o CS não é feito dos números. Alguém pode estar com rating negativo e ter feito grandes jogadas, aberto espaço, tomado decisões corretas, que possibilitaram a vitória de um round. A análise minuciosa de cada jogo traz o que pode ser feito de melhor ou não", disse.
"Os números contam uma história em que falta um pedaço. Não estou muito preocupado em relação a isso, os números seguem de guia para algumas coisas, mas o trabalho é feito minuciosamente, olhando abordagem, reações, o que era combinado, onde houve comunicação falha, afobação, perda de vantagem desnecessária, micro decisões que não encaixam no que estávamos nos propondo a fazer. É esse tipo de coisa que realmente faz a gente se consolidar."
As atuações abaixo da média de jogadores como KSCERATO e yuurih, as grandes estrelas do time nos últimos anos, de acordo com FalleN, passam pela adaptação ao novo líder.
"É uma questão de conforto. Eles estavam jogando de uma maneira há três anos, sabendo reagir a praticamente tudo, existia um certo desenvolver do round no qual eles estavam muito acostumados, e agora tem uma outra pessoa falando, outras ideias, tem a necessidade de se acostumar a outro ritmo de jogo, a outras coisas que vão acontecer, mas eles são completamente capazes de voltar a performar como eles vinham performando e, com o tempo, vamos ter uma identidade da FURIA. Isso está em construção ainda, começamos a dar alguns sinais do que pode vir a ser, mas nem nós sabemos como vai ser ainda, é algo que o tempo e as experiências vão acabar construindo", garantiu.
FalleN não sabe como vai ser, muito menos quando. Perguntando sobre um prazo para que a FURIA esteja pronta, ele brincou.
"A projeção é o quanto antes, e quem souber o número me avisa", disse.
O jogador também destacou que o mais importante é não focar somente no resultado, mas sim no processo, e saber aproveitar o passo a passo até as futuras conquistas.
"Alguém que espera um número em perguntas como essa está olhando pra coisa errada. A competição, no fim das contas, não se trata exclusivamente da obsessão do resultado, mas na obsessão em melhorar os processos, que fazem os resultados virem. O resultado tem que ser consequência, e se não tratarmos dessa maneira fica inviável, muitas coisas começam a entrar como ruído nesse processo de trabalho e não ajudam a chegarmos onde queremos chegar", explicou.
Tudo perfeito - ou quase
Para decidir em qual time jogaria no restante da temporada, FalleN não levou em conta apenas as questões relacionadas ao jogo, mas também a sua vida pessoal. Depois de dois meses na FURIA, o jogador sente que tomou a decisão correta.
"A fase de incerteza veio por uma necessidade de alinhamento de coisas pessoais com coisas de trabalho. O ano que vem para mim vai ser muito bom, onde vou conseguir de fato juntar essas duas coisas, tenho feito alguns ajustes com a Le (Letícia Lorena, noiva de FalleN), para podermos passar a nossa vida pessoal um pouco mais para perto da vida de trabalho, para que possamos ficar mais tempo perto. É uma coisa importante para nós. São 12 anos juntos e temos muito tempo de distância, é uma coisa muito complicada", explicou.
"As prioridades na vida vão mudando, e essa dificuldade de encontrar uma solução em um primeiro momento me trouxe a reflexão de que se eu realmente queria continuar jogando ou não, mas a verdade é que eu amo jogar CS, gosto de fazer o que eu faço e, alinhando isso, consiga ter mais sucesso tanto no âmbito pessoal quanto no profissional. É disso que estou atrás", completou o jogador.
FalleN destaca que ainda vive um momento de transição, mas que tudo tem sido perfeito - ou quase.
"Para esses dois primeiros meses, é uma organização super estruturada, com pessoas incríveis, e que estão me tratando super bem e dando todo o suporte que eu preciso para fazer o que eu gosto, e tem sido muito desafiador e gostoso trabalhar com a turma. Isso é importante. Eu considero que até agora tem sido tudo perfeito. Perfeito seria se tivéssemos ganhado todos, mas, tirando o resultado, tudo tem sido maravilhoso", finalizou.