MIRA JOVEM: koala se inspira nos bicampeões mundiais para colocar o Norte no mapa do CS

A série da Dust2 Brasil conta um pouco da história da joia paraense que ama o CS desde os 7 anos

Alexandre "TitaN" Lima e José de Araújo "Netenho" Cavalcante são algumas das estrelas dos esportes eletrônicos que, além dos já conhecidos obstáculos que todos precisam derrubar para chegar no topo dos esports, também tiveram que superar os muitos problemas de infraestrutura que assolam o Norte do Brasil a fim de realizarem o sonho de se tornarem estrelas. E no futuro próximo uma joia do CS:GO pode fazer parte deste seleto grupo: João "koala" Pedro.

Nascido no Pará, koala é mais um promissor nome do Counter-Strike nacional que começou bem cedo no mundo dos games. O primeiro contato foi aos quatro anos, jogando GTA e Resident Evil noi PlayStation 4. Mas não demorou muito para o geração Z conhecer o Counter-Strike. A paixão foi à primeira vista.

"Lembro que ainda existiam as lan houses. Tinha um clube que tinha uma mini lan com alguns computadores. Eu ficava assistindo porque era muito novo e minha mãe não me deixava jogar. Ficava o dia inteiro assistindo os outros jogadores", disse o jogador à Dust2 Brasil.

koala é o nono de doze entrevistadas do MIRA JOVEM, série promovida pela Dust2 Brasil e GG.BET que conta as histórias de promissores jogadores e jogadoras do cenário nacional de Counter-Strike

Na conversa, o jogador abordou os obstáculos que já enfrentou na vida para se tornar um jogador profissional e destacou o sonho e a vontade de se tornar um grande nome do CS brasileiro

Abre a carteira, mãe

A mãe foi o primeiro obstáculo que koala precisou superar: "Eu fiquei enchendo o saco dela, pedindo para me deixar jogar, para me dar um computador, mas ela não queria porque não gostava de gastar dinheiro. Até que um dia eu chorei tanto que ela me deu um de presente no meu aniversário de sete anos". Assim pôde, enfim, ter realmente o primeiro contato com o CS, mas ainda sem jogar online.

"Eu jogava só com bot porque minha mãe não deixava eu jogar online. Ela tinha medo de eu jogar com pessoas mais velhas. Eu passava o dia todo jogando a cs_assault. Era o único mapa que eu sabia andar", completou.

Assim como para poder ter o computador, koala também tentou bastante que a mãe comprasse o CS, na época ainda pago. Mas este, sem muito sucesso.

"Naquela época muitas pessoas mais velhas achavam que se comprasse jogos pela internet eles vinham com vírus e o cartão seria clonado. Eu só assistia vídeos no YouTube e ficava vendo os outros jogarem na lan house. Eu ficava meio triste porque eu via os outros jogando e achava muito massa ver os caras se xingando, mesmo sendo amigos eu gostava desse clima", relembrou.

O que não impediu de koala "trabalhar" com o FPS da Valve. Já "rato" de lan house, o jogador foi promissor e se tornou um "hacker humano". "Minha primeira ‘profissão’ no CS era ficar avisando para os caras na lan onde o amigo dele estava. Eles pediam para eu ir no PC ver onde os outros estavam", explicou.

Sem poder se aventurar no CS, desbravou o Minecraft e também se aventurou no PointBlank e outros FPS gratuitos até que, por volta de 2018 e 2019, voltou definitivamente ao sonho de se tornar profissional no título da Valve.

Bendito amigo!

Envolto com os FPS gratuitos já que não tinha oportunidade de jogar CS, koala chegou a esquecer por completo do Counter-Strike até que viajou para o parque Beto Carrero “com uns amigos da minha mãe e um deles tinha um filho com PS4 e computador. Nesse computador tinha CS:GO e, como eu nunca tinha jogado, quis tentar”.

“Na primeira vez que sentei para jogar já vi que era muito diferente de todos os outros jogos. Tinha microfone para você falar e eu achei tudo isso muito massa. Joguei duas partidas e percebi que eu precisava comprar esse jogo”.

O 2º obstáculo

Voltando para casa, novamente koala pediu para a mãe comprar o jogo. Não chorando desta vez, foi novamente incansável até conseguir. Mas se engana aqueles que acharam que o jogador teria vida fácil após, enfim, ter conseguido o CS:GO. Foi nesse período que surgiu o segundo obstáculo na carreira do jovem: a precária infraestrutura do Pará.

"Foi uma briga poder jogar. Meu PC rodava com 30 de fps e demorei dois dias para baixar o jogo porque minha internet era muito ruim. Quando finalmente baixou, fiquei com mais de 200 de ping, então dei uma desanimada. Mas todo dia de madrugada a internet dava uma melhorada e eu conseguia jogar um pouco nesse horário. Contudo, como eu estudava, não conseguia ficar madrugando para joga durante a semana. Então, eu só jogava de madrugada de sexta para sábado e de sábado para domingo", contou.

Mas foi com a ajuda da própria mãe que koala rompeu essa barreira tendo em vista que ela sempre disse ao filho que quando completasse 15 anos "eu iria me mudar para Minas Gerais, onde minha família mora. Ela queria que eu fosse para estudar o ensino médio porque as escolas onde eu morava no Pará não eram tão boas. Eu achei bom porque eu iria poder estudar igual minha mãe queria e também iria poder jogar meu CS. Nisso fui morar com a minha avó em Minas".

"Tive uma oportunidade que normalmente quem está no Norte não tem. Se eles quiserem ser pro player no Pará não vão conseguir muito porque precisariam mudar de cidade por causa da internet. Isso não só no Pará, mas também em outros estados do Norte e Nordeste. É por isso que não vemos tantos jogadores de lá. Tive essa oportunidade na pandemia e desde 2020 estou jogando CS o dia todo. Era meu sonho e eu quis focar nisso. Agora que tenho essa oportunidade não vou desperdiçar".

Único foco: se tornar jogador profissional de CS

Desde os 14 anos koala traçou o objetivo de jogar CS profissionalmente. E ainda no Pará, só jogando de madrugada, o jovem conseguiu em dois meses subir do level 9 ao 20 na Gamers Club, se aventurando na sequência na Ranked Pro da plataforma, o que classifica como "muito importante para minha evolução e também onde conheci meus amigos com quem falo até hoje".

"Eu jogava uns 100 ou 200 pugs na Ranked Pro por mês. Até que em outubro veio a oportunidade de me mudar e eu já estava jogando em um time com alguns amigos. Conseguimos ir para a Liga Desafiante. Nisso percebi que em um ano consegui muita coisa e decidi que quando eu me mudasse eu ia focar em ser jogador de CS", afirmou.

Inspiração na LG e SK

koala é mais um jovem que os bicampeões mundiais podem se orgulhar de inspirarem: "Tive muita sorte porque o primeiro campeonato que assisti foi a MLG Columbus. Caí de paraquedas. Eu nem sabia que era Major. Eu lembro de ver a play do cold, de ver o Brasil ganhando um Major e eu achei que aquilo era normal. Achei que o Brasil era o melhor no jogo mesmo".

"Assistindo a SK e a Luminosity fui me apaixonando pelo jogo. Eu era só um brasileirinho que não jogava muito, só acompanhava, torcia e virou uma paixão. Eu não cheguei a pensar que queria jogar para ser igual a eles. Acho eles fodas, mas sempre pensei que se fosse ser profissional queria me basear em mim mesmo. Nunca tive ídolos na minha vida", disse.

Rushando na pandemia

Assim como os demais estudantes, a rotina de koala na escola mudou completamente com a pandemia já que nesse período as aulas passaram de presenciais para online. Novamente mostrando sagacidade, o jogador aproveitou o período para focar ainda mais no Counter-Strike. Decisão está que julga como importante para a própria evolução.

Mas isso não quer dizer que koala deixou a escola de lado: "Eu sempre tirei boas notas, mas nunca fui muito estudioso, só fazia minha função. Às vezes eu quase ficava de recuperação porque eu não fazia trabalho e atividade porque eu ficava jogando e esquecia. Por mais que não gostava de estudar, mo CS eu preciso estudar muito. Acordar cedo pra ver demo, jogar DM e estudar adversário. Então, no final das contas acabei tendo que estudar ainda mais".

O jovem até pensou em outras profissional, mas não conseguiu encontrar nenhuma que o atraísse tanto "porque eu achava tudo chato". Confiante, koala disse acreditar que"o CS vai dar certo. No momento não consigo pensar em outra coisa que não o CS. É a única coisa que me mantém no foco e é a única coisa que me faz feliz".

Por mais que no início tenha sido um obstáculo e anos depois, mesmo sem intenção, ter ajudado no início da carreira, koala garantiu que a mãe "nunca me impediu de jogar. Sempre foi de boa, mas também fala para eu fazer uma faculdade, fazer um cursinho" O jogador entende a preocupação dela com o próprio futuro.

"Ela nunca me atrapalhou. Ela sempre apoiou e sempre torceu, às vezes até de mais. Se eu perco um jogo ela já vem me xingar, falar que nós escolhemos o mapa errado, que escolhemos o lado errado para jogar. Ela é uma torcedora igual aquelas de futebol, quando o time perde ela já fica puta", revelou.

A carreira

O primeiro contato com o cenário profissional de Counter-Strike foi vestindo a camisa de um clube de futebol, o Ceará. Contudo, koala também tem no currículo uma organização internacional, Elevate, e uma das principais do país, a FURIA, na qual defendeu o time de base. Atualmente veste o manto da The Union.

Foi com a Furinha que teve a primeira oportunidade de competir fora do país, quando disputou três edições da WePlay Academy League. Dessas, por pouco não disputou a final, quando terminou a Season 4 no top 3. E essa experiência na Europa foi importante para koala mostrar para a família que se tornar jogador profissional no Counter-Strike é realmente uma profissão.

“Sempre achei muito legal poder viajar, jogar um campeonato na Europa e ter essa experiência. Mas foi mais importante pela visão que passou para a minha família do que para mim. Sempre imaginei que isso fazia parte do processo. Óbvio que fiquei muito feliz de estar jogando na Europa. A impressão maior que ficou foi para a minha família”, destacou.

E os objetivos futuros? Ganhar no Brasil para almejar títulos internacionais:”Ficar cheio de títulos no Brasil não significa nada. A partir do momento no qual você se torna um bom jogador você vai disputar títulos lá fora. Na WePlay tive a oportunidade de ver como o CS lá é muito superior. Por isso, vejo que tenho a obrigação de ganhar aqui, mas isso não significa muita coisa porque os melhores jogam lá fora.

“Tento sempre manter isso na minha cabeça. Se não estou conseguindo ganhar aqui, tenho que trabalhar muito mais porque lá fora eles estão ganhando tudo. A realidade é que um time que ganha tudo no Brasil chega lá na Europa não joga bem porque lá o nível é muito acima”.

Colaboraram Victor Porto e Vitoria Von Bentzeen

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