Juve, treinador da Into the Breach, durante o BLAST.tv Paris Major

Quem é Juve, treinador português da sensação do Major

Na função desde os 16 anos, Juve falou sobre a Into the Breach e a possibilidade de comandar um time brasileiro

Por trás de um dos times de maior sucesso no BLAST.tv Paris Major, há um sotaque bem característico para o povo brasileiro: o português. Comandando o quinteto que mais tem chamado a atenção no mundial até agora, a Into the Breach, está o português Gustavo "Juve" Alexandre, de apenas 20 anos.

Morador do Porto, ao norte de Portugal, o treinador está na sua segunda passagem pela organização britânica, tendo treinado o time entre janeiro e dezembro do ano passado e retornado em fevereiro para uma nova formação do elenco.

Ao contrário da maioria dos treinadores - que são jogadoras já aposentados -, Juve está no papel de comando desde muito cedo na carreira, aos 16 anos, e nunca foi de fato um jogador profissional.

"Eu, quando tinha 16 anos, estava nas equipes amadoras, todos querendo jogar CS. E, uma vez, uma pessoa me disse: você não atira bem, mas pensa bem e tem uma mentalidade boa", disse em entrevista à Dust2 Brasil.

"Entrei nesse projeto amador como treinador e fui subindo, EGN, que estava no top 8 nacional, depois For The Win, top 2 ou top 3 nacional, fui crescendo. Obviamente, eu não era a pessoa com mais experiência, melhor mentalidade, mas fui aprendendo com quem estava ao meu lado. Ao mesmo tempo eu os ajudava, colocava horas para trazer as soluções, eles me ajudavam a ganhar calo, estofo", explicou o treinador em bom português.

E assim, gradualmente e num espaço curto de tempo, Juve realizou o sonho de chegar a um Major.

"Eu com 16 ou 17 anos estava na Twitch e era mais um fã. Via grande parte da galera que está aqui jogando. É incrível estar no mesmo hotel, mesmo espaço, competindo e ganhando contra eles. É incrível estar no mesmo meio que eles e saber que o meu objetivo está se concluindo", disse.

Jogadores da Into the Breach no media day do BLAST.tv Paris Major

Na mira dos rivais após uma classificação para o Legends no RMR e vitórias contra FaZe e ENCE no mundial, Juve mantém os pés no chão.

"É normal olharem para nós como os underdogs, não critico quem nos olha assim. Na realidade, somos um time tier 2. A questão é que estamos jogando no formato de md1, onde as duas equipes jogam sempre um mapa confortável. E se a preparação do jogo (for boa), se os jogadores tiverem dando bala, num dia bom, etc, (as coisas) podem correr bem", disse.

"Eu acho que a distância entre o tier 1 e o tier 2 não é assim tão grande. Claro que existe uma consistência maior, senão eles não estariam lá. Claro que os jogadores supostamente são melhores, é óbvio, mas a distância entre os times não é assim tão grande. Dá sempre para conseguir uma surpresa", completou.

Agora, Juve sabe que o time terá uma missão mais complexa, tendo de vencer uma série md3 e tendo pela frente, possivelmente, mais gigantes. O treinador reconhece que jogar as séries mais longas vai expor uma fraqueza do time.

"Não é novidade para ninguém que não temos um map pool muito extenso, por isso vai depender muito de quem enfrentarmos. A priori, jogaremos um mapa muito desconfortável, mas temos de ganhar os outros dois, temos de fazer por onde e trabalhar", disse.

A humildade, inclusive, é um dos pontos que Juve quer que a equipe mantenha intacto.

"Temos de ter atenção e manter o mesmo ego que tivemos até agora, saber que somos os underdogs, mantermos assim, sabemos que estamos há uma md3 de chegar ao palco do Major, algo incrível, mas temos que nos manter com pouco ego, sem grande euforia, porque só assim é que vamos chegar lá. Se entrarmos nessas partidas e acharmos que somos os maiores, vamos tombar. Temos que ter calma, manter o mesmo trabalho que fizemos até agora", disse.

Os dois lados do grind

A Into the Breach é mais uma das equipes da "selva europeia" que tem alcançado o sucesso no Major. Antes do campeonato, a equipe jogou 96 mapas de acordo com a base de dados HLTV - e, segundo o manager do time, outros 32 mapas não registrados. Para Juve, o grind tem dois lados.

"Os prós é que conseguimos ter uma boa gerência de nosso psicológico, da química do time para os jogos oficiais, mas, a nível tático, ficamos muito reduzidos, e sentimos isso em muitos jogos online. Os meus jogadores jogam melhor em lan, isso está mais que provado e é um boost para nós. Mas, online, nós sentimos muito que, quando a bala não está entrando, não estamos na nossa melhor forma, falhamos muito na parte tática, muito por causa desses primeiros dois meses (onde o time jogou muitos campeonatos), de não termos tido espaço para treinar", afirmou.

Jogadores da Into the Breach comemoram vitória durante o BLAST.tv Paris Major

Questionado sobre saídas para os times brasileiros, Juve disse acreditar que é importante que os times brasileiros passem um período prévio aos campeonatos importantes no Brasil - no modelo que já é usado pela maioria das equipes de ponta.

"Eu acho que é importante, principalmente dois meses de um torneio como este, vir para cá (Europa) um bocadinho para se habituarem ao estilo de jogo da Europa", disse.

"Quando joguei contra a paiN senti um impacto diferente do nível tático vindo da paiN. Nós nunca tínhamos jogado contra aquele estilo de jogo deles na Vertigo. Demos um choke, perdemos, foi muito mérito deles. Ganhamos a md3, mas aquela foi para esquecer. Acho que é importante, (viajar) dois meses antes dos torneios importantes, para se acostumarem ao estilo de jogo da Europa e não chegarem aqui e serem surpreendidos", completou.

Futuro verde e amarelo

No futebol, a exportação de treinadores portugueses está em alta desde a vinda de Jorge Jesus para o Flamengo em 2019. Juve acredita que os comandantes da Terrinha tem funcionado no Brasil pois estão habituados a um nível maior de jogo, e não por conta da nacionalidade.

"Acho que isso depende muito da personalidade, (varia) de pessoa para pessoa. Não tem a ver com o país em si. A questão dos treinadores portugueses terem sucesso no Brasil talvez seja porque estão habituados com times que vão à Liga dos Campeões. São campeonatos diferentes. Talvez, se as equipes brasileiras tivessem oportunidade de jogar uma Champions League na Europa, elas poderiam ganhar mais estofo", disse.

Recentemente, a tendência futebolística chegou ao CS. Ricardo "JTR" Júnior, ex-Nigma Galaxy, foi contratado pela ODDIK, e Miguel "ner0" Videira é assistente técnico da ARCTIC. Juve, porém, se diz feliz na ITB, mas não fecha as portas para um futuro verde e amarelo.

"Estou bem com a organização, estou aqui pelo meu segundo ano. Eles acreditaram em mim pela segunda vez. O primeiro ano teve altos e baixos e agora acreditaram em mim e estamos, com 3 ou 4 meses de time, no Major. Não penso tão cedo em sair, mas quem sabe. Quem tiver portas abertas para mim, vou analisar. Quem sabe daqui 1 ou 2 anos, não sei", finalizou.

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