Bug do coach: relembre a falha que voltou a render bans
A exploração de falhas é passível de punição em qualquer jogo online, não seria diferente no Counter-Strike: Global Offensive. Uma em específico no FPS da Valve conseguiu estremecer o competitivo mundial não só uma, como duas vezes. Trata-se do "bug do coach", que causou punição a 37 treinados em 2020 e, numa nova onda de banidos, está afetando mais 47 profissionais, entre eles os brasileiros Luis "peacemaker" Tadeu (Imperial) e Rafael "zakk" Fernandes (9z).
O bug do coach está ligado a uma falha no modo espectador (spec), utilizado pelos treinadores durante treinos e partidas. Ele permite que o spec veja movimentações adversárias. A primeira "versão" do exploit, que resultou nos banimentos de 2020, permitia a visualização de determinadas áreas do mapa. Mas, neste ano, descobriu-se variantes do problema, uma delas que dá o spec andar pelos mapas de forma livre.
A primeira ban wave
Os primeiros banimentos foram revelados durante as seletivas para o ESL One Rio Major, mundial que estava previsto para ser disputado no Rio de Janeiro, Brasil, em 2020. A primeira organizadora a punir treinadores foi a ESL, que, em 31 de agosto daquele ano suspendeu por seis meses o brasileiro Ricardo "dead" Sinigaglia, então no MIBR, Aleksandr "MechanoGun" Bogatiryev (Hard Legion) por dois anos e Nicolai "HUNDEN" Petersen (Heroic) por uma temporada.
Além da punição individual aos treinadores, a ESL também aplicou sanções aos times. Com isso, o MIBR, na época, acabou sendo desclassificado do RMR ESL One Road to Rio, perdendo assim 950 pontos no ranking de classificação.
Um mês depois, a Esports Integrity Commission (ESIC) finalizou a investigação que realizou sobre o bug do coach e anunciou punições a mais 37 treinadores, incluindo diversos brasileiros como Nicholas "guerri" Nogueira (FURIA), Alessandro "Apoka" Marcucci (BOOM), Henrique "rikz" Waku (DETONA) e Bruno "ellllll" Ono (paiN). Além disso, dead teve um acréscimo na sanção de meio mês.
Segundo a comissão, na época, 20% das 99.650 demos avaliadas foram examinadas e um relatório final seria emitido em outubro daquele ano.
Punições aplicadas pela ESIC aos brasileiros
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Arno "ArnoZ1K4" Junior (1 caso) - 10 meses (redução de 0%)
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Arthur "prd" Resende (5 casos) - 10 meses (redução de 0%)
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Henrique "rikz" Waku (1 caso) - 10 meses (redução de 0%)
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Alessandro "Apoka" Marcucci (6 casos) - 5,4 meses (redução de 85%)
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Ricardo "dead" Sinigaglia (5 casos) - 6,5 meses (redução de 35%)
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Nicholas "guerri" Nogueira (2 casos) - 4 meses (redução de 60%)
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Bruno "ellllll" Ono (3 casos) - 10 meses (redução de 0%)
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Pedro "peu" Lopes (2 casos) - 5 meses (redução de 0%)
Os treinadores punidos pela ESIC passariam a não poder participar dos eventos parceiros da comissão, como BLAST, DreamHack e ESL.
As punições mais severas foram dada pela Valve, que usou como base as investigações da ESIC. A desenvolvedora distribuiu suspensões em Majors. Na época, Apoka, elll e prd tomaram banimento eternos nos Majors.
Novos casos
Em março deste ano, o Dexerto revelou que a ESIC estava próxima de concluir mais duas investigações a cerca de novos casos relacionados ao bug do coach. Uma delas, supostamente, renderia punições a até 52 treinadores.
A reportagem informou que a comissão estaria sofrendo pressão para finalizar as investigações antes do PGL Major Antwerp. Além disso, segundo o site, variantes da falha do modo espectador foram descobertas.
Um dos responsáveis por de achar o bug e trazê-lo à tona, Michal Slowinski, juiz de campeonatos, complementou sobre as tais variantes: uma parecido com o comando "noclip", aquele que permite voar pelo mapa, enquanto a outra em 3ª pessoa.
Ainda antes da ESIC se pronunciar sobre as novas investigações e possíveis punições, o site Jaxon revelou no fim de abril que peacemaker era um dos que, supostamente, haviam abusado de uma das variantes do bug do coach.
No YouTube, o site publicou um vídeo mostrando um lance que aconteceu durante a 5ª temporada da Esports Championship Series (ECS), quando o brasileiro ainda estava na Heroic, em partida contra um time internacional chamado Imperial. Nele, é possível ver o treinador voando pela Inferno enquanto estava de spec.
A ESIC quebrou o silêncio na última quinta, informando que três treinadores que disputariam o PGL Major Antwerp foram suspensos de forma preventiva. A comissão, contudo, não revelou os nomes dos profissionais.
Em nota, a entidade explicou que finalizou as investigações e afirmou a existência de três variantes do exploit: o Static Spectator Bug, quando o treinador ficava estático num ponto do mapa, o Free-Roam Spectator Bug, quando o treinador poderia andar livremente pelo mapa, e o Third-Person Spectator Bug, quando o treinador seguia um jogador com a visão em terceira pessoa.
A primeira das variantes, de acordo com a ESIC, é a que resultou nos primeiros banimentos, mas que aconteceu com outros 47 treinadores. Free-Roam Spectator Bug é a considerada a mais séria e será avaliada seguindo os critérios das punições por uso de cheater, podendo resultado na suspensão de dois anos. Ela teria sido explorada por dois profissionais.
A terceira versão é mais leve, só pode acontecer por um round e não pode ser acessada por vontade própria. Mesmo assim, os treinadores pegos serão punidos com 30 dias de suspensão por round. Um treinador que está no major foi pego neste bug, mas não será suspenso porque a ESIC julga que seria injusto e desproporcional com o time treinado.
Quanto as novas investigações, ainda em março, Slowinski informou que a investigação sobre o Static Spectator Bug foi finalizada em outubro de 2020, enquanto as outras duas em março do ano seguinte.
"Sinceramente, não faço ideia do que a ESIC tinha em mente, só sei o que foi comunicado publicamente por eles", escreveu o polonês no Twitter.
O bug foi corrigido?
Quase um ano após a primeira onda de banimentos, esperava-se que a Valve teria corrigido o bug que abalou o competitivo da modalidade. Mas, em maio de 2021, um dos punidos por explorar a falha, o treinador Sergey "LBMT" Bezhanov (forZe) publicou no Twitter um vídeo mostrando que ainda conseguia acessar a falha.
Na época, o coach escreveu: "Como é que esta porra ainda está aqui? Não atuava como técnico há algum tempo e agora eu vejo isso. Pensei que tivesse sido corrigido. Por parte da Valve, a empresa nunca falou publicamente sobre correção do problema