Line masculina da Imperial no Gamecraft Japeri (Foto: Reprodução/YouTube)

Projeto usa CS para combater evasão escolar no município mais pobre do Rio

Gamecraft, em Japeri, conta com 130 estudantes e projeto será levado para outras cidades do estado

Japeri, no Rio de Janeiro, encontrou nos games um forte aliado para manter os alunos na escola. Com índices escolares abaixo da média no estado, a cidade tenta virar o jogo com o Gamecraft, escola gamer idealizada pela Federação do Estado do Rio de Janeiro de Esportes Eletrônicos (FERJEE), que em seis meses já atende 130 estudantes.

"Cabe a nós acolher esse jovem e entender quais as dificuldades por quais passa. Por que ele está fora da escola? Como está o núcleo familiar dele? Trazemos ele para o Gamecraft para reinserir ele nos estudos e ajudá-lo durante o ano letivo", disse o diretor de projetos sociais da federação, Rennan Costa.

Segundo a Secretaria Municipal de Educação de Japeri, evasão escolar foi de 4,52% em 2022, um dos mais altos do estado. O município também detém o pior Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do estado, com 4,3, no ano de 2023.

"Estamos falando de um município que possui o menor PIB do estado. Então, isso tem um impacto muito grande. Aliar o estudo com tecnologia e esporte para um lugar no qual os jovens nunca imaginaram ter acesso é um grande ganho", afirmou Cadu Albuquerque, presidente da FERJEE.

O projeto social é liderado pela federação em parceria com Secretaria Municipal do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. A Imperial também é uma apoiadora e as lines feminina e masculina já visitaram a escola que atualmente conta com aulas de inglês, CS2, eFootball, Free Fire e Minecraft.

Imperial feminina visitando o Gamecraft (Foto: Divulgação/FERJEE

Avaliando o primeiro semestre do projeto, Costa afirmou que um dos sinais que o Gamecraft está sendo positivo para os alunos foi que, na escola gamer, participantes passaram a entender a importância de aprender uma outra língua para o futuro.

"Tivemos alunos no início do projeto que perguntaram aos nossos professores o motivo de aprenderem inglês. 'Não vou ter oportunidade, nunca vou usar isso na vida', chegaram a dizer. Mas passaram a utilizar o inglês no dia a dia, tanto que estão apresentando textos em inglês na escola. Depois disso, falaram que o inglês melhorou a qualidade de vida deles", contou.

Pedagoga e psicoterapeuta do Gamecraft, Jaqueline Melo afirmou que entre os ganhos dos adolescentes participantes do projeto, o principal, foi o fortalecimento na criatividade, desenvolvimento da autonomia, acesso a informação, melhora nas habilidades socioemocionais, absorção e retenção de conteúdo.

Sala de aula onde são ministrados os jogos eletrônicos (Foto: Divulgação/FERJEE)

Pela primeira vez trabalhando a educação com os jogos eletrônicos, a pedagoga afirmou estar sentindo que os jogos ministrados no Gamecraft estão ajudando na formação dos alunos como cidadãos.

"Percebemos o desenvolvimento do autoconhecimento, a aprendizagem acontecendo de forma prazerosa, vemos a interação e o trabalho em equipe acontecendo dentro e fora das salas de aula. Muitos alunos não gostavam de sair de casa e hoje estão socializando, praticando o fair play na sua vida cotidiana", destacou.

Quanto os próximos meses do projeto, a psicoterapeuta quer que o processo de aprendizagem no Gamecraft seja mais divertido, aumentando a motivação dos alunos, promovendo a proatividade no estudo e construindo um aprendizado significativo.

Além do estudo

Os jovens que participam do Gamecraft Japeri, além de aprenderem os conceitos básicos do Counter-Strike, também estão podendo acompanhar de perto alguns dos principais eventos da modalidade que acontecem no Rio de Janeiro.

Em agosto, uma turma compareceu ao Circuito da FERJEE que aconteceu durante o Rio Innovation Week, enquanto no mês passado outra leva de estudantes tiveram a oportunidade de acompanhar a IEM Rio de perto.

Próximos passos

A FERJEE promete que o Gamecraft não vai parar em Japeri. É intenção é levar a escola para outros municípios do Rio de Janeiro, como Nova Iguaçu, seguindo o foco em aulas de jogos eletrônicos e inglês, e Mesquita.

"Cada um tem a sua peculiaridade. Mesquita é mais programação, mas também ligado ao esporte, enquanto que, em Nova Iguaçu, será pensado mais na profissionalização do ecossistema dos esports", explicou Albuquerque.

A unidade de Mesquita, inclusive, já foi inaugurada no último dia 31. Lá o projeto se chama Gamelab, tem apoio da governo local e terá como foco ensinar os jovens o desenvolvimento de jogos digitais.

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