Autoridades rebatem justificativa da CBGE sobre mudança no GET Rio
Os milhares de casos de dengue registrados neste início de ano em todo o estado do Rio de Janeiro foram utilizados pela Confederação Brasileira de Games e Esports (CBGE) como justificativa para a quarta e última mudança das datas do Global Esports Tour (GET) Rio 2024. À Dust2 Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Ministério da Saúde, a Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro (SES-RJ) e a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) rebatem a entidade dizendo que a epidemia da doença impediria a realização do evento na data original.
Anvisa informou que não emitiu nenhum alerta sobre o perigo de eventos com grande público acontecessem durante a epidemia da dengue. A agência também sugeriu procurar o Ministério da Saúde, que respondeu da mesma forma: "Não propomos o cancelamento de eventos devido à epidemia de dengue."
As secretarias de saúde municipal e estadual foram na mesma linha, garantindo que nunca existiu por parte da cidade e do estado a recomendação ou até mesmo registro de eventos suspensos por conta da epidemia.
“A SES-RJ esclarece que a dengue não é doença contagiosa e, por isso, não há risco de contágio no contato interpessoal. A orientação para evitar a doença é impedir a proliferação de focos do mosquito transmissor, o Aedes aegypti. Por isso, vem desenvolvendo ao longo dos anos, campanhas de esclarecimento à população sobre as medidas para evitar criadouro de larvas e de controle de focos”, disse a secretária.
A secretaria estadual de saúde ainda lembrou que o próprio Ministério distribuiu vacinas contra dengue para serem aplicadas em diversas cidades do estado, como o próprio Rio de Janeiro, Nilópolis, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, São João de Meriti, Itaguaí, Magé, Belford Roxo, Mesquita, Seropédica, Japeri e Queimados. A vacinação é focada em crianças e adolescentes de 10 a 14 anos.
Mudanças e justificativas
O GET Rio inicialmente estava programado para acontecer de 27 a 30 de julho de 2023, mas teve as datas alteradas quatro vezes. De julho passado passou para novembro e, faltando dez dias para o início do evento, foi transferido para 4 a 7 de abril. Já a quarta mudança jogou o campeonato para os dias nos quais realmente aconteceu, mas sem ser explicada à Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro SUDERJ, levando o órgão subordinado à Secretaria de Estado de Esporte Lazer (SEEL) pedir esclarecimentos e criar uma comissão de monitoramento e avaliação.
A SUDERJ deu cinco dias para que a CBGE respondesse os questionamentos. Nessa resposta, conforme mostram documentos obtidos pela reportagem via Lei de Acesso à Informação, a confederação afirmou que os casos de dengue em todo o Estado, que inclusive levaram a Prefeitura e ao próprio Estado decretaram epidemia, impediram que o GET Rio ocorresse de 4 a 7 de abril.
“Nessa conjuntura, em virtude de a sede do evento, o Maracanãzinho, estar localizada no epicentro do cenário caótico de epidemia do vírus da dengue no Rio de Janeiro, aliado à informação veiculada na mídia, as equipes internacionais e as delegações estrangeiras ficaram alarmadas e desistiram de participar do evento. Até mesmo os times que já haviam assegurado sua presença passaram a não mais responder às interfaces da CBGE, tampouco ratificar e confirmar o seu compromisso de presença no GET 2024”, disse a confederação.
Também por conta da epidemia da dengue, de acordo com a confederação, a Futuro Eventos, empresa que enviou à entidade uma declaração de intenção de patrocínio ao GET Rio no valor de R$ 6.187.428,57, desistiu do negócio.
“Diante do cenário epidêmico e da desistência dos maiores times de esport, o patrocinador voltou atrás em sua intenção de patrocínio, haja vista o risco de entidades governamentais impedirem a realização de eventos públicos de médio-grande porte na cidade, ou pior, de ter seu nome envolvido em um campeonato que resultou no adoecimento de algum atleta famoso ou de grande parcela do público, motivo pelo qual a CBGE não recebeu qualquer parcela do valor de patrocínio inicialmente prometido”, explicou.
Dengue ou pedido da GEF?
Apesar de ter justificado ao Estado que a epidemia da dengue no Rio de Janeiro foi determinante para a última mudança nas datas do GET Rio, a CBGE mostrou para a SUDERJ uma carta da Global Esports Federation (GEF) endereçada à confederação brasileira dizendo que a última mudança nas datas do evento deveria ser feita para evitar conflito com outra LAN internacional.
“Estamos convictos de que o adiamento configura a medida mais apropriada para preservar a excelência do evento. Nesse sentido, gostaríamos de oficializar nossa solicitação de postergação do evento para os dias 17 a 21 de abril”, escreveu o CEO da GEF Mario Cilenti à Paulo Ribas, presidente da CBGE.
O evento que custou R$ 4,5 milhões aos cofres públicos
A CBGE precisou prestar esclarecimentos para a SUDERJ por ter conseguido junto ao órgão um termo de fomento no valor R$ 4.527.698,70. O valor, inclusive, já foi pago pela superintendência. Mas, além de responder os questionamentos respondidos, a confederação pediu mais R$ 2.500.000,00 para o Governo do Estado justificando que a quantia ajudaria na finalização da produção do campeonato já que o primeiro valor recebido foi utilizado integralmente pela entidade, que não conseguiu aporte adicional e que não tinha o necessário para finalizar as contratações que faltavam para o evento.
O pedido de adição no termo de fomento faz com que o valor do GET Rio, para os cofres públicos, passe a ser de R$ 7.027.698,70. A CBGE ainda buscará conseguir mais R$ 3.416.690,06 via Lei de Incentivo ao Esporte. À SUDERJ, a confederação observou que, caso consiga arrecadar o valor por lei, o montante será deduzido do termo de fomento quando houver prestação de contas.
Veja abaixo os custos que serão arcados pelo termo de fomento já contando com o adicional de R$ 2,5 milhões:
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Maracanãzinho - R$ 282.674,08
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Passagens aéreas internacionais - R$ 357.000,00
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Passagens aéreas nacionais - R$ 58.800,00
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Hospedagens - R$ 116.000,00
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Licenciamento CBGE - R$ 300.000,00
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Comitê organizador local - R$ 676.390,64
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Assessoria de marketing - R$ 312.500,00
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Assessoria de gestão, administração e prestação de contas - R$ 325.000,00
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Internet - R$ 311.000,00
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Custos de produção - R$ 1.133.348,13
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Documentação e segurança - R$ 60.350,00
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Equipamento de broadcast - R$ 431.680,00
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Locação de computadores gamers - R$ 201.550,00
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Licenciamento de marca, know-how e produtos GEF - R$ 2.095.934,40
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Tributos e taxas operacionais - R$ 368.471,45