MIRA JOVEM: Tomate quer superar dificuldades para ficar marcado no CS

Jovem da 9z Academy falou das barreiras que já deixou para trás e dos primeiros momentos de carreira

Superar os desafios dentro do próprio jogo já é uma tarefa que dificulta a vida de muitos que almejam ser profissionais. No caso de Moisés "Tomate" Lima, jovem que mora em Grajaú, no extremo sul de São Paulo, também precisou vencer dificuldades financeiras para crescer na carreira.

Em entrevista à Dust2 Brasil, Tomate falou de como surgiu sua relação com os jogos e citou a relação com BRDGAMER, youtuber que gravava vídeos com o jovem em seus primeiros anos no Counter-Strike.

"Conheci o BRD em 2017 mais ou menos, quando ele estava streamando e eu falei no chat normalmente. Um amigo meu estava jogando com ele, sobrou vaga no pug e comecei a jogar com eles e joguei bem. Além disso tinha meu nick esquisito, então ele passou a me chamar para gravar. Foi por conta de um momento que ele passou a me chamar mais para gravar as paradas".

Embora hoje esteja no competitivo, a relação com BRDGAMER levou Tomate a considerar ir para a criação de conteúdo. No entanto, ele já queria se destacar e mostrar seu bom nível de jogo e, somente depois, Tomate passou a pensar em competir no FPS.

"Todo mundo tem esse sentimento de, quando enfrenta um streamer, querer jogar bem para se destacar. Isso era o que me motivava. Eu ia jogando por diversão com ele e tentava jogar bem, mas também não tinha muita expectativa. Nessa época ainda não pensava em ser proplayer, fui passar a pensar nisso mais para frente quando jogava contra vsm e ganhava dele, quando ganhava um dinheiro na Liga Aberta, por exemplo", contou.

Tomate é o 23° entrevistado do MIRA JOVEM, série da Dust2 Brasil e GG.BET que conta as histórias de jogadores e jogadoras que estão construindo a carreira no cenário de CS.

Relação conturbada

"A relação de irmão mais velho com mais novo é sempre conturbada". É assim que Tomate avalia seu convívio com seu irmão mais velho, mas ele teve papel importante na carreira do jovem jogador que hoje está na 9z Academy.

Era seu irmão mais velho quem tinha um Super Nintendo, no qual Tomate teve seu primeiro contato com os jogos. Depois, ele comprou um PC, onde jogava CS 1.6 e também incentivava que Tomate jogasse.

"Na época meu irmão nem sabia que tinha competição, porque é muito difícil chegar essa informação aqui para a gente. Conheci o CS:GO em 2016 e passei a jogar, mesmo sem ter um PC muito bom. Porém tinha que dividir meu PC com meu irmão e ele jogava mais, já que era dele."

"Aprendi muito rápido e, lá para o final de 2018, já estava level 20 jogando contra uns caras bons. Eu jogava com o BRD, então me conheciam muito por estar em vídeos sempre. No entanto, aqui onde moro tem muito pico de energia quando começa a chover, e em 2019 meu PC queimou", acrescentou Tomate.

Tomate voltou ao CS:GO somente em 2021, quando seu irmão comprou um novo computador. Embora ainda não pensasse em competir, o jovem já havia ganhado conhecimento do cenário.

"Meu irmão jogava League of Legends e conheceu o mundo dos esports, então sempre me apoiou, sabe? Como eu fazia os vídeos com o BRD, pensava mais pro lado de entretenimento, que também dá dinheiro no CS, porém sempre gostei de competir porque via os campeonatos de LoL e achava muito foda os caras em palco com torcida."

Um dinheiro importante

Embora o irmão de Tomate já conhecesse o competitivo de esports, seus pais ainda não estavam inteirados sobre o cenário. No começo, o jogador não teve tanto apoio por parte dos pais, mas a partir do momento em que passou a ganhar um dinheiro, o jogo virou.

"No ano passado comecei a jogar uns campeonatos e ganhar um pouco de dinheiro entre aspas, que dava para mostrar que consigo comprar algumas coisas. Parece pouco para as pessoas, mas comprei minha cadeira. "Ah é só uma cadeira". Porém, para mim é tipo "nossa, comprei uma cadeira sozinho, só jogando". É algo totalmente diferente. Comprei meu fone e monitor também com dinheiro do jogo, e aí eles foram me apoiando mais quando fui ganhando um pouco mais de dinheiro. Acredito que toda família seja assim."

"Se eu não tivesse ganhado nenhum dinheiro antes, acho que eles não iriam me apoiar nem um pouco. Se você mora em uma comunidade, com 19 anos você já tem que estar trabalhando ou fazendo alguma coisa para ganhar dinheiro, não tem o que fazer. Com uns 17 anos já ganhava um dinheirinho, então eles foram me apoiando, porque se não seria mais difícil. O meu irmão foi mostrando os campeonatos e que dava para ganhar dinheiro com jogo, e fui demonstrando isso com tempo", seguiu Tomate.

Em outubro do ano passado, Tomate se juntou à 9z Academy e, assim que assinou com o time, soube que iria para Argentina para um bootcamp e para jogar a Argentina Game Show. A ida ao país foi motivo de orgulho, mas também de preocupação para sua mãe.

"Quando recebi a proposta, tentei explicar o mais rápido ao meu irmão para ele passar para minha mãe. Na hora ela ficou "meu Deus, vão matar meu filho". Foi quando falei que estava de boa, expliquei do meu jeito que era uma empresa gigante, é como se fosse um emprego normal e tentei passar isso para ela junto do meu irmão."

"Ainda assim ela ficou preocupada, porém acho que toda mãe ficou. Todo dia eu tentava ligar para minha mãe para tentar deixá-la confortável devido a ela ter muito problema de saúde, então ficava com muito medo de acontecer com ela. Eu tentava deixá-la bem consciente das coisas que estavam acontecendo", disse.

Um plano B

Como a 9z é uma organização com boa estrutura, Tomate diz que "agora dá para ficar de boa" financeiramente. No entanto, ele conta que tem um plano B para caso sua carreira no Counter-Strike não siga dando certo.

"Agora dá para ficar de boa, mas não vou parar de fazer minhas coisas. Todo sábado de manhã, acordava antes de todo mundo para fazer meu curso de inglês para não atrapalhar os treinos na viagem. Enquanto estava na GH fazia o inglês e, agora aproveitando que estou indo para a Argentina, tentar fazer espanhol o mais rápido possível. Eu nunca parei de estudar."

"O curso de inglês influencia demais, até no CS, quando você vê a comunicação dos jogadores porque você passa a entender o que eles estão falando. São palavras mais fáceis no vocabulário, que todo player de CS fala, porém (saber inglês) me ajuda a entender a comunicação, entender coisas diferentes. Isso me ajudou muito como profissional. E também é uma segunda opção... se eu souber três línguas já sou um trilíngue, então fica mais fácil arrumar um emprego caso dê ruim no CS", adicionou.

Tomate conta que se formou no Ensino Médio "levando na barriga" por estudar em "uma das piores escolas da região". Na época, ele já ganhava um dinheiro com o CS, embora ainda não tivesse uma organização. Ainda assim, o jovem considerou fazer faculdade ou trabalhar fora do CS.

"Quando estava me formando no ensino médio, pensava em fazer faculdade pública. Eu estudava e fazia curso de inglês, estava no meu terceiro ano no inglês, então pensava em fazer algo de letras que ia me ajudar bastante, porém não tinha nada muito em mente. Naquela época, estava mais pensando em terminar o inglês e trabalhar do que fazer faculdade mesmo. Mas era uma ideia, claro. Terminar os estudos, o inglês e trabalhar, viver uma vida normal."

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Um jogo desigual

Competir nas modalidades de computador nos esports exige um PC com boas peças, o que custa caro. Com 19 anos, Tomate conta que precisou fazer uma grande modificação no seu hardware com o lançamento do CS2 e ainda sente diferença da qualidade que tinha ao jogar na gaming house da 9z.

"O CS é um jogo muito desigual, sabe? É muito difícil você ver uma pessoa que realmente é pobre jogando o jogo, muito mesmo. As coisas são muito caras. Com o CS2, todo mundo que joga profissionalmente precisou fazer upgrade no PC, eu tive que fazer quase no PC inteiro para jogar de forma decente."

"Três meses atrás eu estava jogando num BenQ com uma 4060, nunca tinha jogado em um PC tão bom, e a diferença de um PC bom para um ruim é muito diferente, você tem muita vantagem. Já moro em um lugar que não é muito bom, hoje em dia já é melhor... quando jogava com o BRD, a Vivo só trazia 2 megas para cá e ficava com 45 de ping, agora não sei como eles trouxeram mas tem fibra, então a internet é bem melhor", seguiu.

Além do hardware, os periféricos ajudam na performance no CS. Tomate lembra dos seus equipamentos no começo de carreira e conta que recebeu doações que o ajudaram muito.

"Há pouco tempo eu usava mouse de EVA, fone gamer de 100 reais, era muito ruim. Em 2022 ganhei um Superlight de um amigo meu que também jogava com o BRD. Fiquei tipo "meu Deus, o cara vai me mandar um mouse de 800 reais por nada", enquanto o meu era de 100 reais. A diferença de qualidade dos produtos mais caros é muito superior, nem tinha esse dinheiro para gastar antigamente. Fui juntando e comprando minhas coisas sozinho como fone, cadeira, teclado e monitor. Também ganhei o mousepad, que o HUASO (PEEK) trouxe para mim porque o Buda não quis", contou.

Portas para o futuro

Tomate, que escolheu seu nick por um jogo de nave que "tinha um tomate com as mãos socando as naves", acredita que ser promovido para a 9z principal será muito difícil, porém o estudo pode ajudar a abrir essa porta para o futuro.

"Sem falar espanhol, acho muito difícil que vá para o time principal sendo sincero. O maior foco no Academy é ou ir para um time melhor ou para o principal, porém é muito difícil ser promovido, a não ser que eles queiram muito, principalmente sem falar espanhol já que eles se comunicam na língua."

Enquanto não é fluente em espanhol, o jovem pensa em seguir trabalhando e evoluindo com o objetivo de ser comprado por um time bom, embora ainda tenha um sonho mais ambicioso: ficar marcado no CS.

"Qualquer pessoa que joga num time Academy quer é ser comprado por um time bom, esse é um dos meus objetivos. Tentar em 2024 desempenhar o máximo que eu conseguir, fazer review, ver VOD, POV, trabalhar o individual. Me dedicar ao máximo para ir evoluindo. E o meu maior sonho é ter um sticker no jogo e ficar marcado para sempre", finalizou Tomate.

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