MIRA JOVEM: Alisson quer "botar cidade no mapa" e ser espelho para negros
Alisson Farias é mais um jovem que, desde novo, está antenado ao mundo dos jogos. Antes de conhecer o Counter-Strike, sua distração era o Point Blank, e os jogos eram importantes para que Alisson evitasse ficar na rua por viver em um bairro perigoso.
"Eu morava em um bairro muito perigoso, venho de uma família bem humilde. Meu pai sempre jogou FIFA com meu irmão, e meu irmão me incentivava muito a ficar dentro de casa. Meu primeiro contato com jogo de FPS foi com 11 anos com o Point Blank, no computador, desde pequeno quando meu pai comprou um pczinho", lembra o jogador em entrevista à Dust2 Brasil.
Ainda no Point Blank, Alisson conheceu os esports e descobriu que era possível ser um jogador profissional. No entanto, isso não passava pela sua cabeça, e continuou assim em seus primeiros meses no Counter-Strike por conta de ter condições ruins para jogar.
"Meu irmão me apresentou e me incentivou a jogar CS. O meu primeiro contato com o jogo foi vendo ele jogar. Via e pensava que era muito da hora, porém ficava broxado porque meu PC era muito ruim e tínhamos internet via rádio, ficava com 200 de ping", lembrou.
Alisson é o nono de doze entrevistados do MIRA JOVEM, uma série promovida pela Dust2 Brasil e GG.BET que vai contar a história de promissores jogadores e jogadoras do cenário nacional de CS:GO.
Na entrevista, o jogador citou as dificuldades que enfrentou para se tornar jogador profissional, revelou quem são suas inspirações e falou do ponto de mudança na carreira.
Amor à primeira vista
Na época em que somente jogava matchmaking, Alisson descobriu suas primeiras inspirações e desde então já sabia o que queria ser. Para o jovem, foi uma situação de "amor à primeira vista".
"Assisti alguns jogos da KaBuM. Aquilo me inspirou muito a querer ser igual eles. Vi o FalleN, coldzera, que são jogadores que me inspiraram bastante".
"É aquela famosa frase chiclê: "foi amor à primeira vista". Vi eles competindo e falei que queria ser um deles. Eles largaram tudo para viajar, pediram ajuda, fui um dos que doei. Foi pouco, mas ajudei. As partidas eram de madrugada e acordava antes de ir para escola para assistí-los", continuou Alisson.
Assim como eu
Nascido em Feira de Santana, na Bahia, Alisson celebrou os dois títulos de Majors conquistados pelo Brasil em 2016. Entre o quinteto vencedor, estava Epitácio "TACO" de Melo, recifense que também inspirou Alisson.
"Ver uma pessoa do Nordeste se dando bem assim, inspirando pessoas, me fez querer ser como ele e colocar minha cidade no mapa. Todos nordestinos sofrem um preconceito, falo que sou da Bahia, de Feira de Santana, e ninguém conhece".
"Quero colocar minha cidade no mapa. Vim de um bairro e cidade muito humilde e isso me incentiva ainda mais. Vejo também que o yel conseguiu, agora tem o t9rnay e o cutz no cenário", seguiu Alisson.
Embora Alisson dê valor aos jogadores que tenham semelhanças consigo pelas dificuldades impostas por viverem no nordeste, o jovem aponta que Gabriel "FalleN" Tole do e Marcelo "coldzera" David são seus maiores ídolos no CS.
"Eu me espelhei muito no cold por ele ter uma história parecida com a minha, porque seus pais também não o apoiaram muito. Já o FalleN foi o primeiro jogador que vi".
"Não acompanhava muito o Cold antes, porém quando ele foi para a LG passei a acompanhá-lo e muito. Vi ele sendo campeão do Major, MVP, melhor do mundo, e ali falei que também queria ser melhor do mundo e ganhar um Major. Foi quem mais me inspirou", explicou.
Quem tem amigo (e irmão), tem tudo
Alisson não esconde que seus amigos foram essenciais para a sua carreira profissional. Sem apoio dos pais, ele quase desistiu de ser jogador de CS, mas seus amigos e seu irmão o motivaram a seguir em busca do seu sonho.
"No começo foi um pouco difícil porque não tinha muito apoio em casa. Quase desisti de jogar por isso. Meu irmão que falou para não desistir e meus amigos aqui da Bahia me motivaram também a continuar".
O incentivo não se deu somente por palavras, mas também com ajuda financeira. Depois que seu computador quebrou, Alisson recebeu apoio dos seus amigos, que lhe ajudaram a comprar novos equipamentos.
"Graças à Deus conheci pessoas da minha cidade que viram futuro em mim e me incentivaram. Eles fizeram vaquinha para comprar um mouse, monitor 240hz, ajudaram com o computador. Eles e meu irmão que me ajudaram e, ali, tudo começou".
Embora fosse um fator que pesasse no seu psicológico, Alisson entende a falta de apoio por parte dos pais. O jovem vê com naturalidade a desconfiança acerca da carreira de jogador profissional de CS:GO, já que seus pais não conheciam o cenário e quiçá sabiam da existência da carreira nos jogos.
Ainda assim, Alisson lembra que largou os estudos para focar no CS e encarou a reação dos seus pais, vislumbrando o futuro de ser jogador profissional.
"Quando acabou (a pandemia), larguei os estudos para focar mesmo no CS. Foi um problema porque desde o começo meus pais não entendiam muito, para eles o futuro era só na faculdade sendo médico ou advogado. Entendo eles porque eles não sabiam que isso dava dinheiro e uma estabilidade".
"Quando desisti dos estudos, só meu irmão me apoiava. Quando fiz isso e, realmente foquei no CS, fui para Meta e foi uma virada de chave. Meus pais viram que eu estava ganhando salário, viajando para jogar. Eles viram que o cutz que era do meu time e também morava na Bahia, isso deu mais segurança para eles", seguiu.
Nova fase
O começo da carreira de Alisson foi em 2021, pela DreamHouse, onde ficou por alguns dias. Em janeiro o jogador foi para a Rehl e, no meio do ano, foi chamado para a Patins da Ferrari por Lucas "CutzMeretz" Freitas, também baiano, com quem já tinha jogado LANs no estado.
Juntos seguiram para a Meta, equipe na qual defendem até hoje. No ano passado, Alisson saiu do país pela primeira vez ao ir para a Argentina disputar a Supercopa de America.
"Ali foi a virada de chave da minha carreira. Voltamos e já fomos disputar a BGS que, para mim, foi o melhor campeonato que já ganhei. Foi muito importante porque mostrou que nosso trabalho e esforço deu resultado".
"A viagem (para a Argentina) foi tão corrida que nem acreditei. Tínhamos acabado de voltar do CBCS no Rock in Rio e um depois estávamos indo para a Argentina. Viajar para fora jogando CS, fazendo o que amo, para mim foi surreal", adicionou Alisson.
Em 2023, as viagens de Alisson estão mais longas. Depois de se classificar para o CCT Online Finals, o jovem embarcou para a Sérvia para jogar o torneio. Além de de uma realização pessoal, as viagens ajudaram na compreensão dos pais.
"Na primeira vez, meu pai ficou sem entender. "Você vai para outro país com quem?". Ele estava meio desconfiado se realmente era minha profissão. Expliquei para ele que sim, que estava dando minha vida por esse sonho e ele entendeu".
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Nada além do CS
Até o terceiro ano do Ensino Médio, Alisson tinha em mente que queria dar continuidade aos estudos e entrar na faculdade de Medicina. No entanto, quando chegou a pandemia e conheceu o CS, tudo mudou.
"Larguei no terceiro ano. Naquela época eu queria fazer faculdade para ser médico, era muito estudioso. Vi o CS na pandemia e esqueci tudo isso, foquei só no jogo", revelou.
Alisson sabe que viver de CS no Brasil ainda é incerto, portanto se esforça ainda mais para estar entre os poucos nomes que conseguem vingar no cenário. Mesmo com a incerteza, um plano B com os estudos está fora de cogitação.
"Hoje, não me vejo fazendo faculdade, sentado na sala estudando. Hoje me vejo jogando CS 24 horas igual já faço. Seguir sonhando e conquistando cada vez mais".
Motivações de todos lados
O ímpeto de Alisson vem de diversas fontes diferentes. De família humilde, como disse o jogador, ele quer cada vez mais poder ajudar em casa e retribuir os amigos da sua cidade que o apoiaram.
"Nunca vai parar a motivação de querer ajudar minha família. Como já falei, minha família veio de baixo. Estamos tendo um pouco de estabilidade agora e isso me motiva, para dar mais estabilidade para meus pais".
"Quero ajudar meu irmão e alguns grupos da minha cidade que sempre me incetivaram. São eles que, quando olho para trás, vejo quem foram os pilares e confiaram em mim para eu estar aqui hoje", acrescentou Alisson.
Alisson também tem como objetivo se tornar um espelho para as pessoas negras e nordestinas. Influenciado pelo dinamarquês Ismail "refrezh" Ali, que "jogou diversos Majors", o jogador da Meta quer mostrar que, mesmo com muitas adversidades, é possível ser um grande nome nos esports.
"Se você for ver no cenário hoje em dia, dá para contar nos dedos as pessoas negras que jogam. A maioria não tem condições. Recebo muitas mensagens de pessoas negras que falam que se inspiram em mim, isso também me motiva".
"Quero ser espelho, que as pessoas vejam e falem que não é poser da Bahia que a gente não consegue. Não só da Bahia, mas do nordeste todo. Quero que as pessoas vejam do outro lado, elas têm preconceito com o nordeste", finalizou.