Maluk3 sobre críticas: "Nem quero virar coach, por que vocês estão falando que vou virar?"
Colocar a Team One no RMR americano do IEM Rio Major não foi uma tarefa fácil. Mesmo com uma caminho em tese facilitado, a equipe brasileira sofreu e só foi conseguir a vaga no terceiro e último qualificatório. Pedro "Maluk3" Campos falou sobre o alívio que foi assegurar a vaga na seletiva do mundial.
"Com essa classificação, tiramos um peso das costas. Sabíamos que tínhamos uma responsabilidade de nos classificarmos aqui nos Estados Unidos. Trabalhamos muito para isso", disse o awper em entrevista à Dust2 Brasil.
"Chegamos aqui dois dias antes do primeiro qualify, não estávamos realmente muito preparados. Perdemos para um time desconhecido, lemos bastante críticas, algumas até de forma exagerada na minha opinião, mas trabalhamos, no silêncio, e os resultados nos treinos foram melhorando e imaginamos que pegaríamos uma vaga", completou o jogador.
As críticas à Team One, equipe brasileira que vive no exterior desde 2018, cresceram nos últimos tempos, principalmente após as várias mudanças na escalação e um início de temporada sem grandes resultados. Maluk3 reconhece que o time está devendo.
"Penso que se essas pessoas estão cobrando, criticando, é porque elas acreditam no potencial da equipe também. Acho que é um time com muito potencial, principalmente essa lineup que formamos agora. Na minha opinião, uma das melhores que a Team One já teve", afirmou.
"Ficamos devendo na última Challenger, tivemos muitos problemas, jogamos com lineups diferentes, e isso impactou muito no nosso jogo. Agora estamos um pouco mais encaixados, fechamos o time, todos confiam uns nos outros, são amigos, o grupo é bem unido", ressaltou o jogador.
Eu, coach?
Mesmo que não goze de muita fama entre os espectadores mais novos, Maluk3 sempre foi um dos jogadores mais respeitados do cenário nacional, seja pela longa trajetória de carreira ou pelos bons momentos que viveu no auge da Team One. Vestindo a camisa dourada há sete anos, o jogador nunca passou por um período onde foi tão criticado como o atual. Para Maluk3, isso se dá por vários motivos.
"Fiquei dois anos sendo capitão, comecei a enxergar o jogo de uma outra forma, virei um jogador muito mais suporte, jogando pro time. Meu desempenho individual realmente caiu, mas tenho a confiança dos meus companheiros de time, tenho certeza que eles estão felizes em jogar comigo, confiam no meu jogo", explicou.
"Acho que o pessoal critica muito por causa da minha idade. Os caras veem 32 anos e falam acho que está na hora do Maluk3 aposentar, virar coach. O que eu li que era pra eu virar coach… eu nem quero virar coach, por que vocês estão falando que vou virar coach?", completou.
De acordo com Maluk3, ele tem se cuidado, prestado mais atenção aos sinais do corpo, e sente que pode jogar em alto nível por muitos anos, principalmente com a ajuda dos companheiros de time.
"Minha confiança está voltando aos poucos, nosso treinador e nosso analista, os argentinos, tem me ajudado bastante, ajudado a equipe e o individual de cada um, e isso tem refletido no nosso desempenho. Passo a passo, vamos melhorando", afirmou.
Fortes e unidos
A performance individual não é a única crítica com a qual Maluk3 vem convivendo. Mesmo não sendo responsável direto, o jogador acaba ouvindo, por exemplo, as reclamações de que o time insiste sempre nas mesmas peças - com exceção de pesadelo e o próprio Maluk3, os outros três jogadores do time já estão em, pelo menos, sua segunda passagem pela equipe.
"Não acho que sempre apostamos nos mesmos jogadores. Demos chances para novos jogadores, o que acontece é que agora temos um objetivo, que é jogar o Major do Rio, e particularmente acho que montamos um time muito forte. Eu não sou mais o capitão, eu estava quebrando um galho, continuo ajudando bastante, mas prefiro não ser. O iDk assumiu e acho que ele, com a ajuda da nossa equipe técnica, está mandando muito bem", explicou.
"Quando você mora longe, em outro país, tem uma convivência diária, conta muita coisa. Não adianta ter um cara muito bom no time, mas não bate no dia a dia, tem algum problema de relacionamento. Isso impacta também no servidor. Hoje montamos um time que, além de ser muito forte, é muito unido. Conhecemos muito bem o iDk, que esteve conosco no auge da Team One e agora voltou, o trk voltou esse ano também, dispensa comentários, e o malbs era um cara que queríamos muito de volta, e felizmente deu certo. Não foi fácil trazer ele de volta, levou um tempo a contratação, mas é um cara muito do bem, que se sente bem jogando com a gente, está todo mundo muito feliz e é isso que importa, que reflete dentro do servidor. É só o começo, teremos muita coisa pela frente com essa equipe e podemos sim alçar voos maiores", continuou.
Outro ponto que também é sempre lembrado é o das trocas no comando. Desde que Olavo "cky" Napoleão deixou o time no fim de 2020, a Team One já teve seis treinadores diferentes - João "righi" Righi, Thiago "BTT" Monteiro, Vitor "eleito" Estiva, Julio "jun" Junior, Flávio "exp" Calheiros e Joaquin "LokomotioN" Cuevas, atualmente no cargo.
"Tivemos muitas trocas de treinadores, mas algumas não foram por opção nossa, e sim do próprio treinador. O BTT teve problemas pessoais, o righi pediu para sair. O LokomotioN e o gusi têm trabalhado bastante, me surpreenderam muito positivamente. Já queríamos trazer o LokomotioN há muito tempo, em janeiro ele chegou a trabalhar conosco, mas não conseguimos fechar com ele por problemas de contato. Agora felizmente deu certo", disse.
A dupla de argentinos, inclusive, tem sido bastante elogiada por Maluk3 nos últimos tempos.
"Eles são muito estudiosos, entendem muito do jogo taticamente falando, e o time agarra as ideias dele. Esse negócio de coach é difícil, porque somos uma equipe bem fechada. Dependendo do time, o treinador tem mais impacto ou não. O nosso, atualmente, está tendo muito, porque tudo que fazemos hoje tem o dedo dele. Taticamente, o time tem muitas coisas que eles trouxeram ou falam para a gente. É lógico que foge um pouquinho, no RMR, por exemplo, não tem nem coach. Mas no treino, no dia a dia, ele tem ajudado bastante, sempre trazendo coisas novas, corrigindo erros", afirmou.
"E eles não param de trabalhar, eu fico impressionado. O treino aqui (em Las Vegas) acaba às 8 ou 9 da noite, e lá na Argentina é meia noite, uma da manhã, e eles continuam trabalhando e trazendo o que precisamos corrigir para outro dia. Nem sei como eles estão dormindo, se eles estão dormindo bem (risos). Classificar para o RMR era nosso objetivo, demos um gás, sabíamos que tínhamos totais condições, e nada mais justo enaltecer o trabalho dos dois, porque até eu, que sou mais experiente tenho tomado decisões erradas, e eles têm me ajudado nisso, impactando positivamente na minha performance individual", completou o veterano.
Mais fácil?
Nas últimas semanas, o que mais se ouviu é que a seletiva norte-americana era fácil, e Maluk3 concorda em partes.
"O qualify do NA não é tão fácil igual algumas pessoas pensam, mas o terceiro não estava difícil, porque os melhores times já tinham se classificado. Acabou que o terceiro qualify ficou mais fácil, mas mesmo assim não foi", afirmou.
"Ficou um pouco mais fácil porque a EG tomou alguns times, os times brasileiros foram para o Brasil, com exceção de nós. No começo do ano nos classificamos vencendo a GODSENT, mas era um qualify muito mais difícil. O terceiro, que passamos, estava mais fácil. Estávamos confiantes que pegaríamos uma vaga, porque se não pegássemos, seria um baque negativo", continuou o jogador, que destacou que o foco é jogar mais dos grandes torneios, como o time já fez no passado.
Um objetivo pessoal
Com a vaga conquistada, o time briga por um lugar de maior prestígio, o do IEM Rio Major. A missão não será fácil e a equipe tem 15 adversárias brigando pelo mesmo objetivo durante os dias 5 e 9 de outubro, em Estocolmo, na Suécia. A primeira será a Liquid, considerada a melhor equipe na disputa.
"A Liquid é um time forte, do top mundial, e que está jogando bem, mas é uma md1, nós jogamos contra eles valendo seed no outro RMR e foi pra prorrogação. Enfrentamos eles lá, foi um jogo onde nada deu certo e realmente jogamos bem mal a Inferno, mas o jogo é jogado, tenho confiança que podemos ganhar deles, começar 1-0, vamos estudar bem eles, focar no nosso também, e jogar. Eles são favoritos, mas as coisas se resolvem dentro do servidor", afirmou o jogador.
O duelo com os norte-americanos não será fácil, e Maluk3 também não sabe classificar a Team One perante os outros times brasileiros. Para o awper, a prova de fogo acontecerá justamente durante o campeonato na Suécia.
"Lá vai ser a prova, vamos poder mostrar onde estamos. Jogo de Brasil contra Brasil é sempre muito aberto, independente do adversário. Se pegarmos paiN, Arctic, Plano, é um jogo equilibrado e difícil para qualquer um dos dois. Lá poderemos ver o patamar em que estamos, qual o melhor time brasileiro hoje, quem se preparou melhor", disse.
"Todos querem representar o Brasil no Rio e acho que o pessoal vai dar um gás máximo, não só a gente, mas todos os times. Vai ser lá em que veremos qual nosso patamar. Acho que a Team One virá mais forte do que estava no RMR (do major) da Bélgica", completou.
E, assim como praticamente todo jogador brasileiro, Maluk3 não abre mão de estar no Rio de Janeiro para o primeiro Major em solo nacional.
"Jogar um Major é um objetivo pessoal meu, ainda mais esse no Brasil, que é especial. Estou confiante que podemos sim pegar uma das vagas, acho que a equipe inteira está confiante, montamos um time forte, e agora é treinar bastante esse mês que temos. É só em outubro, falta um mês, e acho que dá pra evoluir bastante nesse tempo e chegar preparado para pegar uma das vagas", disse.
Se o lugar no mundial não vier, porém, não será o fim do mundo para a Team One.
"Estamos bem confiantes no time, montamos o que nós queríamos, então acho que não teremos mudança, independente do resultado. A pressão maior já foi, tínhamos esse peso de nos classificarmos para o RMR, agora temos a de classificarmos para o Major, mas são muitos times bons e não sabemos o que vai acontecer. Não acho que será um desastre se ficarmos de fora. O que queremos agora é somar mais pontos nos rankings para jogarmos torneios maiores, com times fortes", finalizou.