Pode colocar a camisa no peito, passar um café e dar a fuga no chefe. Finja que tá com dor pra não ir à aula, até porque a dor não é totalmente ficcional. O peito aperta cada vez mais forte conforme a hora vai chegando. Pode sair gritando na rua que com Lincoln Lau o Major volta. Pode abrir uma glacial às 7 da manhã de uma segunda e falar pra mulher que hoje é diferente: “o Professor tá no major, amor”.

Para o torcedor mais pragmático, sinta-se feliz também ao postar no Twitter que só pretende acompanhar mesmo quando o SUPER Furia estiver no servidor. Sua garra te fez furioso e você merece toda essa marra. Todo esse orgulho. Já para os que não se encantam tanto assim com a frieza dos números e preferem a magia, pode mandar no grupo do WhatsApp o seu redondo com a IMP 3-0 e sussurrar baixinho pro lado, pra ninguém ouvir, quase em oração: “fer, me ajuda, meu redondo platinado tá nas suas mãos”. E realmente tá.

A única verdade é que existem infinitas formas de aproveitar essa paixão que é o CS:GO, sendo com um lobby nível 10 na GC ou assistindo o s1mple dropar 40 bonecos numa terça-feira qualquer, fazendo você pensar por um segundo que a beleza do jogo talvez esteja só no alto nível. Você desconfia que os flicks inacreditáveis sejam o motivo da existência do CS desde os seus primórdios. Mas durara pouco. Em um lapso de razão, você lembra do amigo bisonho tentando um ninja horroroso na B da Mirage, morrendo na faca, e tudo faz sentido: a competição é também sobre os momentos de risada. Sobre o cara que você pega de costas e erra as 30 balas. Jogue a culpa no 64 tick, se quiser. Tanto faz.

O importante é não deixar o Major passar sem degustar todo o processo que forja os campeões. E esse processo se mostra democrático, vez que com frequência os vilões nascem nas mesmas partidas que os heróis. Seja naquele ace lindo em round crucial ou numa rotação duvidosa que abre gap pra um cara marotar o time inteiro. Inclusive, o mesmo jogador pode ir de herói a vilão muito rápido; como esquecer o summit1g completando pela Splyce? Queimando numa molly sozinho depois de “ganhar” o clutch num 15x11 favorável, pra depois tomar a virada por 19-16 em mapa eliminatório.

A competição é implacável. Não perdoa. Muitas vezes o alto nível pede tanto e devolve tão pouco. Mas pra aqueles que os deuses do CS resolverem sorrir durante os próximos dias de competição, que essa glória absolutamente passageira das vitórias possa ser saboreada de verdade enquanto durar. Que não haja desconfiança ou arrependimento ao lembrar de tudo que foi deixado de lado pra seguir o grande sonho. Tanto as expectativas familiares quanto as próprias. Aqueles sonhos de criança nunca contados a ninguém e que não vão acontecer por causa dos anos de entrega total ao jogo.

No final do dia, mais do que qualquer outra coisa, que em algum momento do evento o êxtase que acompanha a competição possa ser igualmente experimentado por quem assiste do conforto da casa. Apesar da rotina infeliz, das 8 horas por dia num cargo ruim e do metrô lotado, que o jogo seja capaz de fazer alguém se sentir diferente. Ainda que só por um instante mesmo.