BiDa: "Espero poder trabalhar bastante com CS"
Bernardo "BiDa" Moura deve, em breve, voltar à comunidade que o consagrou. Depois de deixar a Riot Games, o narrador de 32 anos tem como prioridade se aproximar novamente do Counter-Strike, jogo em que foi a principal voz entre 2013 e 2018 de maneira indiscutível.
"Eu espero poder trabalhar bastante com CS, sim", disse BiDa em entrevista à Dust2 Brasil durante suas férias.
"No mínimo, gostaria de pegar jogos que já aconteceram e fazer narração deles, de Majors passados. Eu perdi muita coisa, e quero ter essas gravações, voltar a assistir alguma coisa. Se eu vou fazer ao vivo não depende só de mim, mas eu espero que possa ter alguma oportunidade de fazer alguns campeonatos", completou o narrador.
BiDa disse que não esperava uma recepção tão calorosa da comunidade de Counter-Strike em sua nota de despedida. Em meio a comentários esperançosos de fãs do FPS da Valve e de lamentação da comunidade de VALORANT, o nome do narrador chegou a ficar entre os assuntos mais comentados do Brasil no X (antigo Twitter).
"Toda semana que eu faço live vem pelo menos uma pessoa falar que está com saudade minha no CS, ou gostaria que eu voltasse, falando que a infância dele foi assistindo eu narrar. Era uma pessoa ou outra, agora a repercussão que deu (após o anúncio) eu não esperava, um número muito grande de pessoas dizendo que estavam com saudade, me desejando um bom retorno", explicou.
Consagrado no CS:GO, BiDa ainda nem abriu o Counter-Strike 2, a nova versão do jogo, lançada no final de setembro. Ele espera fazer isso em breve, quando receber um novo computador.
"Eu ainda não joguei. Eu estava montando um computador novo, e falei que ia esperar ele ficar pronto para jogar na melhor condição possível. Achei que ia demorar 10 dias, mas já está demorando dois meses para o computador ficar pronto. É um tempo muito maior do que eu gostaria de ter passado sem jogar", disse.
Descontente com o momento
BiDa deixou a Riot após três temporadas dedicadas ao VALORANT. Em 2021, depois de ter trabalhado em alguns campeonatos do jogo então recém lançado, ele foi contratado pela empresa para ser uma das caras do Valorant Champions Tour (VCT) brasileiro. Depois de renovar o contrato em duas oportunidades, BiDa decidiu deixar a empresa ao fim do último vínculo.
"Em 2021, eu tinha decidido que ia parar de narrar completamente, tive reunião com a Riot, avisei que não ia continuar no ano seguinte. Eles deram uns dias para eu reconsiderar e acabou que, depois de um tempo conversando com minha família, eu decidi continuar, e foi uma decisão completamente correta. Naquela época eu estava insatisfeito com a minha performance, com algumas coisas", relembrou.
"(No CS) eu tinha liberdade de escolher o que fazer, qual jogo narrar, é uma tranquilidade diferente. E eu estava sentindo um pouco esse baque de ter que seguir todos os jogos, fazer todas as coisas da empresa. Apesar dos jogos serem excelentes, de eu ter curtido muito, é diferente quando você faz tudo por conta própria e por conta de outros. Por ter crescido num sistema de independência, eu senti um pouco", continuou BiDa.
"Eu percebi que foi meio esquisito da minha parte largar tudo por conta disso. Eu não queria nem narrar outros jogos, queria largar narração. Acabei voltando atrás. 2022 foi um ano que agradeci de ter ficado, mas em 2023 começaram a voltar essas dúvidas da minha cabeça, se eu deveria continuar ou não", disse.
BiDa diz que não há um motivo "perfeito" para definir sua saída. O veterano acredita que o principal fator foi o desconforto com seu momento.
"Sinto que, a cada transmissão que ia, não estava curtindo tanto o meu trabalho, o meu espaço. Eu fazia o possível para ter uma transmissão boa, mas sentia que não estava gostando muito do meu momento, da minha performance, do meu eu", contou.
Apesar de deixar a Riot, BiDa não quer se afastar do Valorant, e acredita ter deixado as portas abertas para possíveis watch parties - prática comum da empresa na modalidade.
"Não quero sair do Valorant completamente, não. Quero continuar acompanhando os campeonatos, ainda mais que a galera tem mais oportunidade de watch parties e tudo mais. Se eu conseguir conquistar esses direitos, vou continuar fazendo (Valorant) também", disse.
"Me dei muito bem com todo mundo, trabalhei bastante lá dentro, eu respeito completamente as decisões que eles tomaram. Muita gente está insatisfeita com o rumo que o Valorant brasileiro está tomando, mas não é uma questão de problemas da Riot Brasil. É uma questão de unificar o Valorant como um todo, e no Brasil sempre tivemos muitas vantagens comparado a outras regiões. Até desconsiderávamos isso de certa forma, mas agora que perdemos essas vantagens, estamos sentindo muita falta delas. Acho que eu saí pela porta da frente, acho que está tudo bem e espero que consigamos as watch parties. Eu nunca tive as da Riot Brasil, por sermos casters, tínhamos uma proposta diferente, tanto da Riot quanto dos campeonatos estrangeiros. Espero poder conquistar eles da minha forma, jogando e tentando engajar melhor a comunidade", completou.
Relação esquisita
Para concluir o objetivo de narrar jogos de CS, BiDa vai, invariavelmente, cruzar caminhos com Alexandre "Gaules" Borba, principal voz do jogo do Brasil e dono dos direitos em português dos grandes campeonatos. No passado, quando Gaules começou a se destacar e crescer na Twitch, embates entre os fãs da dupla e pequenas trocas de farpas entre o streamer e narradores profissionais foram costumeiros. BiDa classifica essa relação como "esquisita".
"A minha relação com o Gaules sempre foi esquisita. Presencialmente sempre nos demos muito bem, mas o que mais muda a nossa relação é a comunidade. As pessoas dizem que ele falou isso, falou aquilo, e ninguém falou nada. A nossa relação é mais isso da comunidade falar que um falou pro outro do que qualquer outra coisa", disse.
Questionado se trabalharia ao lado de Gaules - seja no canal principal do streamer ou em sua vertente voltada à narração profissional, a Gaules TV -, BiDa foi sucinto.
"Eu não tenho nenhuma porta fechada. Não sei quanto à parte deles, para podermos conversar sobre", disse.
O narrador ressalta que não foi atrás de comprar direitos de transmissão e que, no passado, nunca trabalhou dessa forma.
"E eu não fui atrás de contratar ou de comprar nenhum direito de transmissão. Eu vou ver o que tem disponível, as possibilidades. Eu nunca tive a condição de comprar os direitos de transmissão. Antigamente fazíamos parcerias com a própria empresa, então eu fazia no canal delas. Era assim na ESL, StarLadder, DreamHack. Eu não comprava direitos e isso seria uma novidade para mim também, mas eu nem sei como isso seria feito", explicou.
Sem exclusividade
BiDa promete as primeiras novidades para janeiro, quando deve voltar à São Paulo e iniciar as streams. O narrador também promete buscar pelas primeiras oportunidades para narrações - o desejo é focar em CS e VALORANT, mas outros jogos também serão bem-vindos.
"Eu quero, no mínimo, ter bastante contato com VALORANT e CS. São os dois jogos que eu mais me apeguei nesse tempo todo de transmissão, e eu gostaria de manter os dois. Não trabalhar com nenhum deles de maneira exclusiva. Jogando eu vou jogar um monte de coisa diferente, meus jogos malucos de puzzle, mas em termos de trabalho eu queria pelo menos VALORANT e CS, e os outros jogos é uma questão de oportunidade, de me identificar com o jogo", explicou.
"O PUBG e o Apex são dois jogos que me identifiquei bastante, o Apex é um jogo que gosto muito, e talvez seja o mais divertido para jogar casualmente, e o PUBG por ser um dos precursores do battle royale, e ter aquele drama de final de jogo que era muito incrível de assistir. Nesse momento eu gostaria de focar em, pelo menos, CS e VALORANT. E o que vier a gente vai vendo", finalizou.