MIRA JOVEM: Do medo de MM ao profissional, ferzy já teve o CS como válvula de escape
Assim como muitos dos jogadores profissionais atualmente, o Minecraft foi um dos primeiros jogos na vida de Fernanda "ferzy" Adames. No entanto, a vergonha de admitir que gostava de viver no mundo quadrado a levou mais a fundo no CS.
"Eu jogava Minecraft, só que na escola que estudava, o jogo não era muito bem visto. Então eu nem falava para ninguém que jogava e meio que fiquei "ah, não vou ficar falando que jogo Minecraft, vou ficar falando que jogo CS". Com o tempo fui só jogando CS e fui largando o Mine, mas joguei muito até então, na escondida", contou em entrevista à Dust2 Brasil.
O contato com o CS se deu por meio do seu irmão, 3 anos mais velho, que a apoiava a jogar. Porém, os primeiros meses no FPS que viria a ser sua profissão, foram marcados pelo medo.
"Tipo, eu não sabia jogar direito e tal. Aí fiquei um bom tempo por causa disso, porque tinha medo de acontecer alguma coisa, ser xingada ou sei lá, me kickarem da partida", lamenta.
ferzy é a décima sétima entrevistada do MIRA JOVEM, série da Dust2 Brasil e GG.BET que conta as histórias de jogadores e jogadoras que estão construindo sua carreira no cenário nacional de CS.
Durante o papo, ferzy lembrou o momento em que o destino a levou à carreira profissional, fase de estudos, ida para o Valorant e mais.
Começo amedrontado
Depois de jogar Call of Duty no console, ferzy conheceu o CS:GO após ver seu irmão jogar. Incentivada por ele, passou a ficar horas no FPS da Valve, porém sem jogar o modo mais tradicional, o MM.
ferzy conta que, na época, não jogava com nick ou foto de mulher, além de não abrir o microfone. Porém, os xingamentos por conta da sua gameplay a afastaram do MM.
"Não lembro se (meu irmão) me influenciava a jogar MM ou não, mas eu tinha muito medo de jogar sozinha, sabe? Porque, às vezes, já levava uns xingos no casual e corrida armada. Que casual você escuta todo mundo, né? E aí tinha um monte de gente que ficava falando e tal. E aí eu tinha um certo medo de jogar MM."
A situação mudou para ferzy quando ela passou a jogar com seus amigos da sua cidade, Cascavel, no Paraná. Junto deles, criou a coragem para jogar MM e também a lidar melhor com os xingamentos, e até com os problemas da vida.
Válvula de escape
ferzy se mudou de Cascavel para Curitiba e se afastou, ao menos presencialmente, dos seus amigos. Foi então que o CS surgiu como válvula de escape.
"Vivi quase a minha vida inteira em Cascavel e tinha muitos amigos, lá a cidade é menor e todo mundo meio que se conhece. Quando me mudei, foi um choque. Já falam que o povo em Curitiba é mais fechado e entrei na escola com esse pensamento, não me abria para eles e vice-versa. Só depois de muito tempo que fiz amizades, sou uma pessoa muito complicada."
"Eu não tinha amigos aqui em Curitiba. O CS meio que virou a minha válvula de escape. Era o que me mantinha bem, feliz. Eu ia pra escola, não tinha muitos amigos no começo. E aí ficava falando que não queria mais estudar e, quando chegava em casa, jogava com meus amigos. Só queria voltar para casa logo para ter meus amigos por perto e jogar CS", acrescentou ferzy.
Coisa do destino (ou algoritmos)
Embora Curitiba não fosse o local ideal para ferzy, foi na cidade que a vida da jogadora ganhou um direcionamento. Por causa do destino, ou de algoritmos, ela descobriu uma peneira para um time feminino de CS.
"Era uma LAN, a Cooldown, que ficava a uns 15 minutos da minha casa. Apareceu aqueles patrocínios que mostram no Insta. Eu falava com meu irmão e meus amigos sobre isso (jogar profissionalmente), então é aquele negócio que o celular escuta a gente, né? Ouve o que você tá falando e aparecem coisas relacionadas. Foi realmente o que aconteceu", lembrou.
Junto do seu irmão e da sua mãe, ferzy foi para a peneira, que tinha seis meninas no total. Todas foram aprovadas, mas uma precisou ficar na reserva. E foi assim que ela fez mais amizades em Curitiba e passou a ter mais interesse no cenário competitivo.
"Foi muito bom porque nessa época, embora já tivesse umas amigas no colégio, fiz amizades novas. Uma delas tenho até hoje, algumas outras a gente foi se afastando no caminho. Foi bom para conhecer esse mundo. Eu não acompanhava nada de CS, só via meu irmão assistindo os jogos no Major, mas eu não tinha tanta vontade de ver, só gostava de jogar."
"Como conheci elas, a gente passava os finais de semana na LAN e sempre tinha um telão com o jogo passando, então fui entrando nisso, conhecendo a comunidade, as pessoas", continuou.
Entre os estudos e o CS
ferzy conta que seus pais nunca a proibiram de jogar, mas desde que ela estudasse. A jovem atendia o pedido dos responsáveis e, inclusive, chegou a trabalhar com seu pai por um tempo para conseguir dinheiro para pagar seu notebook, já que ela ainda jogava no computador do irmão.
No meio tempo em que fazia as funções de contar estoque, fazer cadastros, atender o telefone e até vender pastilha de freio na empresa de peça de carros do pai, ferzy aproveitava o almoço para estudar o CS.
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"Teve até um dia que briguei com meu pai porque ia chegar atrasada no treino. Durante meu horário de almoço, assistia demos, aproveitava esse tempinho para estudar o jogo."
"Era uma rotina bem complicada porque estudava de manhã, já fazia faculdade nessa época. Trabalhava de tarde e às 19h começava o meu treino. Depois que comprei o meu notebook, tive que continuar trabalhando para pagar as parcelas dele", conta.
Enquanto trabalhava na empresa do pai, ferzy estava na faculdade. A jogadora fez um período de Direito, mas trancou com o começo da pandemia, em 2020. Ela diz que gostava do curso, mas na época passou a ver o CS como uma profissão.
"Na Cooldown eu ainda não via tanto o jogo como um trabalho. Quando comecei a fazer faculdade, já sabia que não queria tanto estar ali, queria ficar jogando, porém ainda não tinha isso bem decidido na minha cabeça. Até porque a faculdade era uma parada que eu gostava de fazer, não era algo que via como obrigação."
"Tudo bem que fiz só um período de Direito, mas meus tios são advogados, cresci nesse ambiente, tinha uma 'paixãozinha'. Porém, conforme fui fazendo amizade no CS, jogando em alguns fakes, a minha cabeça mudou", adicionou.
Mesmo com a mente já focada em ser profissional de CS, ferzy ainda fez EAD de Marketing pelo pedido do pai. Mas "sem videoaula, só slides e a prova toda disponível no Google", ela não via sentido em seguir no curso e avisou ao pai que queria focar no jogo.
Atualmente, ela não se imagina parando para estudar, mas não descarta a possibilidade, já que não sabe qual será o dia de amanhã.
"Não vou falar que não voltaria pro Direito nunca porque, se um dia o CS acabar, sei lá, vou ter que fazer algo. E o Direito era legal. Se eu não pudesse fazer outras coisas no meio dos jogos, como ser influencer de uma marca e precisasse escolher um curso, iria pra Direito. Porém, atualmente eu não tenho vontade alguma de abrir um livro para estudar."
Todos na mesma página
Enquanto ferzy já estava definida que queria ser profissional, seus pais ainda estavam receosos. Depois de sair da Cooldown, ela passou pela KV e SWS - equipe essa que pagou seu primeiro salário e também a levou para o Rio de Janeiro para fazer um media day.
Porém, foi na Liberty que todos ficaram na mesma página, até pela maior estrutura que a organização proporcionou, além do fato de assinar a carteira da jogadora.
"Na SWS eles passaram a ter um pensamento de que era algo sério, porque tive que viajar para o Rio para fazer o media day. Então eles pensaram "pô, ela tá viajando para tirar foto por causa do jogo". Porém eu não recebia um salário muito alto, então eles ficavam com um pé lá, um pé para cá."
"Na Liberty eles começaram a ver que era mais profissional e entender melhor. Na SWS já tinha psicólogo, porém na Liberty tinha nutricionista, médico, depois assinamos carteira. Foi nessa época que eles pararam de se importar comigo faltando os jantares da família", seguiu ferzy.
CS é paixão
Entre janeiro e maio de 2022, ferzy defendeu a Liberty exclusivamente no CS. Depois da equipe cair diante da FURIA no jogo classificatório para o primeiro internacional da ESL Impact, a organização passou a jogar no Valorant.
"Nós vimos que o Valorant estava dando muita mídia naquela época, então ficamos pensando tanto na gente quanto na organização. Se a gente parasse, íamos ficar sem organização porque eles não iam renovar nosso contrato. Conversamos com a organização e entre a gente, e decidimos que era melhor migrar", disse.
No início da trajetória no FPS da Riot Games, ferzy conta que o time teve problemas internos que atrapalharam a evolução do time. Depois disso, a jogadora junto de Regiane Santos e Juliana "ujliana" Scaglioni anunciaram que estavam disponíveis para ouvirem propostas também no CS.
Hoje, REGIANE é companheira de equipe de ferzy também no MIBR, enquanto ujliana está sem time após defender a W7M. Entre os FPS, ferzy não vê dificuldade em optar pelo CS.
"CS é paixão, né? Não tem como. Se eu tivesse uma proposta boa igual para CS ou Valorant, viria para o CS. É paixão, não dá."
Do medo ao profissional
Depois de começar a trajetória no CS com medo de jogar MM , ferzy atualmente é jogadora profissional. Embora conte que nunca tenha pensado nessa mudança de trajetória, avalia que tudo isso é "uma parada muito louca".
"É uma parada muito louca, caralho, agora estou aqui. E tem gente que joga e pode estar me assistindo jogar competitivo. O que eu não gostava, eu faço hoje. Nunca tinha parado para pensar por esse lado, mas é muito massa porque nunca pensei que isso seria a minha vida."
Inicialmente inspirada por Gabriel "FalleN" Toledo, ferzy sente orgulho de onde chegou, mas principalmente de quem ela é. A jogadora fala que quer ter o reconhecimento por quem ela é, e não por onde está.
"Toda vez que fecho a live, sempre tem alguém que me manda mensagem agradecendo. Isso é muito foda, corro para contar pros meus pais, não sei nem explicar o que sinto. Quero continuar sendo inspiração para mais pessoas e que as pessoas curtam e queiram continuar me seguindo, conquistar cada vez mais público."
"Gosto que as pessoas torçam por mim, não só porque estou no MIBR, mas por conta de tudo que a gente já passou, o que faço. Quero ser referência por causa do meu trabalho, isso é um sonho. Já aconteceu de alguém estar num dia muito merda e falar que após assistir minha live ficou melhor. Isso pra mim é surreal, tá ligado? Me deixa muito feliz e me inspira cada vez mais", finalizou ferzy.