Acusado de manipular resultado no CCT se defende e relata ameaças
O jovem R.R. acusado de ter aceitado proposta para entregar partida da própria equipe pelo CCT South Americas Series #8 conversou com a Dust2 Brasil, junto da mãe, Tatiana Ranieri, e afirmou que é inocente, dizendo que a exposição não completa da situação o fez ser condenado pela comunidade e que a punição que recebeu é injusta.
Na entrevista, a mãe e o jogador dizem que a conversa (veja na íntegra no vídeo abaixo) foi levada em tom de brincadeira por se tratar de um conhecido, e que não houve aceitação por parte de R., apenas uma mensagem para que os pedidos parassem e ele pudesse focar no jogo. As partes só entenderam a gravidade da proposta depois de receberem ameaças.
Confira a conversa entre a reportagem, o jogador e a mãe na íntegra.
Dust2 Brasil: Nos conte a sua versão do acontecido.
R.R: Eu já conhecia o G (apostador) de outras coisas. Não sei se você conhece o WaveIGL, mas o G. fazia as aulas do Wave junto comigo há dois ou três anos. Era uma pessoa que eu até confiava por ser da mesma cidade que a minha. E, do nada, quando eu estava no meio do jogo - isso também é uma informação que as pessoas não sabem -, no fim da segunda metade da Inferno ele me chamou e me perguntou se eu não queria fazer um dinheiro fácil. De primeiro momento eu falei que não queria e ele foi insistindo. E como eu achei que era um caso de brincadeira eu falei 'Tá bom'.
Ele estava insistindo e eu achei que era brincadeira. Só fui jogando o meu jogo. No começo eu pensei que era só uma brincadeira. O que eu deveria ter feito depois de tudo o que aconteceu era só ter bloqueado ele. Foi totalmente uma inocência minha em não entender a situação.
Percebemos que a conversa tinha mensagens apagadas.
É, então. Ele apagou um monte de mensagem.
O que tinha nessas mensagens?
Ele perguntou se eu não queria fazer dinheiro fácil e, de primeira instância, eu comecei a falar que não, que eu não queria estragar a minha carreira. Por isso que depois ele ficou insistindo. Como eu estou te falando, ele era uma pessoa que eu pensava que ser amigo. Então, eu achava que ele não faria um negócio desse comigo, mas hoje em dia as pessoas só pensam no dinheiro e relevam a amizade. E como eu conhecia ele há muito tempo, eu não imaginava que ele queria estragar a amizade. Como muitos sabem o CS é muito importante na minha vida e eu não consigo ficar sem jogar. Então eu jamais faria um bagulho desse.
Você mencionou que conheceu ele na internet, em um curso do Wave. Vocês não se conheciam fora dali?
Foi na plataforma do Wave, na Black Belt.
Essa foi a primeira vez que ele te fez uma proposta do tipo?
Sim.
Na conversa dá para ver que você resistiu no começo, mas tem um momento que você disse sim para ele. Deu a entender que você aceitou a proposta dele. Por que você aceitou mesmo depois de tanto relutar que não?
Como eu te falei, eu pensei que fosse uma brincadeira. Depois que eu tinha falado não, ele começou a insistir. Aí eu falei 'tá bom', mas tanto é que não tem nada falando ‘tá bom então, eu vou entregar a partida’. Tanto é que eu não fiz isso. Tanto é que nas mensagens ele escreveu que o que valia era o segundo mapa, a Mirage, e foi o meu melhor mapa. No primeiro mapa eu vi pessoas falando que eu joguei mal e tudo, mas, como eu falei antes, ele me chamou na segunda metade do primeiro mapa. Eu joguei mal (o primeiro mapa) porque eu joguei mal mesmo. Eu estava nervoso. Era o primeiro campeonato que eu estava jogando de grande relevância. Então, eu joguei mal, nervosismo. Só que no segundo mapa, que era o que interessava para eles, eu joguei mó bem. Estava solto, jogando o meu jogo.
Já na conversa, e também como pontuado pela sua mãe, vimos ameaças. As ameaças só ficaram naquela conversa ou foram para as redes sociais. O que vocês podem me contar?
Tatiana: Deixa eu falar um pouco a respeito disso. É a parte após o acontecimento. O relato do R. está íntegro. Eu deixei ele te contar exatamente o que aconteceu. E o que aconteceu após, em seguida do término do jogo, esse próprio menino, o mesmo que fez a proposta…. podemos chamar de proposta. Eu questionei o R. em seguida (sobre a situação).
O meu marido é policial civil. Então, o R., tem bastante ciência do que é certo e do que é errado. É bem fechado aqui em casa com relação a isso e ele é um menino bem caseiro, de família, com índole. Nós questionamos porque, de primeira, fomos buscar o que tinha acontecido. Ele explicou: eu falei não, eu estava no meio do campeonato, na correria do campeonato.
É o sonho da vida dele. O R. vive e respira o CS. Então, o R. falou 'tá bom'. O 'tá bom' dele, o que ele achou - me corrija filho se você achar que estou traduzindo de forma errada -, que depois que ele ganhasse o moleque ia falar: 'Me ferrei, acabou'. Só que posterior ao término do jogo moleque começou a ameaçar o R. Enviou, inclusive, um print, que apagou.
Eu falei com esse menino e eu posso te dar mais detalhes do que aconteceu. Ele mandou para o R. a mensagem ‘Eu sei que você mora em tal lugar’, falando de um bairro que não é o que moramos, mas é um bairro da minha cidade porque o menino também é da nossa cidade. Então já colocou o R.R acuado. E aí ele soltou esses prints para outros caras que pseudo fizeram as apostas até porque não sabemos de que forma ou em que plataforma as apostas foram feitas. Não sabemos de fato o que aconteceu.
Eu fiquei com receio pela integridade física do meu filho de fato e por isso, só por isso que nós fomos atrás disso. O pessoal da organização nos procurou, eu falei com o responsável da organização. Eles se solidarizaram em relação a conduta do R., se preocuparam com o que tinha acontecido. Me deram total apoio, me municiaram de informações das pessoas que estava tentando manipular isso porque a intenção era isso. Aí eu comecei a mostrar e falei 'gente, olha aqui o que de fato aconteceu'. E eu fui buscar com a organização.
Em seguida ao término do jogo, o R. entendeu que ganhando o menino iria ver ‘ele ganhou, filho da mãe”'. Isso porque o R. entendeu que era uma brincadeira. Esse rapaz que fez a proposta começou a ameaçar, inclusive mandando prints de um bairro da minha cidade, dizendo: 'Se você não mora aí, alguém da sua família mora e eu vou te achar'. E o R., adolescente, começou a ficar bem receoso, com medo, e vieram vários outros prints. Essas pessoas ameaçando de vários estados. Estamos falando de Brasília, Nordeste, tudo o que era estado. O R. entendeu que realmente era sério o negócio.
Quando esses caras começaram a chamar, ele veio e me contou: 'Mãe, tem uns caras me ameaçando de morte'. Eu fui olhar, ele me mostrou e eu entendi que a raiz do negócio era esse G. e fui nele diretamente.
Essas ameaças foram só Twitter?
No WhatsApp. O menino passou o WhatsApp do R. O que pedimos ao R. é que ele desativasse o Twitter de imediato, o que seria mais prudente.
R.R: Decidimos desativar não por medo, só para não gerar mais coisas, botando fogo nesse negócio porque eu tenho certeza que com o Twitter, uma rede social que mais gera burburinho, muito mais do que aconteceu aconteceria se o meu Twitter estivesse ativo.
Tatiana: Porque, daquele jeito que estavam as coisas, o que ele ia ficar fazendo é se defendendo, se defendendo e ali ele estava condenado porque foi o que aconteceu. Na publicação de vocês ele estava condenado. Olha o que absurdo. (Nas publicações da organização e na de vocês) acho que você pode ver, falam 'Mas por que ele foi penalizado se ele ganhou o jogo? Por que ele foi penalizado se ele foi o que mais matou?' Porque na cabeça do R., ele estava jogando normal e ele falou para o cara 'Tá bom. É isso aí'. Foi a nossa conversa interna. Quando as ameaças vieram de fato, ele entendeu que era real o negócio.
Eu fui nesse menino. Eu falei: 'Não sei se você sabe, o R. é menor de idade e o que você fez é crime. Ele não tinha ciência do que estava fazendo de fato. Ele achou que você estava brincando com ele' e falei 'Você vai ser responsabilizado por tudo o que está fazendo'. Aí ele pediu desculpa porque ele não tinha a intenção de prejudicar o R. Tudo o que aconteceu foi gerado por esse menino.
O que ele fez foi assim. A intenção dele, dita por ele. Ele quis juntar todas as pessoas que pseudo apostaram -, porque eu não sei se realmente apostaram. Não tenho como saber se isso é verdade -, que esse jogo fosse anulado e aí eles teriam o dinheiro de volta. Isso foi o que o menino me falou. Essa história toda foi isso, que era para anular. Então, o que ele fez: ele pegou os prints, apagou o lado que mostrava que o R.R estava negando e, quando o R. fala 'Tá bom', um aceite meio que 'Deixa eu ir jogar', ele pegou aquilo, printou e soltou para monte de gente, que era para as pessoas irem em cima e começar a brigar para o jogo ser anulado.
O R. começou a ser condenado na história e fiz ele sair de tudo. Qual era a intenção. Ou deixa esfriar, ou a gente vai para cima porque eu poderia também ir judicialmente para cima de todo mundo. Então, a nossa ideia foi muito essa, saber qual caminho tomar porque é um mundo que não conhecemos muito enquanto pais. Não sabemos se esses caras estão falando a verdade. Se um cara que conhece o meu filho, não é amigo, não frequenta a casa, mas que é da mesma cidade e faz isso, quem me garante que ele não viria buscar realmente se ele mandou um print dizendo que sabia onde meu filho morava. Nós moramos em uma cidade muito pequena que todo mundo se conhece. É muito fácil de se achar aqui. Tanto que fomos na operadora de celular mudar o número dele por conta de preocupação.
E depois disso continuou a história com esse menino. Eu falei com ele e ele se desculpou, disse que não foi a intenção, que ele realmente errou, mas que eles queriam anular o jogo, entendendo que o R.R realmente jogou melhor, e que isso ferrou quem apostou. Eu perguntei a ele se ele não tinha noção. Aí ele: 'Mas eu achei porque ele era o que jogava melhor e se ele tivesse entregue o jogo, eles teriam realmente perdido'. E quando eu falei com o pessoal da organização, eu perguntei o porque ele tinha sido condenado, assim como vocês fizeram na reportagem, sem que nem tivesse falado com ele.
A organização falou que depois que analisaram e viram que o R. não entregou o jogo - isso palavras do pessoal da organização. Eu tenho até o print -, só que eles decidiram por penalizar por conta dos prints, que foi justamente a intenção desse menino. Ele soltou os prints com a intenção de anular o R. da partida. A intenção toda girou em torno disso, de anular essa partida para quem apostou conseguisse o dinheiro de volta. Palavras deles.
A senhora disse que concorda que lendo a conversa entre o G. e o R. dá a entender que foi feita uma proposta para entregar o jogo?
Não. Eu falei que a intenção dele era essa. O R. estava no meio do jogo e ele estava insistindo com isso, só que ele apaga as conversas. Então você não tem um contexto da conversa porque o mesmo que você tem é o que eu tenho. Ele apagou para todos.
Por que, de fato, onde está o crime? Se tivesse sido efetivado, se o R. tivesse jogado contra, de entregar o jogo, não foi feito. Não sei se você viu as partidas ou tentaram apurar de todas as formas. Mas de fato não existiu. O que eu tenho é a mesma coisa, que é a versão do R. e a versão do menino com que eu falei.
A senhora menciona tomar outras medidas? Já foram tomadas essas medidas? A senhora procurou a polícia, pretende levar à justiça?
Nós temos todo know-how jurídico para saber os caminhos a tomar até porque trata-se de um menor de idade e ali tem vários crimes contra o meu filho. Só que eu quis primeiro ver qual era porque isso está surtindo prejuízos em todas as esferas do R. Ele ficou acuado, com medo, ele não está saindo de casa por toda a situação gerada. Ele ficou sem jogar, que é um negócio que tem um investimento muito grande. Não só psicológico, mas financeiro porque ele vive em função desse jogo. Ele dedica muito tempo a esse jogo. Eu quis primeiro ver qual vai ser realmente o caminho disso e aí vamos continuar tomando as medidas que são cabíveis para isso_
Essas medidas incluem procurar a polícia?
Exatamente, não só, né, mas da penalidade também. Eu acho que ele foi penalizado sem ter cometido crime nenhum. É como se ele tivesse sido julgado sem que ninguém o escutasse. Por que isso não aconteceu da parte de vocês e não aconteceu da parte da própria organização. Eles foram solícitos e até preocupados com a integridade física do R. Mas até questionei eles quanto a punição, de terem punido ele sem ter visto o que de fato aconteceu. Porque se ele não entregou o jogo e foi claramente....o menino apagou as mensagens mostrando...e ele só mostrou uma parte. E cadê a outra parte dessa história? ninguém quis escutar.
Tivemos acesso a conversa. Além das prints tem um vídeo publicado, uma gravação de celular mostrando a conversa. É feita a proposta inicial de R$400 e depois o tal G. informa que, vindo mais apostadores, poderia subir para R$600. Inicialmente o R.R recusou a proposta, mas depois ele mandou um "tá bom". Isso está na conversa e, posteriormente, o resultado acaba sendo ruim para o apostador e é aí que acontecem as ameaças.
Porque foi justo o que eu perguntei ao R.R. Mas por que? Ele: 'Estava começando o jogo e eu estava preocupado em jogar. Então foi aquele 'Tá bom'. Eu já falei não, ele está insistindo e eu falei 'Tá bom', e segui. Porque ele não ia perder de fato. Quando eu escutei, eu fui ver o que aconteceu, ele perdeu mesmo? Não.
R.R: A preocupação dos meus pais, inicialmente, me corrigir do que eu tinha feito.
Tatiana: Inicialmente, eu queria matar você.
R.R: Aí sim eu estaria errado, mas eu não entreguei nada, sabe.
O 'Tá bom' dado pelo R.R, a senhora compreende que, na interpretação de muitos, foi como um aceite da proposta?
Certo. Claro.
Mas a senhora não concorda que o R.R poderia ter mantido a relutância ou até não ter respondido ao G.?
Concordo plenamente só que, como eu te falei anteriormente, ele é um menino daqui, da nossa cidade. Ele entendeu que ficar insistindo, como o R. já tinha dito não, e ele ficar insistindo, o R. continuar dizendo não até, sabe, naquela inocência 'Ah, tá bom'. Não tem entonação da resposta do R. Você não consegue dali discernir se ele está dizendo um não de jeito nenhum ou um sim, tá bom, eu quero de qualquer jeito. Eu acho que efetiva o que ele (R.R) de fato fez. O 'Tá bom' sem a caracterização do entregar o jogo, está claro qual que foi o "Tá bom" do R.
A senhora é bastante engajada na carreira do seu filho. Como a senhora vê ele com esse sonho de ser jogador e como a senhora vê depois disso tudo o que aconteceu?
Como eu vou te falar. Tem duas situações. Eu e o pai sempre investimos muito pelo sonho dele e aí por tudo o que ele quer. Ele está se formando no ensino médio esse ano, vai fazer intercâmbio. Tem todo um projeto de vida, só que só tem 16 anos. Nós também aqui temos que prioridade a vida, a saúde mental, psicológica e física. Ele se dedica demais a esse jogo, ele vive realmente em função do jogo. Quando aconteceu isso, a primeira coisa que eu falei para ele 'R., esquece, deixa isso para lá, porque vai de repente de abrir outras portas, vai ser melhor para você'. Só que, ao mesmo tempo, quando eu vi toda a injustiça acontecendo em torno dele, quando eu falei com o menino e ele me deu essa versão, o próprio menino que fez a proposta, e quando eu falei com o pessoal da organização e eles me falaram que viram, sim, que se basearam nos prints e os prints não tem entonação. Ali vê um 'Tá bom'. Cadê o crime dele, por que ele foi punido?
Por isso eu fui em busca que vissem o lado dele, porque se eu deixasse para lá... A gente está falando de internet. A vida dele é muito maior do que isso e ele tem muito mais capacidade do que isso, mas acho uma judiação deixar com que um "Tá bom" derrube a vida dele, condene ele.
R.R: Eu só quero falar que eu também não fiz o certo de ter continuado, como você falou e fez a pergunta para a minha mãe. Mas foi o que ela falou: se eu tivesse realmente entregado o jogo e tudo, aí sim eu deveria ser punido. Mas eu acho que tem que apurar melhor o caso porque não foi justo o que fizeram comigo não.
Tatiana: O grande crime dele. o crime todo gira em torno desse tá bom e o tá bom sem entonação seguiu por um caminho que só prejudicou ele.