Shaolin, CEO da BTSBrasilTV, em entrevista à Dust2 Brasil

Shaolin rebate acusações à BTSBrasilTV e polêmicas sobre transmissão do Major

CEO falou sobre concorrência com Gaules, falas de VelhoVamp, acusação de uso de bots e mais

Protagonista no principal episódio do começo de ano do Counter-Strike brasileiro, Fabio "Shaolin" Madia, CEO da BTSBrasilTV, respondeu às polêmicas envolvendo os direitos e outras acusações que o estúdio recebeu nas últimas semanas.

Em entrevista à Dust2 Brasil, o responsável pela transmissão oficial do PGL CS2 Major Copenhagen, falou sobre os direitos exclusivos, a relação com a casa de apostas BetBoom, a concorrência com Alexandre "Gaules" Borba, repercutiu as falas de Victor "VelhoVamp" Taubé, comentou as acusações de uso de bots para inflar o número de espectadores e de ter "matado" o cenário de DOTA 2 no Brasil.

Shaolin também falou dos planos de cobertura para o RMR Americas e para o primeiro mundial, além da possibilidade de assegurar a transmissão do Perfect World Shanghai Major, o segundo Major da temporada.

A reportagem procurou a equipe de Gaules e solicitou uma entrevista sobre a transmissão do Major, mas foi avisada que o streamer não se pronunciará no momento.

A entrevista, na íntegra, está disponível no nosso canal do YouTube (vídeo acima). Confira as principais respostas de Shaolin abaixo. (Nota do editor: algumas falas foram editadas por motivos de concisão).

Toda a polêmica envolvendo a BTSBrasilTV começou com a transmissão exclusiva do BetBoom Dacha. De quem foi essa decisão?

A decisão veio da BetBoom, detentora dos direitos e organizadora. Nós já estávamos trabalhando com todos os criadores de conteúdo que queriam transmitir os torneios de CS que fazíamos, como CCT e outros projetos que produzimos. Por ter um histórico de produção de eventos, que vai desde localizar o evento em português até produzir o evento principal, temos uma expertise que já conseguimos mostrar para o mercado internacional há algum tempo.

Mostrando a bagagem de CCT, de outros torneios, de eventos corporativos, eu falei que conseguiríamos produzir esses eventos de CS, trazendo esse estilo do mundial de DOTA, que é a celebração da comunidade. Você reúne os maiores talentos, jogador, treinador, criador de conteúdo, influenciador, gente que é de fora da bolha do jogo em si, para justamente mostrar o que é a celebração. Eu sinto, como consumidor desse modelo, que não tem isso no CS brasileiro, e eu propus isso para eles, trazer esse modelo para o Brasil.

Eles decidiram, então, fazer esse teste, primeiro fazendo um campeonato pequeno. Fizemos a Copa BetBoom, que começou por volta de setembro, com uma premiação de 40 mil dólares, toda online, e fomos contratados para produzir o sinal aqui no Brasil, e uma outra empresa, de fora do país, cuidou da parte de league ops. Como todo o investimento que eles fizeram, foi um valor muito baixo, só para testar. E o sinal foi liberado para todo mundo.

Aí, desse evento para o próximo, recebemos um comunicado deles dizendo que o evento seria em LAN, em Dubai. Pelos resultados da Copa BetBoom, eles fizeram conosco. O que ficou comigo foi a produção, recebemos o sinal deles e fizemos daqui do estúdio. Na etapa online o sinal foi liberado por algumas pessoas, e essa liberação é toda feita por eles, sempre foi feita por eles, que têm o controle.

Desde a Copa BetBoom, nós tratamos direto com os membros da comunidade brasileira, tínhamos um Discord, a galera entrava, se registrava, mandava email, falávamos quais eram as regras e eles concordavam, dávamos acesso, explicávamos o que precisavam fazer e dávamos o sinal. No Dacha, eles falaram que iam ser dois ou três nomes aprovados, e para a etapa final eles falaram que seria exclusivo na transmissão que eles decidirem.

Aconteceu que as pessoas ficaram sem acesso ao torneio, que é o que acontece com todos os outros membros da comunidade, que ao longo de todos os outros anos não conseguem a permissão do organizador para transmitir. Nós transmitíamos as duas Summit e não tínhamos permissão dos outros. Outras não tinham permissão, e é isso. Pelo que entendi, foi só mais um dia no cenário de CS, mas agora estávamos do lado de quem tem os direitos. Não tinha nada do nosso lado.

A sua relação com a BetBoom é de contratante e contratado?

Nós temos trabalhado nesse modelo há bastante tempo, mais de um ano, e tem dado certo. Conseguir direito de transmissão é relacionamento, não é dinheiro. Se você falar com qualquer casa de apostas, todos têm dinheiro para comprar. Quem vai levar a melhor, na visão de quem organiza o torneio, é quem está trazendo a melhor proposta para cobrir o evento, elevar o nome do organizador, ou do CS, o que for.

Essa negociação com os detentores dos direitos é feita por eles, não temos noção dos valores, não temos nenhuma noção de contrato, não passamos perto dele. Uma vez adquiridos esses direitos, eles nos procuram e pedem uma cotação. Nós passamos essa proposta, eles aprovam ou não, nós fechamos o contrato de prestação de serviço para narrar esse torneio. Todo torneio é uma negociação nova, um contrato novo. Acabaram sendo bastante torneios, e acabamos repetindo bastante esse processo.

Existiu concorrência de outras empresas?

Não tenho como saber com certeza, mas sei que outras empresas do mercado nacional estavam em conversas com eles. Não sei se era para produzir, divulgar, o que de fato era. Também sei que outras empresas internacionais estavam nas conversas, pois eles mesmo tem uma parceria com outras produtoras. Não sei o que aconteceu, mas mandamos nossa proposta para focar em língua portuguesa e conseguimos fechar mais esse produto com eles.

Você imaginava que a repercussão seria tão grande? Como você lida com a frustração da comunidade da transmissão não ser a do Gaules?

A repercussão já era esperada. Eu sabia desde o começo, quando entrei no mercado de CS para produzir esses outros eventos menores em comparação ao Major. Desde o cs_summit 6, que acho que foi a primeira vez que fizemos esse modelo onde só um canal transmite, nós temos essa repercussão. Na época nós começamos a sofrer esses ataques numa escala muito pequena.

Quando vira uma parada séria, eu consigo filtrar que a pessoa está falando. Se a pessoa está motivada a ir lá e escrever algo, é porque ela se importa com aquela parada, e é do meu lado saber filtrar o que é bom, se tem algo útil para extrair dali. Tento separar um pouco da emoção. Não estou falando que todos tem que ser assim, estou falando como eu sou. Eu nunca me importei com o que falam de mim, sei que isso não é bom para marcas, mas absorvo tudo, leio tudo que dá, não consigo ler todos os comentários, e tento ver o porquê para tentar melhorar.

A BTS matou o cenário de DOTA no Brasil?

O que eles consideram matar o cenário é difícil de entender até hoje. Tudo acaba virando isso, e todo mundo repete isso, todos que ouvem isso acham que é isso, e esse eco segue. Não falamos nada publicamente, não comentamos, porque é falar com pessoas que não querem entender de fato o que aconteceu. A maioria delas quer só repercutir o que foi porque gosta de fulano, ciclano. Temos muito cuidado com o que sempre representamos e colocamos na vitrine, que é o canal. Nunca quisemos promover ou amplificar esse tipo de gente, que está querendo fisgar assunto, colocar a gente em treta.

Seguimos um acordo de transmissão, não somos nós que fazemos as regras. É aí que muita gente acaba tendo desafetos comigo. As regras são essas, a gente vai seguir o que está combinado, não vou desviar das regras sem a permissão de quem as faz. Não concordo? Concordo? Não vem ao caso. Alguém quer que eu vá publicamente que eu não concordo com as regras? Eu não sou esse tipo de pessoa. Eu sou um cara que está nos bastidores para fazer o negócio acontecer, conseguir com que as regras que são escritas sejam aplicadas.

Algumas dessas pessoas acusam a BTS de pedir para o organizador restringir outras transmissões. Vocês fazem isso?

A gente não faz isso para restringir outras transmissões, faz o que o organizador pediu. Eles vão monitorar quem não segue as regras.

Todas as organizadoras fazem por conta própria ou pedem uma lista de pessoas que estão transmitindo para eles ficarem monitorando. Eles estão olhando o que está acontecendo, como por exemplo, quem não segue regra de poder fazer propaganda. Eles dão alguns exemplos, se o evento é patrocinado na categoria A pela marca A, e os caras estão falando da marca B, isso é infringir regras. A Valve pede a boa convivência. O detentor dos direitos, ou alguém a pedido do detentor de direitos, entra em contato e fala que eles estão infringindo as regras, e precisam remover esse patrocínio. Segue o jogo, pode continuar transmitindo de acordo com os direitos da DOTA TV.

A Valve tem uma página que lista algumas coisas e diz que, na dúvida, deve-se falar com o organizador. Isso acontece em todas as línguas, não é exclusivo do português. Eles criaram essa página para ter essas regras publicadas e todo organizador precisa colocar uma página falando das regras. ESL, PGL, BLAST, quando fazem jogos Valve, têm essas regras para streamers da comunidade, com o que é considerado comercial ou afiliado, que são pessoas que vivem de estúdio de transmissão, ou se comportam como um estúdio ou tem canais de transmissão. É o que está escrito na regra, não fui eu que fiz. No máximo, eu preciso reportar o que acontece como o contratado do detentor de direitos, porque senão eu estou colocando em risco o meu acordo com eles, de executar o que foi acordado.

O que aconteceu no passado, e sempre acontece, é que temos uma lista de membros da comunidade que passamos para todos os detentores de direitos ficarem de olho e acompanharem as transmissões. E aí eles julgam se eles precisam ir atrás, conversar. O que acontece em 99% dos casos é que os detentores entram em contato pedindo para fazer essa mudança, e o que vira acusação na internet é que estão tentando impedir a transmissão. Muito do que se repercute ao longo dos anos é que a BTS está fazendo alguma coisa, sendo que não temos o poder de derrubar canais e nem fazer nada disso.

É legal citar que em 2017, quando o Facebook estava forte no Brasil e no Peru, e a ESL estava fazendo um torneio grande lá na língua espanhola, tinha a Beyond the Summit ES, e eles tiveram bastante problemas com isso de não respeitar as regras. A Valve chamou a atenção deles e colocou numa postagem, dando o exemplo dos espanhóis que desrespeitaram a regra. E a galera fala que foi a gente.

E a PGL estreitou as regras de streamers da comunidade, e mais uma vez muita gente acusa a BTS de ter feito o pedido para prejudicar o Gaules, que lidera a audiência. Vocês fizeram isso?

Não. Eu sou um prestador de serviço, passei meu orçamento com o que eles pediram para eu fazer, e, assim como todo mundo agora entendeu que os casters estão só prestando um serviço, no final das contas eu sou como um caster, sou um prestador de serviço que está tendo a oportunidade de fazer uma produção gigantesca, de uma propriedade intelectual que é muito grande aqui no Brasil, tem muitos fãs, e no fim das contas estamos só correndo atrás da oportunidade de mostrar mais a nossa capacidade, que já fazemos para o mercado internacional como white label. Nesse caso aqui está passando no canal da BTS. O detentor dos direitos é a BetBoom e estamos prestando serviço, não definimos a estratégia deles no Brasil.

O que você tem a comentar sobre as falas do VelhoVamp, que disse que a BTS está tentando polarizar a comunidade brasileira?

Eu vi esse vídeo, um monte de gente me mandou. Eu acho que foi infeliz, muita gente fala que fazemos algumas coisas, e acho que ele foi muito incisivo em 'fulano está fazendo isso', dando nome, imputando ações e isso e aquilo, e te digo que não é isso. Se você tem uma opinião, fale pelo menos em possibilidade, porque a partir do momento que você está falando que é uma coisa e não é, abre muita possibilidade de isso dar complicações para todo mundo e ninguém quer ir por esse caminho, de ter que ir atrás e falar que não é isso.

Ele já fez o estrago. Temos que tomar cuidado. É isso que eu bati na tecla na entrevista que fiz com a GameArena sobre líderes de comunidade conseguirem falar 'pô galera, está rolando muito isso, acho que não é legal, não compactuamos com essa ideia'. Até jogadores profissionais estão cheios de como estão sendo as críticas, do que está sendo falado. A partir do momento que se acusa porque ele de fato está incomodado com isso, ou porque tem outras intenções, tem que tomar muito cuidado com a repercussão.

Me falaram que teve um vídeo que ele se retratou sobre os narradores, mas não se retratou sobre os ataques que fez diretamente a gente. Só digo que não é verdade, espero que isso não aconteça novamente da maneira que foi. Estou disposto a conversar, todas minhas DMs são abertas, se leio ataque de qualquer pessoa, porque não iria trocar uma ideia com quem quer que seja e quer fazer alguma crítica ou desabafo? Meu WhatsApp eu acho que todos da estafe de lá conseguem compartilhar, eles têm minha autorização para compartilhar. Só acho que a maneira como foi feita acaba gerando mais complicações para todo mundo, principalmente para aquecer mais a comunidade que qualquer outra coisa.

Você identifica a presença de bots entre os espectadores? Se sim, existem evidências de onde eles estão vindo?

Não identificamos nada do nosso lado, não tem como ir atrás disso, e isso é algo que a plataforma sempre briga desde sua existência, é o trabalho deles evitar isso. Todo mundo para falar no nosso chat tem que passar por todas as proteções, exigindo cadastro por email, de exigir validação, e não temos o menor motivo. No risco de falar o óbvio, mas para deixar registrado, não faz sentido fazermos qualquer uso disso, porque é ilegal. É algo que não é só contra a lei, mas são números artificiais, algo que não vai crescer nossa comunidade, só vai dar problemas.

Digamos que alguém esteja colocando isso, porque pode ser de forma maligna, como saíram notícias de gente fazendo isso para atacar. Assim como muita gente fala que tem gente do nosso canal indo falar mal em chat de terceiros, e vice-versa. As pessoas fazem o que querem, não temos controle sobre o que está acontecendo. Mas olha o absurdo, qual o impacto de mil pessoas assistindo na diferença de audiência? Não faz o menor sentido, não é lógico. É surreal em tantos níveis que só consigo olhar e pensar 'mais uma coisa que a galera fala que fazemos e não faz o menor sentido'.

Para quem conhece a plataforma, trabalha com marketing e mídia, existem coisas como recomendação de plataforma, live embedadas em site, mídia programática, homepage, vários serviços que eu não conheço, que são válidos e utilizados por muitas empresas. Não estamos fazendo mídia programática ainda, vamos começar no RMR Americas. O que está acontecendo é, muito provavelmente, o que acontece com outras casas de aposta, que têm direitos de transmissão e colocam a live embedada das páginas de transmissão.

Muito disso acontece em vários sites e com serviços homologados pelas plataformas, e uma das possibilidades de mídia programática. É uma discussão legal da galera, mas, novamente, se eu só faço um post nas redes sociais falando disso vão achar que é desculpa. E repito, não estamos usando mídias programáticas ainda, mas vamos usar, fazer campanhas, parcerias com plataformas, a BetBoom já está com inventário de mídia em alguns sites de notícias, mas nós, como BTS, vamos fazer impulsionamento, tráfego pago em redes sociais e campanhas.

O que podemos esperar de diferente para transmissão do RMR Americas e do Major?

Estamos chegando no balanço do que é a transmissão de comunidade e a narração mais formal, para tentar chegar no melhor dos dois mundos. É um experimento, vamos ver o que vai dar certo, a reação da galera, e vamos tentar fazer algo novo. Também teremos uma área nova de ativação onde teremos mais brindes, gincanas, outras maneiras de dar prêmios, free bet para a galera.

Entre os dois sets vamos ter uma área de arcade da BetBoom, que vamos colocar o Luquinha (LUCAS1) para brincar. Vai ser legal. Fora isso, já foi anunciado no dia 24 a entrada da BetBoom na fan fest do PLANO, e com isso confirmamos a participação dos talentos aqui em pelo menos um dia.

Em Copenhague, já temos um time de criação de conteúdo com acesso a áreas mistas, aos jogadores. Mas, como toda transmissão, nenhum jogador é obrigado a falar. Vamos atrás de marcar horários com os jogadores, além de fazer pré-jogo e pós-jogo puxando na zona mista. Estamos indo com um time de conteúdo com o Cid, do Não Salvo. Vamos trazer conteúdos mais despojados, da cidade, do estilo de vida, o que tem para fazer, vai se meter em furada. E dentro do estádio tenho medo do que ele vai fazer, espero que ele não seja expulso pela organizadora, porque pode trollar alguém lá.

E para o conteúdo direto e ligado ao jogo, entrevistar os jogadores, e trazer atualizações sobre o torneio com entradas ao vivo, vamos ter a Isadora Basile como nossa repórter. Estamos em conversas com mais pessoas para outros conteúdos nos locais. Fora isso iremos com um time de dois cinegrafistas e eu para cuidar da parte técnica e entrar com link ao vivo. Vai ter conteúdo gravado também, quem já viu um The International sabe como é a produção, estamos querendo trazer isso como princípio, mas ver o que adapta e como funciona especificamente para o CS, com conteúdo mais solto, de zueira, porque tem muito jogador brasileiro nessa etapa.

A BTS também será a transmissão oficial do segundo Major do ano?

É o que eu quero. Não tem nenhuma conversa ainda sobre o segundo Major. O que conversaremos depois do RMR Americas e antes do Major em si de Copenhague é o que vamos fazer nesse buraco entre os dois Majors. A gente já soltou um comunicado sobre Copa BetBoom e dois Dachas de CS, e estamos conversando para trazer para a BTS. E, depois, o próximo Major. Eu não acho que eles confirmaram, porque talvez não tenham fechado todos os detalhes, são negociações grandes, mas é deles, mas não é meu. Está tudo encaminhado para que seja, tudo indo por esse caminho, mas até estar assinado, no papel, tudo pode acontecer.

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