Akkari, da FURIA, em entrevista à Dust2 Brasil

"Treinador" Akkari protesta contra Valve: "Em nenhum esporte isso acontece"

Após primeiro dia de IEM Rio Major, um dos donos da FURIA falou de nova função e criticou publisher

André Akkari não é necessariamente um novato no papel de treinador - e gosta de dizer que já venceu até título na função -, mas dividiu a torcida da FURIA ao ser escolhido para ficar atrás dos jogadores durante o IEM Rio Major. Após o primeiro dia de mundial, Akkari disse que a medida também é uma forma de protesto ao banimento de Nicholas "guerri" Nogueira.

"É também quase que um protesto para a situação inteira. Quem toma essas decisões está vendo um jogador profissional de pôquer atrás dos meninos do CS:GO. Na NFL, na NBA, em nenhum esporte isso acontece. Todos reconheceram que o técnico é parte integrante de uma equipe", afirmou o treinador em entrevista à Dust2 Brasil direto do Riocentro.

"No LoL não acontece isso, nem no Valorant, e num esporte que tem uma média de idade tão baixa, em vez de dar o exemplo, eles ignoraram e não se manifestaram. Fica o protesto, agora eles tem um campeão mundial de pôquer como técnico, o que é completamente equivocado", completou.

Akkari também falou da vibração da torcida, da dificuldade da FURIA em fechar os jogos e o confronto com a 00Nation. Confira, na íntegra, a entrevista:

O que foi essa arena hoje?

Foram vários aspectos. O primeiro foi de que é diferente do meu esporte. A energia da galera, essa torcida, é surreal. É um negócio que afeta positivamente a performance. Os moleques sentem a vibração, sentem o grito da galera, o palco e a mesa vibrando. É algo incrível. Eu nunca tinha vivido isso performando ou tão perto da performance como estou vivendo aqui. Foi positivamente assustador.

Eu não estou jogando, estou acompanhando eles, mas mesmo assim vejo as alegrias e os dramas dos meninos e tudo mais. Eu venho acostumado a um cenário mais sinistro, de pressão, de um jogo que envolve dinheiro, altos e baixos, variância. Às vezes você é massacrado mentalmente em algumas coisas. Eu não consigo me surpreender muito porque vejo eles sofrendo em alguns momentos e comemorando em outros. Tento manter a linha racional, que é o mesmo que tento fazer no pôquer, porque lá, quando você perde racionalidade, você acaba perdendo ficha, cometendo erros, então tento fazer o mesmo com eles. Como eles não vem dessa escola, para mim é mais fácil de ver algumas coisas, e eu tento transmitir isso para eles, ajudar com alguma experiência passada, que eu consegui equilibrar minha mente para não deixar ela polarizar tanto para o alto ou para o baixo, mantendo o racional no meio. De alguma maneira eu consigo ajudar, mas nem perto do que o guerri consegue.

No jogo contra a BIG, você sentiu que as vibrações da torcida afetaram o time?

Acho que 0%. O que eu sinto, claramente, é que o time da FURIA tem esse histórico assim como a juventude tem. Eles já estão na estrada há um tempo, principalmente o arT, yuurih e KSCERATO, o drop tem 18 anos e o saffee está junto com o time há pouco tempo. O que eu sinto é uma fragilidade de jovem de não conseguir interromper processos negativos e mentais. Eu passei muito isso no pôquer. Às vezes eu tinha muitas fichas, perdia um pote grande, mas o que sobrava para mim era mais do que a média do torneio inteiro, mas às vezes eu emburacava, porque pensava naquele pote que perdi, naquela mão que joguei errado, e aquilo não saia da minha cabeça, ficava me martelando. Para os meninos, cada vez que a torcida impulsionava para ganhar, era mais um alerta para voltarem, estavam fazendo um papel positivo. Mas eles ficaram presos a algumas situações, vivendo a parada. Mas a experiência está crescendo tanto para eles que cada vez isso está acontecendo menos. É que queremos que não aconteça nunca, mas faz parte.

Por que o time sofre tanto para fechar os jogos?

São momentos. Se você analisar os momentos que esses meninos já passaram, é algo de uma resiliência bizarra, (momentos de) jogar vários overtimes e não largarem o osso. Em outros momentos, um gancho negativo pega e o cara não consegue escapar. Eu acho que é uma mistura de viver experiências pesadas, como essa aqui, e de repente o segundo jogo é mais tranquilo. Essa rotina acontece na vida do atleta, ele se acostuma, vai buscando melhorar. Eu acho que com eles não acontece nada diferente do que acontece com jovens performando no futebol ou no pôquer ou em alguma outra circunstância, eu vejo uma normalidade. O que pode acontecer é que o brasileiro é fanático por CS:GO, e quando você é muito apaixonado, você não avalia nível. Você acha que tem que ganhar e acabou. Mas eles trocam com caras muito bons, do outro lado só tem nóia, caras muito fortes. É uma questão de ganhar mais experiência, evoluir mais tecnicamente e chegar lá.

O que mudou da FURIA que enfrentou a BIG da que enfrentou a 00Nation? Como o time conseguiu neutralizar tão bem um adversário que já complicou as coisas para vocês no passado?

Nos bastidores, os meninos acham a galera da 00Nation muito forte. Eu não manjo muito de CS, tenho que tomar cuidado para não falar uma bobeira muito grande, mas dumau, try, são meninos que eles acreditam que são o futuro, que vão brilhar. E eu sei porque eu ouço eles falarem. E tem dois caras que ganharam tudo e viraram duas das maiores referências de CS:GO para a América latina e para o mundo inteiro. Ainda por cima são brasileiros, e isso causa uma expectativa diferente. O que eu sinto também é que o arT é um cara muito produtor de estratégias, um cara que pensa em muita coisa. Quando acabou o primeiro jogo, vi que os meninos estavam abalados e ficaram tristes pra caramba por terem perdido, e começamos uma resenha muito boa. De se sacanear, zoar, e eu fui provocando isso para quebrar o clima. Quando você faz isso, e a mente do cara começa a abrir, ele começa a vir com várias táticas, execuções, coisas, e eu vi, quando ele estava fazendo essas coisas derivadas de contra quem ele ia jogar, que tinha boas chances de dar bom, porque ele estava empolgado, criando soluções. Normalmente, quando o cara é muito bom e faz isso com uma empolgação desse tipo, vai ser ruim de perder, mesmo que dê jogo. Talvez o plano de jogo da 00Nation não encaixou de forma perfeita, e essas estratégias do arT fizeram uma diferença boa.

arT, da FURIA, durante o IEM Rio Major

Como é ver o KSCERATO jogando tão bem ali atrás dele?

É surreal ver a performance dele. E ele é assim dentro e fora do servidor. Está num processo de evolução surreal. Ele fala com os parceiros dele de um jeito que é difícil de achar alguém que fale. Ele sabe do poder técnico e não deixa isso subir na cabeça para que ele não impacte os outros. Ele está o tempo todo provocando palavras positivas. Ele sabe do poder dele, e é muito legal ver ele performar ali atrás, ver de perto o show que ele dá. E uma parada muito legal para mim é ouvir o áudio, a comunicação. Já tive a experiência no passado, na Pro League, mas aqui é diferente, com torcida. E ele é o cara menos 8 ou 80 em termos motivacionais. Ele está sempre num meio para cima positivo. E ele sabe disso, tenta fazer isso o tempo todo, e impacta os outros. Fora isso tem os clutches bizarros que eu não sei como ele faz. Eu estou vendo ali e não entendo nada, penso que vamos perder e ele acaba com tudo.

Como chega a FURIA para o segundo dia de Major?

Fizemos várias reuniões antes de vir para cá. guerri, Tacitus e eu falamos muito, e o que mais batemos foi uma de não perder oportunidades. Eu tenho 47 anos e sei o que é você viver as possibilidades de grandes títulos, chegar perto e não ganhar. Chegar perto de momentos que você achava que a vida ia explodir e ela não explodir, e sei também o que é o explodir. O que ficou de lição para mim, na minha carreira, e dividi com eles isso, é que eles não podem deixar de viver essa parada com uma alegria surreal, emoção surreal, com o prazer de estar aqui. Todos que estão assistindo, eu que estou ali atrás, queria muito jogar igual o KSCERATO, ter a oportunidade de ser bom como eles, 00Nation, Imperial, BIG e não temos a chance. Eles tem que se sentir muito privilegiados de estar numa posição como essa. É uma mistura de alegria com os rituais que eles fazem para tirar qualquer ruído, perspectiva negativa, um problema pessoal, uma bobeira ou algo de redes sociais. E é com o maior entusiasmo e foco possíveis. Esses pequenos exercícios que fazemos com eles dá muito certo, está dando cada vez mais certo, mas eles chegaram performando bem contra a BIG, e amanhã vai ser a mesma coisa, temos uma chance de dar uma alegria para essa galera incrível.

A decisão de ter você em vez do Tacitus deixou uma visão negativa em parte da comunidade. Você pode explicar por que isso aconteceu?

Eu acho que as pessoas que veem essa decisão como negativa estão certas. Não é algo positivo, o que queríamos, o cenário ideal ou o que deveria ser e, o mais importante, não é o justo. Tirando a solução principal que seria a Valve fazer o trabalho dela bem feito, justo, e que conseguisse executar o que tem que ser executado, porque isso sim tiraria todo o problema da situação, qualquer outra coisa é inviável. Tínhamos várias opções. A primeira era colocar o Tacitus, que é um cara bacana para caramba, muito técnico, importante para caramba, mas não tem essa parte de motivação. Interromper, comunicar, mandar alguém fazer tal coisa, limpar a comunicação ou respirar. Outra opção era contratar um outro técnico, o que seria pavimentar a injustiça, aceitar que estamos completamente injustiçados por uma instituição, que não tem vontade tempo ou recurso para avaliar uma situação tão bizarra, que poderia dar um exemplo para os fãs, para a toda juventude, de pessoas que tomaram a atitude correta num problema que foi criado por eles. Validar isso com a contratação de outro técnico é completamente inviável, jamais tomaríamos uma atitude dessa para magoar o guerri e os meninos com a injustiça. Contratar outro técnico vai contra a decisão de todos. Aí são poucas opções. Diante de um cenário todo negativo, virou uma parada de quem são as pessoas com mais impacto psicológico e motivacional nos meninos. Aí tinha eu, Jaime, algumas pessoas que poderiam fazer esse papel. Como eu tenho muito mais vivência, já fui técnico deles em algum momento, fomos campeões. Que fique claro que fui duas vezes técnico e fomos duas vezes campeões, mas não vou falar quais foram as minhas participações, mas eu estava lá (risos). E foi muito legal, uma resenha muito boa, mas o melhor possível diante do cenário catastrófico. Vem um cara como se fosse um paizão e que viveu vários momentos de pressão. Eu tenho 770 mesas finais, 275 títulos, campeão mundial, vice no mundial. Esses momentos que eu tive foram de falta de ar, situações pesadas e dividir isso com eles ajuda. Eu poderia fazer isso se o guerri tivesse também, em um jantar ou algo desse tipo. Estando ali, eu consigo colaborar um pouco mais no psicológico, mas zero no técnico. Eu não ajudo em nada, não falo um A, uma bang, uma smoke, mas foi o mais perto do seria equilibrado para todo mundo.

É também quase que um protesto para a situação inteira. Quem toma essas decisões está vendo um jogador profissional de pôquer atrás dos meninos do CS:GO. Na NFL, na NBA, em nenhum esporte isso acontece. Todos reconheceram que o técnico é parte integrante de uma equipe. Esportes esses onde os jogadores são mais velhos. No LoL não acontece isso, nem no Valorant, e num esporte que tem uma média de idade tão baixa, em vez de dar o exemplo, eles ignoraram e não se manifestaram. Fica o protesto, agora eles tem um campeão mundial de pôquer como técnico, o que é completamente equivocado.

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#1(Com 0 respostas)
31 de outubro de 2022 às 23:01
lazarus
akkarizao eh fera demais
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