coldzera: "Não faço academia, não aproveito minha vida, só jogo CS"
Marcelo "coldzera" David não disputa um major há três anos, mas vai voltar a ter a sensação de jogar um mundial naquele que considera que será o maior de todos os tempos, no Rio de Janeiro, no final do mês. Depois de conseguir a classificação, o jogador não escondeu a emoção.
"Fiquei três anos sem jogar um Major, o maior evento do ano, ainda mais sendo no Brasil, eu ficaria muito chateado se ficasse de fora. Me doei muito nesses últimos dois meses no bootcamp que fizemos, desde que estou jogando em Portugal, desde que entrei no time", afirmou coldzera em entrevista à Dust2 Brasil.
"É mais uma conquista, isso vai ajudar a tirar a pressão das costas da criançada, e a sensação é indescritível. Jogar um Major no Brasil vai ser especial, uma coisa que sempre sonhamos em ter, desde que jogávamos antigamente. Agora que esse sonho se realizou, nos classificarmos é uma sensação ainda mais gostosa", completou.
De acordo com o duas vezes melhor do mundo, os últimos meses ao lado dos companheiros de 00Nation tem sido de muita dedicação. Ele disse que tem jogado durante a maior parte do dia e até largou a academia.
"Eu venho jogando 12, 13 ou 14 horas por dia. Eu deixei tudo de lado de novo, não faço academia, não aproveito minha vida, só jogo CS mesmo", revelou.
A fonte dessa dedicação, segundo cold, ele encontrou ao seu lado, em Bruno "latto" Rebelatto, Eduardo "dumau" Wolkmer e Santino "try" Rigal.
"Por mais que eu tenha conquistado tudo que eu conquistei, jogado o que eu joguei e ganhado os troféus que eu queria ganhar, o sentimento de que eles ainda estão realizando o sonho deles é o que nos faz querer jogar ainda mais. Jogar mais horas por dia, olhar para eles e ver que estou atrás e preciso correr, ser o espelho deles e não o inverso", afirmou.
"Nesse último bootcamp, eu tenho certeza que fui espelho para eles. Eu começava às 10 da manhã e só para às 2, 3 horas da manhã do outro dia, todos os dias, sem parar e sem descansar. Isso refletiu no meu jogo, na minha confiança. Eu fui para esse campeonato muito confiante, muito mesmo, fazia tempo que eu não sentia um boost de confiança em mim mesmo, na minha mira, nas minhas jogadas, no jeito que eu penso em jogar CS", completou o jogador.
A oportunidade de estar ao lado de Epitácio "TACO" de Melo novamente também mexeu com coldzera. O jogador disse que foi muito afetado pela pandemia e não conseguiu manter a mente e o corpo no mesmo lugar. Mesmo que não tivesse 100%, encontrou motivação no desafio.
"Quando tive a oportunidade de montar o time com o TACO eu estava meio assim ainda, meio com a cabaça abatida pelas coisas que vinham do passado, e quando a molecada mais jovem e o TACO entraram, eles me deram um boost não só de confiança, mas de alegria também. Acho que faltava isso, eu gosto de jogar com as pessoas que eu realmente gosto, e isso refletiu no meu jogo", explicou.
Depois de disputar a ESL Challenger Valencia e a IEM Cologne, cold diz que se viu atrás dos companheiros mais jovens e deu um gás nos treinos do início desta temporada para ficar em plena forma.
"Durante esse bootcamp eu me adaptei ao que o time precisava, às funções que tínhamos trocado, e eu tive tempo para treinar essas funções. Quando eu treino elas eu fico realmente confortável e é aí que consigo desenvolver meu jogo", contou.
As boas atuações no mundial, especialmente no jogo conta a Complexity, segundo cold, não são muito diferentes do que ele regularmente teve como CT. De acordo com o jogador, ele nunca exigiu posições para jogar, e sempre gosta de deixar companheiros a vontade.
"Nós damos espaço para a molecada para eles brilharem um pouco mais, mas meu lado CT sempre foi muito forte. Na época da SK eu não falei que queria ser a grande estrela do time, eu peguei as posições para jogar, quando trocava o time eu dava minhas posições para o cara jogar. Eu nunca fui um cara egoísta, de dizer que queria ser a superestrela, decidindo onde quem ia jogar, porque sempre gostei que todos joguem confortáveis", explicou.
"Tenho meus momentos muito bons, meus CTs são muito sólidos, sempre foram, eu estudo os outros times também e estou sempre tentando estar um passo à frente no que eu penso dentro do jogo. Para mim esse negócio da estrela só jogar em uma posição não existe, nunca existiu, o time joga como uma unidade e, se o time souber jogar bem nessa unidade, todo mundo tem seu momento de brilhar, fazer frag, triple kill, quadra kill, e isso deixa o jogo mais gostoso, você se sente parte do time e não é só aquele jogador que precisa brilhar", acrescentou.
O objetivo agora, segundo cold, é manter os pés no chão e seguir fazendo aquilo que tem sido a marca da Zero Zero, a evolução gradual.
"Somos um time que está em um processo de evolução, não pensamos com a cabeça lá na frente, não tentamos antecipar nenhum passo. Esse foi o primeiro passo, conseguimos nos classificar, era o que queríamos, agora vamos trocar algumas coisas, organizar e ver coisas que não foram boas. Vamos implementar alguma coisa nova, e vamos trazer para o nosso jogo e tentar estruturar ainda mais do que o que já temos. Mas não temos um pensamento de que ganhamos aqui e agora vamos ganhar o major", disse.
"É passo a passo, não queremos dar um passo maior do que a perna, porque é assim que os times tropeçam. Estamos no nosso nível, tranquilos, vamos evoluindo aos poucos, gradativamente. Estamos montando uma estrutura em volta de todo mundo, queremos ter isso bem feito porque é o que faz um time ser grande", completou o jogador, que disse garantiu que o time chegará preparado para o Challengers Stage.
Por fim, coldzera sente que ir ao Major no Rio será colher um fruto que ele ajudou a plantar no passado.
"Acho que tudo que nós fizemos no passado refletiu não só no Counter-Strike, mas para outras modalidades também. Ter o melhor time do mundo, ser um time renomado trouxe um pouco dos olhos para o Brasil. Ter um Major no Brasil é algo incrível, algo que já tínhamos pedido antigamente, mas ninguém dava muita bola, e resolveram botar agora", disse.
"Colhemos os frutos que plantamos, é muito bacana e acho que será algo indescritível para os fãs, para mim será o maior evento da história, e acho que os brasileiros tem tudo para dar um grande show. Toda a galera do Brasil é muito apaixonada por CS, são bem loucos, então vai ser um campeonato incrível", finalizou.