Rato Feliz: "Todo mundo se viu um pouco em mim"
"A personificação do amor brasileiro pelo CS:GO" é uma expressão que poderia muito bem ser utilizada para descrever Sérgio "Rato Feliz" Lima, um carioca que, vestindo a camisa da paiN, roubou a atenção daqueles que assistiram o RMR das Américas para o PGL Major Antwerp, conquistando os fãs ao mostrar alegria em estar num ambiente relacionado ao mundial da modalidade.
Em entrevista à Dust2 Brasil, Rato Feliz não só repercutiu o próprio sucesso ao desempenhar o papel de coach do time durante a classificatória, mas também contou um pouco sobre quem era o Sérgio Lima antes dos esports e, é claro, deu fim ao mistério sobre a alcunha que carrega.
Sérgio Lima é mais um brasileiro que cresceu junto ao Counter-Strike, jogando o FPS da Valve desde os 11 anos: "Antes da paiN, era um cara cheio de sonhos, que serviu o quartel, saiu do Brasil com 20 anos e teve a oportunidade de viajar, trabalhar e estudar em diversos países do mundo. Tive a sorte de viajar por mais de 40 países, sempre na correria, estudando e trabalhando", contou.
Antes de fazer sucesso como Rato Feliz, Sérgio vivia na Tailândia, onde trabalhou em um hotel, com turismo. A vida do manager mudou com a pandemia, mas de forma melancólica já que foi demitido no dia do próprio aniversário.
"Naquele momento eu falei: 'caraca, ferrou. Investi meus últimos oito, nove anos no turismo e agora está acabando. Acho que agora é o momento de voltar para o Brasil e focar naquilo que eu acho que é o futuro, o CS, os esports'. Voltei com outra mentalidade".
Mas, como em um roteiro de filme, outro aniversário mudou a vida de Rato por completo. No deste ano, Sérgio foi pego de surpresa com a notícia de que teria que acompanhar o time da paiN no RMR.
"Isso foi uma loucura, uma surpresa muito grande. Do nada, o primeiro campeonato da sua vida ser um RMR. Os meninos também apoiaram, falaram que eu estava acompanhando o time. O RMR foi uma surpresa incrível para todo mundo", afirmou.
Segundo Rato, "no primeiro momento a ficha não cai: 'É isso, eu tô aqui, está rolando'. O último campeonato que eu disputei foi em uma região de comunidade do Rio de Janeiro, mas nada comparado a você pegar um avião e ir para Europa, conhecer um país".
"Eu já fui sabendo que ia ser nós seis. Eu sou o mais velho, responsável, o mais animado e o mais ativo. Então eu falei 'vou ter que ser tudo. Ser coach, manager, fotógrafo, influenciador. Vamos para cima. Tô com toda energia do mundo'. Achei maneiro porque todo mundo confiou em mim".
Rato revelou que durante o RMR, apesar de ter acompanhado algumas lives, não conseguiu mensurar o sucesso que teve ao acompanhar a equipe: "Não consegui ter noção do que estava rolando porque você tá meio ali confinado, é muita coisa pra fazer. Quem estava lá me viu trabalhando e sabe que eu fiz bastante coisa. Não foi só 'jogar' o hang loose".
Repercutindo o que assistiu de si próprio no RMR, Rato Feliz falou de "uma energia diferente. Eu estava em um momento de energia. Não sei se veio de mim ou as pessoas estavam enviando para mim. Eu realmente estava em estado de êxtase, um momento único. Quem é fã de esports, fã do Gaules... E quando você vê tá o Gaules falando comigo, eu nunca imaginei que isso ia acontecer. Não tem sentimento melhor, mas ainda parece que não caiu a ficha. A galera da Tribo estava comigo".
O emissário da felicidade
O segredo em torno da própria alcunha está em um apelido que recebeu quando criança. "O meu nick sempre foi rato. Todo mundo me chama de rato, talvez pela semelhança, de eu parecer um rato quando era mais novo. Eu era dentuço. Meu apelido sempre foi rato no CS", revelou.
"A gente sempre está mudando de nick e eu sempre botava 'rato na bad' ou 'rato alguma coisa', no humor que eu estava no dia. Teve um dia que eu botei feliz e decidi que nunca mais tirar. Por que não espalhar felicidade? Para alguns pode parecer só um nick, mas para outros vai representar muito mais um 'feliz' ali, dentro do servidor. Quem joga, sabe. Eu deixo aquela ideia. Acho que a galera curte e eu gosto também".
Mostrando que é possível
Não só poder fazer parte de um ambiente de Major, mas ter a oportunidade de trabalhar com o CS faz com que Rato Feliz sirva de exemplo que é possível estar no meio. E o manager concorda.
"Eu falo para todo mundo que tem um sonho, acreditar nele porque, se você trabalhar duro, você vai chegar lá, vai conseguir. Às vezes é difícil, demora mais. Eu tenho 30 anos e jogo CS desde os 11 e quantas pessoas já me falaram que eu estava fazendo errado, que eu não ia chegar em lugar nenhum, que não tinha futuro. Quantos jogadores já não ouviram isso?", afirmou.
Agradecendo não só o apoio dado pela paiN, mas também pela torcida, Rato Feliz disse achar que "todo mundo se viu um pouco em mim. Falou 'caraca, eu tenho um pouco do Rato, o Rato Feliz é isso. Ele representa a torcida'. Estou amarradão, não só pela torcida da paiN, mas o carinho das outras torcidas. Acho que a união das torcidas é a coisa mais bonita do CS. Eu pude sentir isso. Era pelo Rato Feliz. Isso que foi irado".
Amizade com biguzera
Na paiN, Rato Feliz tem a companhia de amigo de infância, ou melhor, um "filho": Rodrigo "biguzera" Bittencourt. O manager se colocou não só como um dos maiores fãs do jogador, como também um dos que mais o incentivaram a seguir carreira no CS.
"É muito louco porque a gente se conheceu criança. Eu tenho a idade do irmão dele e bigu é cinco anos mais novo. Eu vi ele crescer. Eu falo que eu sou o pai dele. Eu sempre tratei ele como filho. A gente tentou jogar CS, mas computador é caro, investimento é caro. A gente nunca achou que poderia dar certo. Era uma parada que a gente meio que tinha desistido. Só que a vida é muito doida", contou.
Segundo Rato Feliz, foi o próprio bigu que decidiu seguir a carreira no CS: "A gente foi morar fora, trabalhamos lá de bicicleta e voltamos para o Brasil em 2018. Ele falou, 'agora é CS. Não tem jeito, vai dar certo'. Eu acho que ajudei bastante ele. Ele sempre me viu de perto e eu meio que dou orgulho pra ele. Ele meio que se inspira em mim. Juntos, na paiN, vamos chegar a lugares que nunca imaginamos".
"O bigu deve ter umas 500 partidas (pela paiN), e eu acho que assisti 90%. A gente viveu tudo isso junto. Fomos para fora, trabalhamos em subemprego, jogamos em laptop com 40 fps. Bigu amassava todo mundo lá na Europa já".
Rato in Rio
E o Major no Brasil? Como carioca, Rato Feliz afirmou que ainda não caiu a ficha de que "vou ter a chance de disputar, jogar e, quem sabe, até estar lá em cima do palco. Eu não sei se vamos conseguir. Espero que seja tudo resolvido para a paiN ir completa para o Major no Rio. Porém, a gente sabe que, se ninguém puder, eu talvez tenha que estar lá de novo. Atravessar a ponte e jogar o Major? Será um sonho".