"Pela primeira vez, é difícil explicar uma vitória", diz fer
Fazer história não é novidade para Fernando "fer" Alvarenga, bicampeão mundial e dono de uma das carreiras mais vencedoras do Counter-Strike: Global Offensive. Mesmo assim, o jogador da Imperial encontrou dificuldade para descrever o que foi a vitória da equipe contra a Cloud9 no PGL Major Antwerp.
"Eu não tenho palavras. Pela primeira vez, é difícil explicar uma vitória. Eu estou muito feliz que estamos (tendo bons resultados) mesmo com pouco tempo de time, muita gente desacredita da gente. Não vou falar que pesa muito, mas é chato ver que as pessoas desacreditam mesmo sabendo que você tem potencial", desabafou o jogador em entrevista à Dust2 Brasil.
"Graças a Deus, temos a chance de dar a resposta dentro do servidor. Eu acho que, para mim e para todo mundo do time essa foi uma vitória não só dentro do jogo, mas fora dele também. Eu estou muito feliz, ainda temos mais um jogo, estamos passo a passo, pé no chão. Hoje foi um jogão, jogamos muito, estamos crescendo muito nas md3, todos estão puxando a responsabilidade. Não tem outra palavra a não ser felicidade", completou.
Para fer, a felicidade antecede o sucesso - e essa é uma máxima que ele repete desde a criação do Last Dance.
"Quando criamos o time, falei que queria ganhar, mas a primeira coisa pra mim é ser feliz, e estamos sendo felizes e fazendo o que gostamos. A galera confunde, acha que o sucesso vai te trazer a felicidade, mas na real é totalmente o contrário. É a felicidade que atrai o sucesso", explicou.
"Eu não falo o sucesso de levantar troféus e nem nada, mas o que fizemos aqui hoje entra pra história pra gente. Sabemos onde estamos, da dificuldade, o nível profissional hoje está muito grande, muito foda, mas se as pessoas não sabiam porque a gente montou o Last Dance, tá aí a resposta", completou.
O jogo
Dentro do servidor, a Imperial esteve longe de ter vida fácil contra os russos. Mapa de escolha da equipe, a Overpass só terminou depois de três prorrogações. fer disse que a experiência pesou na hora de jogar os tempos extras.
"Por mais que a gente que basta um round para acabar o jogo, assim como os caras fizeram 15 e a gente fez 15, nós conseguimos virar qualquer OT, virar um 3 a 0, a mentalidade da galera é muito forte para isso, é todo mundo experiente aqui e não sente a pressão quanto está realmente na 'gimba' ali. Eu não senti pressão nenhuma", disse.
"O começo do jogo foi bem difícil, o Ax1Le estava pegando muitas kills no A e fomos com uma proposta de empurrar eles pro bomb A para termos um pouco mais de liberdade pra jogar pro B, e ele e o sh1ro estavam mandando muito bem. Chegou uma hora que vimos que estava difícil, mas não podemos sair do plano", continuou.
"A mentalidade da galera foi essa, estava 6-1 para os caras e continuamos na nossa mentalidade forte e no nosso plano, mesmo que isso estivesse dando errado. Nós respondemos tudo que precisamos no servidor", completou o jogador.
Na Vertigo, vencida pela Cloud8 por 16-9, o jogador reconheceu a superioridade do adversário no mapa.
"A gente sabe que a Vertigo não é um dos nossos melhores mapas. Sabemos que estamos trabalhando bastante de TR, tem mapas que encaixam muito bem e tem outros nem tanto. O (bomb site) A ali é um xadrez de troca de granadas, mudar o pace, e os caras mandaram muito bem. É um dos melhores mapas deles, não à toa pickaram e jogaram muito bem. Jogaram um xadrez num A muito forte, o B também é muito sólido, os caras tem jogadores muito bons em todas as posições", disse.
"Hoje não conseguimos fazer o xadrez no A, não conseguimos pegar os peeks iniciais, então saímos na desvantagem em quase todos os rounds. É muito mais mérito deles, temos muito a melhorar nossa Vertigo, estamos trabalhando pra isso", explicou fer.
Fechando a série, a Mirage foi amplamente dominada pelos brasileiros, que venceram por 16-3. fer admitiu que a escolha surpreendente dos adversários por começar do lado terrorista deu uma chance extra para a Imperial.
"Não vou falar (que começar de TR) foi um erro deles, eles estão no conforto e se eles escolheram jogar de TR é porque eles estavam absurdamente confortáveis. Mas a Cloud9 é um match up bom pra gente. Eles jogam muito lentos, nós conseguimos ler os rounds muito melhor", afirmou.
"Eles pickaram TR e vieram com a proposta que a gente sabe bastante jogar, jogamos assim também. Nós estávamos jogando contra o que sabemos muito. Eles deram uma chance a mais pra gente. Todos os mapas estão (melhores) para o CT, e quando você embala um CT, o time que escolheu TR e toma uma vantagem muito absurda se complica para voltar. A galera jogou muito, nosso CT hoje foi um dos mais fortes que já fizemos", completou o jogador.
Na boca do povo
Além de manter a Imperial viva no sonho de ir aos playoffs do PGL Major Antwerp, a partida foi histórica do ponto de vista da audiência. Com mais de 710 mil espectadores na transmissão de Alexandre "Gaules" Borba, o duelo se tornou a live mais assistida da história da Twitch brasileira. fer, um dos principais veteranos do cenário, disse nunca ter imaginado que o jogo chegaria nesse patamar.
"Ainda bem que saímos com a vitória para sair coroando isso aí com chave de ouro, mas o que aconteceu hoje para mim é algo que eu nunca iria imaginar na minha vida. Só tenho a agradecer a todo mundo que estava aí, se mobilizou, assistiu... segunda-feira, 700 mil pessoas", disse.
fer aproveitou para ressaltar uma teoria que historicamente tem muita força entre os brasileiros: a de que os estrangeiros estão contra o país.
"O Brasil quando vem aqui pra fora joga contra o mundo inteiro, não tem essa. Viemos de um país que não tem todas as possibilidades que os países de fora têm, tem bem menos que os outros. Jogamos no servidor não só contra o outro time, mas contra todas as nossas dificuldades desde o começo", disse.
"Não são 700 mil pessoas assistindo só a gente pelos jogadores que somos, mas sim pela história toda desde o começo. Essas 700 mil pessoas com certeza já podem ter visto um vídeo desde o começo para ver como é a trajetória", completou.
Sonhando com a vaga
Apesar da euforia da vitória contra a Cloud9, a Imperial ainda tem mais um desafio: enfrentar a Copenhagen Flames nesta terça-feira, às 14h30, em duelo que vale a classificação para a próxima fase ou a eliminação do major. fer admite que o time tem sonhado em jogar na arena lotada.
"Nós dormimos sonhando com essa vaga desde que chegamos aqui. Foi o que eu falei para a rapaziada, é passo a passo, se a gente não ganhar tudo bem, daremos nosso melhor", disse.
fer pregou respeito contra a CPH Flames. Mesmo que o adversário seja pouco experiente e não tenha grandes resultados fora do circuito do major, os dinamarqueses foram elogiados pelo veterano.
"O Copenhagen Flames é um time muito bom, eu acho que eles vieram de um 3-0 do RMR. Um time europeu que não tem muita experiência conseguir trazer um 3-0 para o campeonato, um major, (quer dizer) que os caras sabem jogar. Não são muito experientes mas sabem jogar, jogam o 'jogo jogado', não são robôs e nem nada disso, e nós gostamos deste estilo. Vai ser um jogão, espero que a gente ganhe para conseguir completar os três passos que faltam", finalizou.