jnt com a Sharks na ECS S8 Finals

jnt revela que decidiu parar por estar "cansado de não ter um calendário"

Ex-capitão da Sharks fez balanço da carreira após deixar o CS:GO para atuar no VALORANT

Em outubro de 2021, Jhonatan "jnt" Silva realizou o sonho de todos os jogadores de CS:GO e disputou seu primeiro major. Um semestre depois, o capitão anunciou a pausa na carreira no FPS da Valve para poder focar no VALORANT. Embora o tempo seja curto entre o major e o anúncio, jnt conta que a decisão não foi tomada de uma vez.

"É algo que já vem há um tempo. Passei por muitas mudanças na line e acho que isso me consumiu um pouco. Vi sair todos que estavam do meu lado. No começo desse ano, decidi que queria fazer algumas coisas diferentes na minha vida, cuidar mais de mim e ficar mais tempo com a minha família: os meus três gatos, um cachorro e a minha namorada", contou em entrevista à Dust2 Brasil.

Jogador profissional desde 2016, jnt lembra que o início da sua carreira foi difícil por precisar se dividir entre o trabalho e a faculdade. O jogador pensava em desistir do sonho a cada derrota, mas ele sabia que seu desejo era dar sequência à carreira.

Recomendado por Raphael "exit" Lacerda, jnt foi contratado pela Sharks em 2018 e vestiu a camisa da organização até o dia 1° de maio, quando anunciou a pausa na carreira. Com os Tubarões, disputou seu primeiro torneio internacional e começou a viajar ao redor do mundo. O que era a realização de um sonho no começo, passou a ser um desgaste com o passar dos tempos.

"A Sharks sempre foi um time que nunca teve muita agenda, iam surgindo os campeonatos e nós íamos jogando, ficava difícil para mim porque era muita incerteza. Hoje estou aqui, amanhã posso não estar. Semana que vem posso estar na Sérvia, na outra posso estar em outro país. Quando eu decidi parar de verdade foi quando eu me vi cansado dessa parada de não ter um calendário. Normalmente os times têm uma agenda de campeonatos, sabem quantos dias vão passar em cada lugar, mas a Sharks costuma ir jogando todos os campeonatos".

"(O grind na Europa) é muito mais cansativo do que definir uma sede e ficar nela. Você ficando no Brasil, por exemplo, sabe que se surgir um campeonato você não precisa viajar. Eu não sou muito fã de viagens, então ir pra lá e pra cá me consumiu durante esses anos e eu precisava dessa pausa para ficar uns meses aqui. Com o pé no chão, sem estar na porra de um avião, mas sou muito grato por todos os lugares que conheci, foi graças ao CS que eu consegui sair do país pela primeira vez e conheci diversos países", continuou.

jnt acredita que seu desinteresse pelo CS:GO teve início em 2021, quando a Sharks passou por muitas mudanças e também por viagens longas. Até mesmo a classificação para o PGL Major Stockholm não foi suficiente para reacender a paixão do jogador pelo FPS da Valve.

"Eu como IGL e o coachi como treinador nos desgastamos bastante com as mudanças de line. As mudanças foram acontecendo, muitas viagens longas para países esquisitos como a Sérvia. Foi um dos anos mais felizes da minha vida, fui para o major… mas foi troll porque não tivemos sticker e nem jogamos na LAN, só do quarto. Mas nós estávamos lá, então foi gratificante. Porém foi o mesmo ano que o exit saiu, começaram as trocas, as viagens entre Brasil e Sérvia, muita coisa acontecendo e eu longe da minha família. Isso me consumiu um pouco e entrei num burnout extremo e decidi ficar um pouco no Brasil".

Chave de ouro

Nos seis anos de carreira, jnt conquistou diversas vagas em torneios internacionais. O jogador citou qual vitória ele considera como a mais importante e também celebrou o título recente do CBCS, que serviu para fechar sua carreira no CS:GO com chave de ouro.

"Título é título, todo mundo quer ganhar. O principal foi o primeiro, que foi contra a FURIA, que valeu vaga na Pro League que jogamos aqui no Brasil. O time era recém-montado, acho que não tínhamos feito bootcamp na Europa, a FURIA já era o melhor time brasileiro. Na primeira partida online fomos espancados, papo de 16 a 1, 16 a 5, algo assim. Aí chegou na grande final na LAN, MD5, a gente conseguiu vencer. Ali foi o título mais marcante da minha carreira, foi o primeiro grande da minha carreira e o mais marcante com certeza. Dos mais recentes, talvez a final do CBCS Finals contra o MIBR, que foi para fechar o ano. Eu já tinha tomado a decisão do que eu queria fazer, e terminar o ano com aquele título foi muito bacana".

"A gente conquistou bastante coisa e, obviamente, tem a do major entre essas vagas conquistadas. Creio que fomos o time mais constante, acabamos indo pro major não ganhando nenhum dos três campeonatos. Porém, a vaga que eu mais me orgulho de ter conseguido com certeza foi a vaga da ECS na época do Luken e do meyern porque estávamos competindo nos Estados Unidos, batemos grandes times para poder estar lá e acho que a gente fez uma boa primeira partida naquela ECS. Estávamos em um nível muito bom naquela época, competindo fora do país", declarou.

Saúde em primeiro lugar

O motivo principal para que jnt decidisse dar uma pausa na carreira, antes de focar inteiramente no VALORANT, foi sua saúde. Depois do anúncio no começo de maio, o jogador iniciou uma sequência diária de treinos na academia a fim de melhorar sua condição física.

"Eu sou muito indisciplinado e, estando fora do país, você come muita besteira. Eu não tenho disciplina para pensar 'pô, tô em Portugal, vou dar uma caminhada na rua', que jeito. Eu sou um cara muito procrastinador nesse sentido de cuidar da saúde, e a viagem me proporciona essa desculpa de 'caralho, você tá fora do país, come esse McDonald's aí' ou 'pô, dorme até mais tarde'.

"A decisão de ir ao VALORANT também se dá pelo fato de poder ficar no Brasil, competir do meu país e ter alguns meses para cuidar da minha saúde. Desde que eu não entrei na Sharks eu não fiz um exame, é foda".

A nova empreitada

O contato de jnt com o VALORANT teve início logo no lançamento do jogo, em junho de 2020. O jogador revela que, no primeiro ato com o rank radiante disponível, ele atingiu o elo. jnt até se afastou do jogo, mas voltou ao VALORANT no início deste ano já com o desejo de migrar.

"Por enquanto estou aprendendo o jogo, não tem como eu falar que vou chegar sendo bom, porque não é assim que funciona. É parecido com o CS porque ambos são FPS táticos, mas é muito diferente no quesito de que cada jogador tem uma função dentro do time. No CS você consegue smokar para você e bangar para você mesmo, já no VALORANT é diferente, você depende do seu parceiro do lado. O que eu posso passar para a galera é que, o que eu aprendi durante esses cinco anos, é que esporte coletivo não se ganha sozinho. Mais do que no CS, você depende do seu amigo, precisa estar em sintonia com ele para poder vencer".

Como de praxe, jnt se sentiu atraído pelo VALORANT por conta do suporte da Riot Games, "diferente da Valve que vê os jogadores somente como números", além de estar se divertindo mais no FPS da Riot do que no CS:GO. No entanto, jnt aponta mais um motivo para migrar: sair da zona de conforto.

"Querendo ou não, na Sharks eu já estava na minha zona de conforto sendo IGL, tendo um papel muito importante no qual eles dependiam de mim. Eu sempre fui um cara que gostei de aprender coisas novas, tudo que vira rotina acaba virando maçante para mim. Então o VALORANT, por ser um jogo novo, por eu estar vendo amigos jogando e estando felizes, me atraiu".

Em um cenário com tantos jovens de 16 e 17 anos anos competindo, jnt, 27, crava que quer dar continuidade a sua carreira como jogador. Sua principal inspiração é o multicampeão no CS Patrik "f0rest" Lindberg.

"Muita gente fala da idade, mas meus ídolos são velhos e estão dando (bala) na cara até hoje. O maior deles tem 33 anos e está no mais alto nível de CS da Europa, que é o f0rest. A única parada na questão de idade que falam que 'vai ficando velho vai ficando ruim', é que na verdade as prioridades mudam. Com o passar dos anos, as pessoas vão tentando mais responsabilidades, colocam suas prioridades em outros lugares, diferente de um jovem de 16 anos que a prioridade dele é acordar, tomar um toddynho e jogar".

"Então acho que ainda tenho idade para competir, quero me aventurar nesse cenário, não tenho propostas ainda e, mesmo se tivesse, não sei se aceitaria, mas deixaria bem claro que querendo ou não sou iniciante no jogo. Eu tenho 200 horas no VALORANT, estaria competindo com pessoas que tem mil, 2 mil, em um jogo no qual a mecânica é muito importante. No CS a mecânica é importante, mas no VALORANT é diferente, cada um tem sua mecânica, uma função diferente. Como falei, eu migrei agora, mas se for para competir esse ano vai ser competindo com fake, essas coisas. Se for para eu estar em um time, ou disputando grandes campeonatos, só no ano que vem mesmo", finalizou.

*Colaborou Victor Porto ao escrever o texto.

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