short sobre LOS: "Sabia que era muito difícil dar certo"
Desde julho do ano passado, Paulo "short" Ballardini tem enfrentado um período ruim no CS. O IGL teve passagem apagada pela Paquetá e, depois, liderou o projeto na LOS que também desempenhou abaixo do esperado.
Em entrevista à Dust2 Brasil, o jogador falou de dificuldades de achar treinos, problemas de infraestrutura, divergência de ideias e falta de encaixe das peças como contratempos que afetaram o time no período da LOS.
"Esse projeto era muito (focado) para o RMR, mas quando começamos a conversa eu sentia que o Kakavel queria algo a longo prazo, pelo menos seis meses. Tanto que jogamos a Advanced (no NA) que durava 3 meses e dava vaga para a (ESL) Challenger que aí são mais 3 meses de campeonato. Então seria um mínimo de 6 meses, alguns contratos de empréstimo eram nesse período também. Tudo isso foi bastante corrido, as escolhas dos jogadores foram de oportunidade, então a LOS tinha interesse em tentar esse "miracle run" de jogar o RMR e poder eventualmente chegar no Major, assim como nós jogadores."
"Estava muito em cima da hora, então se a gente não montasse aquele projeto nem tentaríamos jogar o RMR. Ter 1% de chance de jogar o Major é melhor que 0%. Lembro que a formação da line foi de última hora, em menos de uma semana. Senti que o grupo não funcionou tão bem por estilos de jogo diferentes e muitas vozes de liderança. Porém todos são muito bons individualmente, por isso queríamos montar esse grupo, porém senti que como time as peças não encaixaram tanto", continuou short.
Com a lineup definida e passagens compradas, o time seguiu para os Estados Unidos. short conta que somente no país norte-americana a equipe fez seu primeiro treino juntos, porém a ida para o NA dificultou a evolução do time pela falta de treinos.
"Viajamos dia 4 (de dezembro) para os Estados Unidos e ainda não tínhamos treinado, estávamos só conversando sobre posições e até montamos uma planilha. Entramos no server (juntos) só nos EUA de tão de última hora que foi. Lá no NA a gente treinava muito pouco depois do RMR porque quase todos os times foram para a Europa como Liquid, M80, Nouns. Só tínhamos a NRG como time bom para treinar lá. Então ou treinávamos poucos mapas por dia e contra alguns times bem mais ou menos."
"Depois do RMR, que era o campeonato que tínhamos mais expectativa, tínhamos pouquíssimos treinos, poucos com times bons, então ficávamos naquela de "estamos mandando bem nesses treinos, mas será que estamos mandando bem ou esses times são muito ruins?". Tivemos pouca preparação. O coach da NRG até mandou "obrigado por vocês estarem aqui, não tem ninguém para treinar essa região". Esse foi um fator que pesou bastante. Depois de um mês e uma semana jogamos 42 mapas no total, e nesse período no Brasil ou Europa seriam mais ou menos 90 mapas. Estávamos treinando menos da metade do que é o padrão", contou o capitão.
Embora estar na América do Norte tenha sido um problema para o time como pontua short, o jogador conta que o time já sabia do desejo da organização de ir para os Estados Unidos. Segundo o capitão, a ideia fazia sentido no início.
"Quando tivemos as primeiras conversas sobre o projeto, sabíamos do histórico e da vontade da LOS/Team oNe de estar nos Estados Unidos e realmente fazia muito sentido. Porém outro empecilho que rolou foi que, cerca de 2-3 semanas depois de estarmos lá, que saiu o anúncio da ESL sobre o update da pontuação do ranking para o SA e o NA, então algo que era quase 4x maior tava em 1.25x depois."
"Essa conversa de estar no NA fazia sentido para a gente porque todo mundo deduzia que faz sentido estar em um lugar que dá mais pontos e mais invites, só que o que aconteceu na prática foi que os pontos diminuíram muito, os treinos lá já sabíamos que não seria uma Europa da vida porém estava muito abaixo das expectativas e agora vivemos um momento único no Brasil que até a própria FURIA veio jogar qualify pra cá", continuou.
Mais problemas
short conta que ao chegar nos Estados Unidos, o time encontrou computadores com desempenho no CS2 abaixo do recomendado. Com estes computadores, a equipe jogou o RMR, algo que foi um dificultador para o quinteto, como explicou short.
"A GH estava equipada com computadores da line antiga e, quando chegamos, todos os PCs rodavam muito bem o CS:GO, porém como todos sabemos para o CS2 o computador precisa ser bem melhor. Então tinham dois PCs medianos e três PCs que rodavam muito mal o CS2, cerca de 150-200 FPS. Jogamos os dois (opens do) RMR com esses PCs e depois disso o JOTA e history optaram por pegar um computador melhor para eles lá."
"Eu e t9rnay tínhamos dado um upgrade no Brasil, então não tinha como nós fazermos isso. Alguns dias depois o leo também trocou, e eu e t9rnay ficamos usando os PCs medianos até o fim do projeto. Essa questão com certeza afetou bastante o RMR porque conseguimos ter um computador um pouco melhor depois dos qualifiers", disse o jogador.
Antes de viajarem aos Estados Unidos, os jogadores conversaram com Alexandre "Kakavel" Peres, que disse que os computadores estavam rodando o CS2 e fez alguns testes, de acordo com short. No entanto, a situação encontrada pelo capitão e os companheiros de equipe foi diferente.
"É diferente quando você está jogando para brincar ou num mapa offline para quando está jogando uma exec B da Inferno. E o CS2 está bem mais pesado. Tivemos as conversas com o kakavel, só que a resposta foi que estava esperando o financeiro, que precisava de alguma aprovação e estávamos lá para dar o melhor de si, então sentimos que precisávamos dar esse upgrade."
"Todo mundo comprou o monitor 360hz já que os que tinham lá era 240hz - que é um monitor bom, mas não é o que os times estão usando hoje. Pela demora que estava sendo (por parte da LOS), os jogadores optaram por pegar os PCs por conta própria e eu e t9rnay continuamos usando os que tinham lá. O meu PC não dava para jogar um mapa diferente do aimbotz e DM", seguiu.
Junto dos treinos e do desempenho abaixo dos computadores, short pontua um terceiro problema: a incerteza sobre o tempo de duração do projeto depois do time cair no RMR.
"Os três pontos principais para mim foram: os PCs, os treinos lá que eram muito abaixo tanto em qualidade quanto de quantidade e fiquei muito em dúvida se aquilo seria a longo prazo ou mais a curto prazo. Senti que o kakavel dava a entender que era a longo prazo, pelo menos 6 meses, mas algo que conversei era a necessidade de ter um psicólogo do time. Essa conversa sobre psicólogo eu falei já no dia 1 e é um padrão de todos os times tier 1, ainda mais estando no modelo de GH, longe de casa, então esse não é o modelo ideal hoje em dia e os treinos lá não estavam compensando."
"Tenho que dizer que meu intuito não é jogar hate na LOS, mas só para esclarecer alguns motivos de termos uma performance muito abaixo dos jogadores, torcedores e organização. Tenho agradecer bastante ao kakavel pela oportunidade que nos deu, porque sem ela nem tentaríamos jogar o RMR. Conversando com ele lá, deu para ver que é um cara muito apaixonado pelo CS, gosta e tem muita história com o jogo", adicionou short.
Com o time todo junto vivendo na mesma gaming house e tentando fazer com que as peças encaixassem, short revela que os jogadores tiveram alguns atritos.
"Acho que não teve nada muito grande, todo mundo lá é competitivo e quer muito ganhar. Senti que as derrotas estavam abalando mais a gente do que deveriam, são coisas normais que acontecem em qualquer time. E leva um tempo para um grupo virar um time mesmo e acho que não tivemos isso."
"Essa parte do psicólogo acho que ajudaria bastante e tem um motivo para a GH não ser o principal formato que os times trabalham hoje, geralmente é office e bootcamp. Foram coisas normais do dia a dia, de rotina, de visões diferentes, nada fora do normal, jogaria com todos tranquilamente em projetos futuros. Não acho que a porta de lá ficaria fechada para ninguém", seguiu.
Fim do projeto
Menos de dois meses depois de terem ido aos Estados Unidos, os jogadores retornaram para o Brasil, dando fim ao projeto junto da LOS. short falou dessa divergência de ideia entre lineup e organização.
"Nós resolvemos ter essa conversa com Kakavel. Estrategicamente para a LOS não fazia sentido sair do NA, nós entendemos essa decisão, ele (Kakavel) também entendeu nosso ponto de vista. Tivemos uma conversa abordando todos esses pontos que trouxe aqui e resolvemos nos separar", explicou.
Sem a LOS, os jogadores optaram por não seguirem juntos no projeto em busca de uma nova organização. short conta o porquê da separação após deixarem a LOS.
"Não sei o quanto posso abrir, mas nem todos estavam com contrato assinado. Alguns estavam por empréstimo e não necessariamente com contrato assinado, então quando estávamos voltando (para o Brasil) e íamos ficar sem organização, pensamos nessa questão de multa e toda essa negociação estava bem próxima do RMR."
"Como sempre rola, vai ter uma dança das cadeiras depois do RMR e por essa questão de ter jogadores em contrato, o fim do RMR estar próximo, achamos melhor cada um esperar, ver propostas, o que vai rolar, para depois tomarmos uma decisão. Não é como se tivesse o melhor time do mundo em questão de desempenho para seguirmos juntos. Tivemos resultados ruins e foi algo natural (a separação)", seguiu.
Próximos passos
Tetracampeão do CBCS em 2022, short quer reencontrar o caminho para ter bons resultados e se destacar, ao menos nacionalmente. Com as experiências com a Paquetá e LOS, o capitão de 23 anos acredita que aprendeu muito.
"Essas duas últimas experiências que tive foram muito boas, somaram bastante para mim, consegui ver visões de jogo bem diferentes da minha. Por falta de experiência não fui o melhor capitão que poderia ter sido, porém com certeza me fez crescer muito e me faz me sentir mais preparado para um próximo time. O principal é ter mais calma, pensar melhor em estar em um projeto que realmente faça sentido no papel antes de colocar na página. Essas experiências foram bem rápidas, às pressas, e isso é um erro que não vou cometer de novo."
"No caso da LOS eu sabia que era muito difícil de dar certo e era um projeto focado ao menos no começo a curto prazo e que poderia se tornar a longo prazo depois, mas o principal é isso. (Vou) resetar a cabeça, focar em um projeto que faça sentido, encaixar um time com personalidades parecidas, funções que se encaixem e sempre pensar nessa parte de coletivo, de grupo, que foi o que fez a gente crescer na ARCTIC e ter um mental muito bem trabalhado que acho que faz toda diferença nos esports", adicionou short.
Para seu futuro, short preza calma, mas já tem sua preferência: ele quer montar um projeto com a sua cara, escolhendo os jogadores e já tem alguns nomes em mente.
"Estou bem aberto ao que aparecer, com certeza vou analisar bastante antes. Minha vontade tende um pouco mais a montar um projeto com minha cara, ter algo mais do zero, criar alguma coisa, em vez de criar um time já estabelecido."
"Porém, dependendo das peças e das conversas que é o principal, ter coach e IGL bem alinhados, tryouts com jogadores, experimentar e ver na prática como é. Estou aberto a qualquer coisa, o mais importante é fazer sentido no papel e ter calma nessa próxima etapa. Tenho alguns nomes em mente, algumas conversas, porém vou esperar mais um pouquinho até o fim do RMR", finalizou.