bt0 e Liminha sobre transmissões: "Mostramos que tem uma pessoa ali, não só um jogador"
"Reportagem de campo" não é exatamente uma novidade nas transmissões esportivas, mas André "Liminha" Kenzo e Fillipe "bt0" Moreno têm feito sucesso ao transportar esse formato para os eventos de CS:GO. Os streamers da Tribo de Alexandre "Gaules" Borba deixaram seus quartos e vêm, desde outubro do ano passado, participando das transmissões direto de alguns dos eventos transmitidos por Gaules, incluindo o PGL Major Antwerp.
"É muito diferente porque, quando você está em casa, você foca mais no jogo, consegue algumas inserções na câmera pra ver o que está acontecendo, mas focamos muito mais no jogo. Esse é o major que eu, tecnicamente falando, menos acompanhei e o que eu mais curti o ambiente", contou bt0 em entrevista à Dust2 Brasil.
"O que tentamos trazer é mostrar o ambiente, as pessoas, tentar encontrar histórias e mostrar essas histórias, porque sei que a galera curte a nossa história e ela vem acompanhando essa mudança, essa evolução, e tentamos trazer tudo que estamos vivendo, como se o espectador tivesse a oportunidade de estar aqui. É muito isso que está acontecendo", completou.
Liminha deixa claro que, por mais que esteja aproveitando nos eventos, sabe dos deveres que tem a cumprir, já que ele, entre muitos, foi escolhido como um dos representantes da torcida brasileira.
"Agora eu tenho uma função. Eu venho curtir, mas tenho uma responsabilidade. Eu fui um escolhido entre milhões que assistem o Gau, eu tenho a responsabilidade, tento trazer a visão nossa, de quem está aqui, de uma pessoa que curte pela live e quer saber como funciona", disse.
"Os jogadores vêm de van? Saem por trás do palco? Ele pluga (os equipamentos)? Quanto tempo ele fica esperando ali. Fazemos as perguntas que o cara que está assistindo (quer saber) e tentamos passar a emoção de estar aqui presencialmente, mostrar como é o clima da arena, como é estar ali, empurrar, torcer. É passar para quem está assistindo a emoção de estar aqui", completou.
bt0 resume a ideia por trás das inserções ao vivo de maneira simples: o objetivo é mostrar que os jogadores são, no final de tudo, seres humanos.
"A galera tem uma ideia de que o jogador de CS spawna naquela arena, entra num portal e tá ali. Cada dia mais, com a abertura que vão nos dando, o sucesso das transmissões vai dando credibilidade para nossa dupla e vamos mostrando que atrás do jogador tem um cara sangue bom, um cara de mau humor também. Mostramos que tem uma pessoa ali, não é só um jogador que spawna para jogar".
Faz parte do show
De acordo com a dupla, os principais problemas encontrados até agora são técnicos, especialmente com a internet e a falta de acesso aos jogadores em alguns momentos por conta das regras impostas pelas organizadoras de torneios. Segundo bt0 e Liminha, nenhum jogador viu problema nas entradas da dupla até aqui.
"A comunidade brasileira nos ajuda muito. Depois que batemos os números que batemos nos jogos da FURIA, da Imperial, a galera olha de outra forma. 'Olha, o Brasil inteiro está nos assistindo, vamos lá falar com eles'. Isso é graças a toda a comunidade que está nos assistindo", afirmou Liminha.
"Depois dessas transmissões históricas, principalmente com a Imperial, tiveram torcedores sem conexão com o Brasil que vieram falar com a gente sobre os números, nos ajuda muito. Quando falamos com os jogadores, a galera dá uma moral no Twitter e os caras gostam, porque a comunidade é muito calorosa. Quando damos esse calor para eles, eles se sentem cada vez mais próximos e facilita tudo, a coisa flui", completou bt0.
O ex-jogador, inclusive, acredita que os jogadores que estão ali falando com eles nas entradas não gostariam de passar por isso, mas entendem a importância.
"Eu tenho na minha cabeça que nenhum jogador gosta de dar entrevista, mas alguns entendem que é muito importante. O FalleN, exemplo dentro e fora de jogo, sabe que tem que dar essa informação para a comunidade. O jogador quer jogar, não quer dar entrevista, então o que a gente tenta é não fazer muito o que não é nossa praia. (A ideia) é trazer ele para perto, buscar a emoção dentro dele, para tentar saber o que está acontecendo naquele momento, não fazer uma entrevista (formal)", disse.
Liminha, por sua vez, faz uma alerta: o que adianta a competição sem exposição?
"O show é muito importante. Qualquer tipo de competição (precisa de exposição). É aquela história, se cai uma árvore no meio da Floresta Amazônica, ninguém ouviu, será que aconteceu? Tem que mostrar. É isso que tentamos ajudar. Às vezes o jogador está tão concentrado no jogo que essa parte de mostrar não é obrigação dele. Ele tem que se concentrar para fazer o seu melhor. Essa parte de mostrar, de fazer essa aproximação, é nosso papel", afirmou o streamer.
bt0 vai além e diz que o jogador que não compreende a importância dessa exposição está desatualizado.
"O jogador que não entende que, além de ter que concentrar pro campeonato, ele ter que dar o melhor e ser um atleta de alta performance, também tem que entregar coisas para a comunidade, ele não entendeu nada. O jogo está aí até hoje por causa disso. Se fosse só competição não teríamos todo mundo sendo super fã do Brasil, falar da energia e da emoção que trazemos. No fundo, é isso que faz sucesso, a emoção e o amor que temos", afirmou.
Colecionando histórias
As entradas ao vivo deram vida para alguns personagens que passavam despercebidos, como a juíza Marcela Furlan e o manager Sérgio "Rato Feliz" Lima, mas outros nomes já consagrados também ganham o público e até os próprios repórteres, que escolheram suas histórias favoritas da Antuérpia.
"Sem dúvida, a Imperial. Eles, querendo ou não, sabiam do potencial deles, mas não sei se eles tinham essa crença toda de que poderiam chegar a um torneio deste nível. Ver eles fazendo esses jogos, passando de fase, vencendo aquele jogo contra a Cloud9... Chegar, ver as pessoas chorando, comemorando, ver boltz, VINI e fer emocionados. Pô, é muito raro ver o fer emocionado", disse bt0.
"Eu tenho quatro histórias. Uma é da Heroic, um time que busca essa torcida. O cadiaN sempre deu aquela força, ajudou, dá entrevista no final do jogo com o maior prazer. Fiquei muito feliz quando eles passaram para os playoffs, foi muito bacana ver. Outro cara, que apesar de eu não ter falado muito, mas fiquei feliz em contar (a história), foi o buster. É aquele cara que você acha que é um trouxa, mas na verdade ele só não sabe falar inglês e por isso não dá entrevistas. É interessante. Você vê as transmissões da PGL em inglês, ele não aparece porque não sabe falar inglês, fica constrangido. E quando a gente chega com nosso inglês meio zoado, ele fala com a gente, é muito gente boa", contou Liminha.
"A FURIA também foi bacana, o drop, segundo major e segundo playoff, kscerato é gente boa demais, sempre dá uma força. Todo mundo da FURIA (dá uma força), não vou ficar citando cada um porque todos ali sempre ajudam. Pessoalmente, cobrir o FalleN, entrevistá-lo naquele momento de vitória contra a Cloud9, é impossível não se emocionar. O FalleN me abriu uma porta, junto com o Gau, que nem se fala, e o FalleN na (doação para comprar) o computador. Aquilo lá mudou até hoje a minha vida, todas essas experiências são por causa daquilo. Entrevistar e estar pessoalmente ao lado, para mais de 500 mil pessoas, foi um negócio marcante para mim", completou o streamer.
Muito a melhorar
Agora, a dupla se prepara para carimbar o passaporte mais algumas vezes e seguir na estrada ao lado dos times brasileiros. Tanto bt0 quanto Liminha, porém, enxergam muitas coisas a serem aprimoradas.
"Estamos num momento de nos organizarmos. Tudo que estamos fazendo, querendo ou não, está sendo em cima da hora. Fomos para o major na Suécia faltando três dias, para a Romênia ficamos sabendo faltando quatro dias, dessa vez (ficamos sabendo) faltando uma semana. Estamos num período de nos organizarmos para podermos entregar mais conteúdo que não seja live. Sobre o conteúdo ao vivo, acho que podemos melhorar, aprender a lidar com as dificuldades do momento, e buscar novas histórias, que eu acho um conteúdo infinito, vamos sempre buscar a história das pessoas, dos jogadores, onde estivermos", afirmou bt0.
"Estamos fazendo tudo isso pela primeira vez, então tem muito a fazer, muito a melhorar. O inglês, as perguntas, tem muita coisa ainda, mas acho que vamos melhorar bastante e vamos ter muitas coisas no futuro", finalizou Liminha.