
Dono da Galorys é denunciado pelo MP e tem ligação com trabalho análogo à escravidão
O dono da Galorys, Haroldo de Freitas Vasconcelos, possui um histórico controverso fora do mundo dos esports. O empresário foi investigado e denunciado pelo Ministério Público de Minas Gerais (MP/MG) por participar de um suposto esquema de lavagem de dinheiro e ocultação de bens. Ele também possui ligação com a Souza Paiol, empresa presente na "lista suja" do Ministério do Trabalho (MTE) por exploração de trabalho análogo à escravidão
As informações foram obtidas pela Dust2 Brasil. A ligação entre a Galorys e a Souza Paiol, fabricante de cigarros de palha presente na lista suja, já havia sido publicada pelo site VSpace em janeiro.
A Souza Paiol é comandada pelo pai do dono da Galorys, José Haroldo de Vasconcelos. Os dois empresários, familiares e outros integrantes do Grupo Souza Paiol, foram alvos da “Operação Paiero”, cujo objetivo era apurar crimes de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro supostamente cometidos pelo conglomerado. A investigação coloca Haroldo de Freitas como participante deste grupo.
Já a presença da Souza Paiol no cadastro oficial do governo que reúne empregadores flagrados explorando trabalhadores em condições análogas à escravidão se deve a duas inspeções feitas pelo MTE em propriedades da empresa nos anos de 2021 e 2022, conforme explicou o Ministério à reportagem.
A fábrica de cigarros de palha, inclusive, chegou a ser listada pela Galorys no site oficial da organização como parceira junto de outras duas empresas de Haroldo de Freitas, a STO Motors e a Tictur, além de um terceiro patrocinador alheio ao empresário. Os nomes de todas foram removidos após a reportagem de janeiro.

Além da investigação do MP colocar Haroldo de Freitas como participante do Grupo Souza Paiol, o empresário foi designado como representante da empresa em uma ação trabalhista contra a companhia. Ele também exibe nas próprias redes sociais a ligação com a fabricante de cigarros de palha.
A reportagem encontrou dois perfis de Haroldo de Freitas no Facebook. No com o nome “Haroldinho de Freitas”, o dono da Galorys diz trabalhar na Souza Paiol. Já no com o nome “Haroldo de Freitas Vasconcelos”, o empresário colocou como próprio contato o telefone listado no site oficial da fabricante de cigarros de palha. Veja nos recortes abaixo.


A ação trabalhista em questão, a qual a reportagem teve acesso, acusava a Souza Paiol de submeter funcionários a condições degradantes de trabalho e descumprir direitos trabalhistas. Além de representar a empresa na audiência, mesmo com o pai e dono da companhia também presente, o fundador da Galorys também foi incluído como réu. O caso foi encerrado após um acordo entre as partes.
A reportagem também teve acesso à ação movida pelo MP. Nela, os investigadores afirmam que o dono da Galorys participou ativamente do esquema liderado por José Haroldo. Com as informações apuradas na “Operação Paiero”, concluiu-se:
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A existência de um grande esquema de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro envolvendo várias pessoas físicas e jurídicas ligadas ao Grupo Souza Paiol;
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Vários imóveis registrados em nome do referido grupo familiar;
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Que os investigados estavam em posse de R$ 7.770.961,71 em espécie e em cheques de diversos emitentes;
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A realização de uma consultoria para ocultar/blindar o patrimônio dos sócios contra ações do Fisco;
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Utilização de contas bancárias de terceiros, inclusive da mãe de José Haroldo
Também segundo a investigação, Haroldo de Freitas teria ajudado o pai na ocultação de bens por meio da PIT Empreendimentos e Participações LTDA. A Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (Redesim) mostra que o dono da Galorys e José Haroldo compõem o quadro societário desta empresa. Os investigadores apontam que a companhia foi utilizada na ocultação de 12 bens ativos, totalizando mais de R$ 1 milhão.
Veja os ativos e valores
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Apartamento em Nova Lima/MG – comprado por R$ 100 mil e transferido para a PIT Empreendimentos e Participações LTDA, sem valorização no valor da venda (2017).
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Imóvel rural em Pitangui/MG – comprado por R$ 300 mil e transferido para a PIT Empreendimentos no mesmo ano.
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Loja em Pitangui/MG – adquirida por R$ 6.400,00 e transferida para a PIT Empreendimentos em 2017, sem alteração de valor.
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Loja em Pitangui/MG – adquirida por R$ 10.668,80 e transferida para a PIT Empreendimentos em 2017, sem valorização.
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Terreno em Pitangui/MG – comprado por R$ 7.204,48 e transferido para a PIT Empreendimentos em 2017.
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Apartamento em Belo Horizonte/MG – comprado por R$ 550 mil e transferido para a PIT Empreendimentos por R$ 500 mil.
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Imóvel urbano em Pitangui/MG – transferido para a PIT Empreendimentos por R$ 34.496,00.
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Imóvel em Pitangui/MG – transferido para a PIT Empreendimentos por R$ 32.480,32.
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Terreno em Pitangui/MG – transferido para a PIT Empreendimentos por R$ 3.300,00.
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Terreno em Pitangui/MG – transferido para a PIT Empreendimentos por R$ 56.000,00.
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Terreno em Pitangui/MG – transferido para a PIT Empreendimentos por R$ 3.000,00.
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Terreno em Pitangui/MG – transferido para a PIT Empreendimentos por R$ 7.000,00.
Pesquisa realizada pela reportagem na Redesim, com base em informações públicas sobre Haroldo de Freitas, mostra que, além da Galorys, o empresário é listado como sócio-administrador ou apenas sócio em 16 empresas. Deste total, em quatro há uma ligação societária com o pai. A organização de esportes eletrônicos não é uma delas. Veja abaixo.
Empresas nas quais Haroldo de Freitas e José Haroldo são sócios:
LMV Empreendimentos e Participações LTDA
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José Haroldo Vasconcelos: Sócio
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Haroldo de Freitas Vasconcelos: Sócio
JHV Empreendimentos e Participações LTDA
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José Haroldo Vasconcelos: Administrador
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Haroldo de Freitas Vasconcelos: Sócio
Bela Vista Empreendimentos e Participações LTDA
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Haroldo de Freitas Vasconcelos: Administrador
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José Haroldo Vasconcelos: Sócio via JHV Empreendimentos e Participações LTDA
PIT Empreendimentos e Participações LTDA
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Haroldo de Freitas Vasconcelos: Administrador
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José Haroldo Vasconcelos: Sócio via Bela Vista Empreendimentos e Participações LTDA
O que dizem as partes
A reportagem entrou em contato com a Souza Paiol, ligando para o número vinculado ao perfil "Haroldo de Freitas Vasconcellos", o mesmo informado no site da empresa.
Na primeira ligação, em 11 de março, funcionários confirmaram que Haroldo de Freitas trabalha na empresa. No entanto, ao serem questionados sobre a participação dele no dia a dia, pediram que a ligação fosse refeita mais tarde, no mesmo dia. Nas duas tentativas seguintes, a empresa negou qualquer vínculo de Haroldo com a fabricante de cigarros de palha.
A Souza Paiol foi questionada sobre as funções de Haroldo de Freitas na empresa, mas não respondeu o contato até a publicação da matéria. A empresa também não se pronunciou sobre as denúncias do trabalho análogo à escravidão. A Galorys não explicou a parceria entre a organização e a Souza Paiol. Haroldo de Freitas não retornou o contato feito pela reportagem.
O Ministério do Trabalho explicou que a inclusão de uma empresa na "lista suja" ocorre sempre após a comprovação de irregularidades por meio de uma fiscalização oficial e a aplicação das penalidades previstas na legislação trabalhista. Também segundo o MTE, a Souza Paiol reincidiu na prática, motivo pelo qual seu nome aparece duas vezes no Cadastro de Empregadores.
O órgão federal disse ainda que a inclusão de uma empresa na "lista suja" é uma medida de transparência do governo, e não uma punição direta.
"O prazo de permanência na lista é de dois anos, sendo também de dois anos o prazo de permanência no Cadastro de Empregadores em Ajustamento de Conduta", explicou.
As instalações da Souza Paiol foram fiscalizadas em duas ocasiões, após denúncias:
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Em 2021, uma operação no estado de Goiás encontrou trabalhadores em condições degradantes, sem acesso adequado à água potável e alojamentos inadequados.
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Em 2022, uma nova fiscalização em Minas Gerais constatou reincidência das irregularidades, resultando na inclusão da empresa na 'lista suja' do MTE.