FERJEE parcela dívida da DreamHack Rio com Ministério do Esporte
A dívida pela utilização da Arena Carioca 1 e do estacionamento do Parque Olímpico para a realização da DreamHack Rio 2019 será paga. Em reposta a recurso da Lei de Acesso à Informação (LAI), o Ministério do Esporte (MESP) informou à Dust2 Brasil que a atual gestão da Federação do Estado do Rio de Janeiro de Esportes Eletrônicos (FERJEE) parcelou os R$ 122.205,58 em seis vezes. A primeira das parcelas já foi paga.
Na época, a FERJEE então presidida por Paulo Roberto Ribas fez a locação das estruturas por R$ 66.101,35. Como o aluguel não foi pago nos cinco anos após o evento, o valor subiu para R$ 122.205,58 devido atualização monetária (R$ 101.875,49) e multa limitada a 20% do valor original do débito (R$ 20.375,09).
Segundo o MESP, a Diretoria de Infraestrutura do Esporte recebeu um ofício da FERJEE solicitando o parcelamento da dívida em 16 de abril deste ano. Neste ofício, a atual gestão da federação alegou que não tinha conhecimento da pendência com o Ministério e que também se encontrava "em delicado momento financeiro, se reestruturando desde a mudança de gestão para fins de adequar-se conforme atual realidade imposta."
Inclusive, a primeira das seis parcelas - cada uma no valor de R$ 20.375,10 - foi paga no dia 13 deste mês. A Coordenação-Geral de Gestão de Instalações Esportivas (CGGIE) enviou o comprovante à reportagem.
Mas esse não é o único débito que segue em aberto após cinco anos de evento. Ribas e Filipe Alves Rodrigues buscaram captar R$ 3.894.291,74 via Lei de Incentivo ao Esporte. Para isso, os responsáveis pela DreamHack Rio apresentaram orçamentos para 24 serviços enviados por mais de 50 empresas. O valor pleiteado não foi obtido.
A reportagem buscou contato com todas as empresas que enviaram os orçamentos nos projetos de captação apresentados pela FERJEE ao Governo do Estado do Rio de Janeiro em 2018 e 2019, algumas não conseguindo por já terem fechado. De todas, somente duas responderam o contato: Estrutend Estruturas, com orçamento presente no projeto de 2018, mas não no de 2019, e Rádios RJ, que consta nos projetos dos dois anos.
Carla Mendonça, executiva comercial da Estrutend Estruturas, confirmou que a empresa prestou serviço na DreamHack e que recebeu o acordado, mas sem falar de valores. A empresa enviou orçamento no valor der R$ 37.000,00 para o serviço "Tendas". Já a Rádios RJ prestou serviço "Comunicação" e não recebeu por tal. O valor acordado com a FERJEE foi de R$ 17.620,00, valor maior que o apresentado no orçamento de R$ 12.320,00.
Após a publicação da primeira reportagem sobre as dívidas, André Felipe Goulart, então um dos produtores do evento, procurou o site afirmando que também não foi totalmente pago pelos serviços que prestou na realização do evento. Além de fazer parte da equipe de produção, Goulart foi um dos responsáveis pela área vip e LAN party.
Segundo o produtor, o então diretor geral da DreamHack Brasil, Filipe Alves Rodrigues, foi quem o chamou para trabalhar. Goulart afirmou que chegou a assinar contrato, mas não se recorda se foi com a FERJEE ou Rodrigues, e que o vínculo foi oficializado somente um mês após já ter começado a trabalhar. Quanto aos valores, ele diz que recebeu um mês, restando outros quatros sem receber.
Na primeira reportagem sobre as dívidas, Cadu Albuquerque, atual presidente da FERJEE, informou que estava conversando com o Governo Federal sobre o parcelamento da dívida do aluguel das estruturas, mas que, "no entanto, como o contrato foi assinado por Paulo Ribas", ele não estaria "conduzindo comunicações diretas com os fornecedores; cabe exclusivamente a ele arcar com os custos dos mesmos".
A assessoria da FERJEE disse Albuquerque não estava envolvido na gestão de Ribas: "Não estivemos envolvidos na gestão mencionada, então não podemos fornecer uma resposta precisa. Sugiro que essa questão seja direcionada ao presidente que estava no cargo na época."
Já Ribas, em entrevista à reportagem durante o evento de lançamento do GET Rio, ano passado no Rio de Janeiro, como presidente da Confederação Brasileira de Games e Esports disse que as dívidas referentes à realização da DreamHack Rio tratavam-se de situações "bem esclarecidas" na mídia e até nos órgãos de controle.
"Essa é uma situação que já foi bem esclarecida na mídia e até nos órgãos de controle, vamos dizer assim. A CBGE não teve participação nenhuma, foi a federação do Rio de Janeiro que, tecnicamente, apoiou o projeto DreamHack. E seria maravilhoso se tivesse funcionado. Nós conseguimos o certificado do mérito da capital para captar os recursos, que não foram captados. Então não teve recurso público, e, com isso, foi ruim. Ruim para a comunidade como um todo. O projeto não foi executado como deveria ser. Na época a FERJEE apoiou a DreamHack mundial e suas empresas, que foram as executoras do projeto e que deixaram algumas pendências com as empresas que trabalharam para a DreamHack. Nenhuma dessas empresas trabalharam para a FERJEE", explicou.
Ribas completou dizendo que a FERJEE realizou um campeonato sul-americano, com recursos próprios, na Arena Carica 1, mas em local diferente do utilizado pela DreamHack: "Então, todas as empresas que trabalharam no projeto DreamHack, apesar da FERJEE ter sido a parceira local das empresas da DreamHack, não foram executoras de nenhum projeto da FERJEE, mas sim da própria DreamHack. E aí houve alguma tentativa de comunicação lá fora. Os donos não são mais os mesmos. ESL, FACEIT e DreamHack pertencem a um outro grupo. Nós estamos acompanhando. Tecnicamente e juridicamente estamos amparados e não tem nada haver com a CBGE. É diretoria FERJEE, que hoje (inaudivel), mas a gente acompanha tecnicamente e juridicamente tranquilos porque, da nossa parte, executamos tudo o que estava previsto. É isso que podemos falar de um passado que está tranquilo".
Neste ano, após o GET Rio, a reportagem voltou a buscar um posicionamento de Ribas, via WhatsApp, sobre os R$ 3 milhões em aberto da DreamHack Rio. O ex-presidente de CBGE e FERJEE foi categórico: "Nunca houve essa dívida de R$ 3 milhões". Ribas, contudo, confirmou que algumas prestadoras de serviço não foram pagas. "Algumas empresas não receberam, enquanto outras receberam pelo o que acompanhamos. Esse valor eu desconheço, mas sei que algumas pequenas empresas ficaram com um saldo com a DreamHack, das empresas donas da DreamHack".
No dia 24 de abril deste ano, novamente via WhatsApp, a reportagem fez outro questionamento a Ribas sobre as dívidas da DreamHack Rio. No mesmo dia o ex-presidente da FERJEE respondeu que tudo quanto ao evento de 2019 foi respondido "inúmeras vezes": "Encon era a dona do evento. Ela quem fez a produção".
A reportagem seguiu questionando Ribas, citando a entrevista dada pelo ex-presidente da CBGE no lançamento do GET Rio. No dia 25 do último mês o mandatário novamente falou que as questões sobre a DreamHack estavam pacificadas e prometeu conceder entrevista ao site, o que ainda não foi feito.