dead em entrevista à Dust2 Brasil

dead explica entrada na 00Nation, nega rixa com Gaules e revela planos de liga

Responsável pela operação da organização no Brasil, veterano falou sobre o time, o cenário de CS:GO e deu detalhes da ideia de permanecer no Brasil por mais tempo

Ricardo "dead" Sinigaglia não costuma aparecer para o público, mas, quando o faz, não poupa ninguém. Não foi diferente na entrevista do diretor de operações da 00Nation ao Dust2 Brasil. Em um papo de mais de uma hora, o multicampeão com a Luminosity e SK explicou o motivo de deixar a GODSENT, explicou os planos na nova casa, falou sobre as polêmicas com Gaules, sua relação com o público brasileiro e mais uma série de assuntos.

Confira a íntegra do papo, realizado ao vivo no Discord da 00Nation:

Quem é você na 00Nation?

Hoje eu comando a operação da 00Nation no Brasil e na América do Norte. Montamos um time de gestão bom no Brasil, temos o Fred Tannure, o Chico (Tattini), o Cleber (Fonseca), o Victor (Freire). Alguns que trabalhavam com nós na GODSENT entraram, outras pessoas entraram. Temos hoje basicamente 25 pessoas nessa operação de Brasil e Américas. Contamos com CS:GO e Rainbow Six, estamos vendo para onde podemos expandir. Chegamos para mais ou menos assentar a casa, tentar dar uma outra cara para a Zero Zero, principalmente uma cara que se conecta mais com o público, com a comunidade. É por isso que estamos tentando fazer algumas ações, inclusive essa que estamos fazendo aqui na Xdome Arena, para se conectar com a galera, para quem queira apreciar, ter mais contato não só com TACO e cold, mas com todo mundo que vai estar aqui, o time por si só, e os executivos também vão estar aqui, provavelmente o CEO norueguês vai estar aqui também, ele chega dia 14, e que a gente consiga colocar um evento bacana para todo mundo, e que principalmente consigamos essa vaga do RMR.

Como vocês fazem para medir as duas ideias, de ser uma organização com raízes fortes no Brasil, mas sem esquecer do público lá de fora?

A operação que a Zero Zero tem na Noruega é uma operação bem sólida. Talvez não tanto na parte de esports, mas em fashion, arte, em gaming. Fazemos crossovers com alguns patrocinadores. Basicamente eu tenho um talento, um patrocinador quer fazer um evento, e a gente faz essa ponte. Tivemos eventos da Xbox com a Ford, com pessoas que trabalham na Zero Zero. Toda sexta-feira no escritório lá de Oslo tem festas para várias coisas também, onde a comunidade se encontra. Vamos tentar fazer isso no Brasil, em 2023 vamos ter o nosso escritório aqui em São Paulo, onde consigamos fazer um encontro da comunidade com influenciadores, produto, onde todo mundo consiga se divertir, unindo o que chamamos de Universo Zero Zero, que tem o gaming como core. Não só jogadores profissionais, mas todas as pessoas que gostam de gaming e consigam ter um nicho dentro de um universo de gaming.

Por que trocar de GODSENT para 00Nation?

A estrutura que tínhamos na GODSENT era muito boa. A GODSENT era uma startup e conseguimos criar junto com eles. Veio a oportunidade e acho que na Zero Zero vamos ter mais estrutura, não só dentro do jogo por assim dizer, mas como empresa. A Zero Zero é uma empresa mais consolidada. Sou totalmente grato a GODSENT, até pelo momento de vida que fui para lá, tudo que a gente aprendeu e viveu lá foi muito legal. Mantemos um relacionamento ótimo com o pessoal de lá. Foi uma oportunidade para eles e para todo mundo.

A Zero Zero hoje é o que a gente espera, que tenhamos uma estrutura e que consigamos fazer coisas que, até em termos financeiros, não conseguíamos na GODSENT. Por exemplo, esses eventos de comunidade, que todo mundo quer fazer, mas não tínhamos meios para isso, éramos uma empresa "limpinha", de passo a passo, e crescemos bastante. A gente saiu da GODSENT e o valor de mercado dela estava seis vezes maior do que a gente encontrou, e isso é uma coisa que eu me orgulho muito. Fizemos isso na LG, na SK, na GODSENT, no MIBR. Quando a gente saiu, já era grande. Entre polêmicas ou não, MIBR ficou grande. É um negócio para se orgulhar, até por todas as pessoas que fizeram parte disso, e pelo business, né. São poucas empresas que conseguem fazer isso, e temos conseguido sempre.

A decisão de juntar os meninos da GODSENT com cold e try foi fácil de tomar?

O processo em si foi tranquilo, mas a possibilidade chegou depois. Começou a rolar um movimento dentro do próprio CS na época, então basicamente teve propostas para todas as pessoas dentro do time. Propostas individuais, para dois, para três. Aí surgiu a proposta da Zero Zero pra GODSENT. Eu tinha propostas para outras organizações norte-americanas também. Decidimos ficar juntos e a gente achou que essa seria a que faria mais sentido, porque o que a gente quer no futuro, que é a mesma base da GODSENT, com três meninos novos, dois caras mais experientes, como tínhamos o felps na GODSENT, que é o que a gente desenha para o futuro. Na nossa linha de planejamento é ter o TACO e o cold mais dois ou três anos, e que consigamos manter o nosso core de hoje. Um tem 17, o outro 18, o outro 19 e já estão tendo experiência internacional, já tem um nível elevado de jogo e sabemos que o teto é ainda mais alto. Parece pouco tempo, mas, no tempo do CS, três anos é um tempo absurdo. Daqui três anos o try vai ter 20, o dumau 21 e o latto 22. (Que eles sigam sendo a base do time) é o que a gente espera.

Foi primeiro a 00Nation querendo os jogadores e depois chamando vocês para ir para a organização?

Primeiro eles falaram comigo para estruturar o projeto, mas eu não iria sem eles. Eles tinham interesse nos jogadores, estavam tentando buscar jogador no mercado, que estava muito difícil, e com multas absurdas. Acho que dificilmente eles conseguiriam. Essa oportunidade surgiu e conseguiu unir os dois mundos. A galera da GODSENT que acreditava em quem ficou na Zero Zero, e a galera da Zero Zero que acreditava nos meninos da GODSENT para formarmos um time só. Hoje é o que temos. Por mais que seja um core de um time e um do outro, porque teoricamente temos latto, dumau, TACO, cky e adrrr, que vieram da GODSENT, com Américo, cold e try, que ficaram na Zero Zero. Clicou instantâneo, foi bem legal. Tinha os bônus de vir, que possibilitou um final de temporada bom, por todo trabalho que foi feito na GODSENT. Agradeço principalmente ao b4rtin e o HEN1, que através do esforço conjunto de todos, conseguimos a vaga na (IEM) Cologne e na DreamHack Valencia.

Como foi a negociação e a escolha para deixar o b4rtin e o HEN1 de fora?

Se continuássemos na GODSENT, nossa intenção no final de temporada era trazer o felps de volta (no lugar do HEN1). O try inicialmente não gostaria de vir, a gente entendeu numa boa. Viríamos com o b4rtin mesmo. Cheguei a sondar o Gafolo no mercado, mas aí o try acreditou no projeto, nos ligou e falou que gostaria de estar. E para nós foi ótimo, porque gostaríamos de contar com ele. Faríamos uma pequena movimentação de mercado e não precisamos, aí contamos com a pessoa que de fato gostaríamos de contar.

dead, nos tempos de MIBR, durante a IEM Chicago em 2019

Você vê uma diferença entre os jogadores mais velhos do MIBR com o meyern e entre os jogadores mais jovens da 00Nation com o try?

A receptividade é a mesma. A maior diferença é que, por ele ter uma idade nova, 17 anos, é mais fácil do que foi para o meyern, porque ele consegue olhar para o lado... ele e o dumau são muito próximos hoje, até pelo fator da idade. É difícil que eu conecte ele com cold, TACO, pois são quase 10 anos de diferença entre um e outro, mas ele se conecta muito fácil com dumau e com o latto, porque eles vivem a mesma realidade, estão na mesma faixa etária, e isso possibilita ele a se soltarem mais, porque ele era mais introvertido e hoje já não é mais. A maior diferença, que tem sido boa para o try e não foi tão boa para o meyern lá atrás, é a idade, que ajuda a pessoa a estar em um ambiente mais dela.

Qual a avaliação da ESL Challenger Valencia e da IEM Cologne?

De esperança. Todos são jogadores são bons, mas nem sempre eles vão conseguir se conectar e ter algum tipo de assertividade dentro do servidor. Foi bom porque vimos que há esperança. Valência, (foi) ok, porque foi muito corrido. Cologne nos deu bastante esperança não só por termos conseguido passar do play-in, mas por ter feito um primeiro mapa muito competitivo contra a FaZe, que hoje é o melhor time do mundo. Perdemos um jogo na mão, num eco para a Spirit. E perdemos outro jogo na mão para a Liquid, que seria um 2 a 0. Se ganhássemos contra a Liquid, iríamos mais longe, como a Liquid foi. Não lembro para quem eles perderam, mas chegaram bem, ficaram top 6. Aquele jogo sabíamos que, se ganhássemos, iríamos longe. A Astralis, que ganhamos no primeiro jogo, foi longe. Foi tudo muito melhor do que esperávamos.

Aquele negócio de você chegar e dizer que o que acontecer, aconteceu, mas ficar querendo mais. Terminamos a temporada num saldo super positivo, o que foi bom para o time, porque basicamente encheu todo mundo de esperança. (No players break) a galera descansou, mas não deu um break. cold jogando todo dia, TACO, dumau, latto, try, elesnão pararam quase, e isso é bom porque se reflete agora no começo, porque achávamos que o RMR seria lá para setembro, e agora saiu para o dia 15 (de agosto). Isso é uma vantagem para a gente, porque mudamos lá atrás enquanto vários times aqui do Brasil estão mudando agora.

Por que jogar o RMR aqui na América do Sul?

A vaga aqui tende a ser um pouco mais difícil do que lá, e teríamos que ter condições também. Optamos por jogar aqui porque em 2023 vamos fazer uma mudança e ficar no Brasil durante o tempo que passaríamos no México, dois ou três meses, jogando qualificatórios da ESL pelo Brasil e não mais pela América do Norte, então achamos que esse seria o momento de começarmos a tentar nos estabelecermos no Brasil e tentar criar uma conexão com o próprio público local. Temos duas bases na Europa, Noruega e Portugal, onde vamos nos concentrar mais. A Zero Zero, como time de CS, tende a ficar no Brasil num período intermitente, basicamente o período que ficávamos na América do Norte. Até como business isso ajuda, porque conseguimos ter ativações de patrocinadores, contato mais próximo do público, que sinto que a gente perdeu. Não porque a gente queria, mas porque era de fato o que tinha de acontecer.

Agora não precisamos ficar mais lá na América do Norte. O nível de lá deteriorou um pouco, principalmente por causa dos acordos, como o Louvre (Agreement) da ESL. A galera fica muito na Europa e, quando volta pra América do Norte, é a folga deles. Por contrato eles tem que ficar lá. Aí a EG foi e pegou três times, o que embaralha um pouco as coisas. Com os times brasileiros saindo da América do Norte, é uma boa chance para eles se reerguerem. A Party Astronauts conseguiu a vaga para a (ESL Challenger) Melbourne. A realidade é que, se tivesse brasileiro lá, nós e a paiN, que ficávamos mais tempo, pegaríamos a vaga, o que mata o cenário. Quem está embaixo, que nem salário tem, não recebe oportunidade porque a chance de você expor uma marca, o seu time, é zero.

Agora, se os times voltarem de fato para o Brasil em 2023, eles vão ter esse palco para que alguém consiga investir, porque a grande maioria dos times lá não tem salário, essa é a realidade. Tiveram outros fatores, como o Valorant, que atrapalhou eles. A galera deve dar uma migrada de volta, porque alguns que não pegaram a franquia devem retornar para o jogo. É isso que enxergamos, tentar criar uma conexão melhor e achamos que o momento pode ser agora, por isso viemos. Temos a base no México, vamos jogar algumas coisas lá, como os qualificatórios da BLAST, por exemplo, mas em 2023 mudamos para Brasil, Portugal e Oslo.

Qual o tamanho da classificação para o Major no Rio para o planejamento da 00Nation?

É vital para nós estarmos lá. Primeiro, como business, é ter o lucro dos stickers. E, para os jogadores, é o Major do Brasil. A realidade é que não sabemos se vai ter outro, então essa é a melhor oportunidade para que a galera consiga chegar e ir passo a passo. Vamos lutar para estar no RMR e depois conseguir jogar na arena, que é o objetivo de todo jogador brasileiro, tentar entrar naquela arena lotada, nem que seja por uma partida.

Qual sua opinião e a sua postura como negociador em relação às multas rescisórias milionárias?

Nenhuma parte de fato está errada, porque se o cara vendeu, alguém comprou, é o melhor dos dois mundos para as duas organizações. Os valores praticados, essa multa do Lucaozy é bizarra. Mas eles estão no direito deles, acho que tem que vir do jogador para fazer um contrato melhor. Não é segredo para ninguém que se você entrar na Sharks você vai ficar lá até que alguém pague a multa. Vai do próximo jogador que entrar lá saber disso. Eles devem continuar fazendo isso para todas as pessoas. Dando essa mudança para o Brasil (em 2023), isso tende a dar uma (mudada) nessas organizações que colocam multas absurdas, porque elas devem ter uma dificuldade maior para assinar jogadores agora, porque os times e as vagas vão estar aqui.

Antigamente esses times eram bem sucedidos porque era legal virar para você e falar "mas você vai fazer bootcamp na Europa". Hoje em dia, a tendência é que toda organização consiga proporcionar um bootcamp ou ficar na Europa. A Case, a Sharks... o jogador tem que pensar se é realmente atrativo ficar jogando Snow Sweet Snow por seis meses, sem ninguém ver, sem ninguém fazer nada, sendo que está tendo campeonato aqui no Brasil. No final das contas vai do jogador. Posso falar pelas minhas coisas. Eles colocam o preço que eles quiserem, mas desbalanceiam o mercado. Eu vendi o felps por 80.

80 mil dólares?

Isso. O felps não pode ser 1/4 do Lucaozy, em nenhum mundo isso acontece e pode acontecer. Mas, como te falei, tem quem pague, então vai. Aí é um problema para quem está comprando. Se não foi um problema para eles, ótimo. O maior medo é desregular o mercado, eu passei por isso lá atrás, quando tentamos comprar, deu aquela bafafá, do yuurih do kscerato. Falaram para eu pagar os US$ 200 mil. Hoje posso abrir, depois de quatro ou cinco anos, paguei US$ 140 mil no tarik, campeão de major. Não tem como eu pagar na época os 200 mil. Não faz sentido para quem está assinando o cheque. Queria que quisesse, queríamos bastante, mas no final das contas não é a gente que assina.

É legal que tenham organizações... estão vinculando que eles vão para o Fluxo, que estão acreditando no projeto. Eu espero que dê certo, e o meu maior medo é desregular o mercado e que tenhamos outro crash, que vivemos até hoje. Eu não vejo os cinco melhores brasileiros se juntando e conseguindo um time top 5 do mundo, muito por conta dessas cláusulas, multas, que foram aplicadas lá atrás, e eu me incluo como parte do problema e espero ter aprendido com isso também, mas espero que consigamos fazer um negócio mais saudável, para que a organização se proteja, e consiga achar outros talentos. A realidade é que, quando você solta o furo que você deu no mercado, que o Lucaozy vale € 325 mil, o chelo vai subir, não tem jeito. Dependendo de quem o MIBR fosse pegar, se for uma pessoa que não estivesse livre no mercado, eles teriam que gastar literalmente os US$ 200 mil para trazer um jogador que talvez fosse pior que o chelo.

É um efeito cascata que vai explodir alguém, e geralmente explode em organizações que estão fazendo um trabalho sério, tipo a ODDIK, que está fazendo um trabalho sério, mas que com certeza vão ter que aumentar preço e muitas coisas que quebram a cadeia lá embaixo. A cadeia não vai quebrar para mim agora, mas se eu precisar, como depois precisei, de jogadores mais novos, eu não quero passar de novo a situação para conseguir achar esses jogadores bons depois de dois anos, sendo que temos tantos aqui, só que não conseguimos dar oportunidade.

Isso é temerário para o mercado, porque quem está pagando vai receber isso de volta um dia ou outro. Se ele pagou, a imagem do mercado é que ele (sempre) vai pagar. Eu era isso no MIBR. Eu paguei jogadores acima do que valiam porque eu precisava, e porque naquela época eu tinha o poderio financeiro, e hoje eu não tenho. A partir do momento que eu passo essa imagem para o mercado, na hora que o Fluxo for fazer outra compra, se o Lucaozy foi € 325 mil, o dumau é € 1 milhão. Eu vou cobrar (isso) deles. Se eles pagaram para um, pagam para outro. Tem outros jogadores que são bons o suficiente, e parece que o Fluxo vai ter uma baita de uma estrutura, mas numa eventual mudança esses 325 mil vão assombrar eles por um bom tempo.

dead com o MIBR na ELEAGUE em 2018

Existe uma maneira dessas multas serem reguladas?

Acho bem utópico isso. Va verdade, quem tem que corrigir essa cadeia, se um dia for corrigida, é o jogador mesmo, pelo contrato. A organização nunca vai querer corrigir isso, e falo como organização, porque, na realidade, talvez não seja tão bom, é melhor eu deixar um valor alto e se acontecer (de vender), tudo bem. A única coisa que a galera, citando a Sharks como exemplo, e isso passa um pouco despercebido, tanto faz se é 350 (mil) ou 1 milhão, o que a galera mais por dentro discute do que a Sharks faz é que eles não negociam. Ou você vai pagar a multa ou ele não sai. E, para isso (mudar), vai ter que partir dos jogadores para que eles consigam entrar numa organização com uma multa pré determinada. Eu tenho certeza que os próximos jogadores da Sharks vão exigir que o contrato dele tenha uma multa rescisória (mais baixa). Não tem o que possamos fazer de fora.

O que você aconselha para um jogador jovem que está fechando um contrato?

Depende muito de onde ele se vê daqui dois ou três anos, se ele se vê em alto nível, se ele acha que essa oportunidade nunca mais vai chegar. Você pega jogadores que são bons o suficiente e sabem que vão ter a oportunidade. Cito o dumau como exemplo. Ele sabe que é bom o suficiente e (decidiu) que não era a hora de ir para Liquid agora, que queria fazer a história aqui e quem sabe lá na frente (ele vá). Todo mundo ficou meio assim, porque era uma baita de uma proposta para ele, mas ele não (quis ir), porque acreditava aqui primeiro e acha que lá na frente, se ele quiser ir, terá outra oportunidade. Ele confia nele.

O jogador tem que saber onde ele se encaixa. Tem jogadores que, dependendo da idade, tem que ir mesmo. Um de 25 anos, por exemplo. A média de idade está achatando para baixo, um cara de 25 anos é difícil (que renda). Se ele não despontou, a competição está tão grande entre os de 16 e 18, que é provável que ele tenha que pegar a oportunidade de onde quiser que ela venha, com um buyout que nunca ninguém vai pagar, para ele conseguir ter oportunidade. Acho que o jogador tem de fazer uma análise de onde ele quer chegar. Protegendo a Sharks agora, tudo bem eles serem criticados, mas a maior culpa é de quem assinou o contrato, do próprio Lucaozy. Se ele não fizesse esse contrato (nada disso teria acontecido). Eu acho que ele teria habilidade suficiente para aparecer em outra situação. Você tem de fazer uma autoanálise e pegar um advogado para cuidar do seu contrato. Hoje isso é mais corriqueiro, lá atrás não era. Hoje tem toda uma assessoria que te aconselha o que pode acontecer.

Ter um time de CS dá dinheiro?

Hoje, de todos os esportes eletrônicos, o CS é o único que te dá chance de conseguir dinheiro de fato, retorno. Porque eu falo isso? Principalmente por causa de betting (apostas). Obrigado, Rivalry, nosso patrocinador. O CS é o único esports que eu acho que o betting é aberto. Você consegue uma fonte de renda disso. Você tem os majors, que subiu demais o lucro. No MIBR, éramos o time que mais vendia sticker, o que US$ 320 mil por major. Hoje em dia falamos em US$ 750 mil a US$ 1,2 milhão.

Os stickers para cada organização ou já com a parcela do jogador?

Total, o que cada empresa faz, não sei. Pode ser 50/50, tem organização que nem sticker dá, já vai lá e tira do jogador. Posso falar só pelo que a gente faz. Eu consigo prever isso no futuro, no meu orçamento, como uma entrada potencial, se eu participar dos dois majors, US$ 800 mil para a organização e US$ 800 mil para os jogadores dividirem entre eles. Eu consigo colocar isso. A provisão que o dinheiro de betting e de sticker, te dão a chance de montar uma operação boa.

É diferente de um League of Legends, porque tem os salários, não tem patrocínios tão diretos, você trabalha só com marca do Brasil, então é em real, e os salários às vezes não condizem tanto. O CS, se você fizer certinho, é o mais próximo que você tem de tirar um lucro. Isso é basicamente o que as organizações de Free Fire começaram a entender agora, e por isso elas vieram, porque você tem a elite dos esports dentro da sua casa e com uma chance que às vezes você não precisa gastar.

As organizações de Free Fire são gigantescas, conseguem capitalizar um dinheiro de betting bom, e com esse dinheiro fazem o time. Fica igual e eles ainda têm a chance de ter, dentro do catálogo deles, o top do top dos esports, que é o CS, Dota, LoL, e algumas tem até dois desses. Claro que competitivamente você precisa chegar até lá, mas você tem uma possibilidade muito maior de ter uma receita de volta e equilibrar a operação. Você não sangra tanto e ainda tem a possibilidade de abrir outros patrocinadores, como a gente. Obrigado, Redragon. Conseguimos fazer tudo num bolo e equilibrar a operação.

Acha que a Valve vai fechar as portas para esses patrocínios de apostas?

Eu não sei se o que eu vou falar é bom ou ruim, mas acho que não vai acontecer porque eles... hoje, isso é o que monta o ecossistema. Eu acho que, se você olhar para dentro de um campeonato brasileiro de futebol, você consegue entender que é basicamente isso que está montando um sistema dentro do futebol também. Você vai ver o jogo e é basicamente 25 placas de betting. É um negócio que chegou no Brasil. Você pega empresas de betting com times de futebol por aí. Eu ainda não vi isso acontecer no CS, mas eu não descarto. Acho que tem alguns estigmas para cair primeiro. Se você colocar um time de futebol e um time de CS que uma empresa de betting é dona, a realidade é que a galera pensa que o de futebol ninguém vai entregar, mas o de CS pode. Temos que desmistificar isso para que, quem sabe, eles entrem.

Quanto mais gente entrar e fazer a roda girar, todo mundo ganha. O público ganha, os jogadores ganham, a produção ganha, o profissionalismo ganha, porque, com mais dinheiro, um monte de amador tem que sair do mercado. É uma constante evolução. Não sei se a Valve vai fazer alguma coisa, creio que não, até porque se fizer é um hit grande no ecossistema, e eu não sei onde chegaria. Não tem como chegar para os grandes jogadores do mundo e falar que a Valve está, basicamente, cortando 50% do seu salário, porque o salário dele corresponde ao que ele dá para qualquer patrocinador, em qualquer negócio do mundo é isso. Mas é a Valve, não sabemos o que eles querem nem para o jogo, quanto mais para o ecossistema.

Uma de suas pautas é que os times tenham parte do lucro obtido em transmissões, como acontece no futebol. Muita gente acha que isso é uma crítica ao Gaules...

Não é por isso. A galera nunca conseguiu entender, leva para um lado que eu odeio o Gaules. Não é, eu não tenho nada contra ele. Eu acho ele um puta de um empreendedor. Ele entrou num nicho, que tentei entrar com o MIBR TV. Eu faria diferente. Nossa intenção era fazer diferente, era dar workshop para casters, tínhamos a EPL, com um monte de jogos que dávamos chances (para casters). Babi, ash, Cobaia, saíram de lá. Começamos a peneirar e dar oportunidade para a galera, usar isso para expandir. Eu acho que poderia ser melhor, acho que não dá mais para fazer, eu basicamente cansei de tentar brigar por isso sozinho, sendo muito real.

O kassad postou isso uns dias atrás. Você cria um certo tipo de modelo que você não tem para onde correr, onde o público acha normal. Isso acontece muito porque nos esports não tem pay-per-view. Se eu tivesse, não importa o modelo que estamos fazendo, eu faria o meu produto e alguém pagaria para julgar se isso é bom ou ruim. Se ele pagar de novo, é porque ele gostou, se ele não pagar, é porque não gostou. Acho que falta isso, estamos tendo uma conversa para daqui 6 ou 7 anos.

O que tentaremos fazer para 2023 é uma liga dos maiores times brasileiros, dando oportunidade para que todo mundo... isso está no papel, já que os times estão vindo para o Brasil, que consigamos fazer uma Copa Libertadores, um evento com times brasileiros, com argentinos, como 9z, Isurus, e que os times tenham controle de receita. A realidade é que, em todos campeonatos que jogamos, ninguém ganha 1 dólar com ele. Se cada time ganhar 1 dólar, já estamos 100% no lucro. Por esse parâmetro, tentaremos fazer alguma coisa, tem umas conversas, e não é excluindo o Gaules de jeito nenhum. Mas, se ele quiser, vamos ser uma liga como a da ESL, você paga pelos direitos e transmite. Vamos abrir para o mercado todo. A nossa intenção é que os times tenham cada um um representante, que a liga tenha um CEO para que não haja conflito, e esse cara tome decisões para a gente. E ele vai abrir para o mercado e falar pela liga, não pelos times.

O que vocês têm conversado? É trazer os times brasileiros de volta para cá?

Eu não sei se eles vão passar a mesma quantidade de tempo aqui, eles tem a gestão deles. A intenção, temos algumas conversas, é que o último campeonato de cada temporada (tenha os times jogando aqui). Até lá, é lógico, teremos chances para todos classificarem, e que a gente consiga, vamos ver como as coisas vão, é fazer um campeonato grande no Brasil. Vamos tentar fazer alguma coisa onde os times consigam tirar algo, nossa lógica é meio utópica agora mas estamos conversando isso.

Tem um pote de premiação, o jogador recebe uma receita lá. Isso que eu não entendo do jeito que o modelo é hoje. Se você está ganhando para estar no meu campeonato, você vai fazer as coisas para mim, conteúdo exclusivo para o fã. Porque, no final das contas, se você não está pagando para a organização, o máximo que você vai fazer é colocar o microfone e falar. Porque a gente não faz como a BLAST? Toda uma produção, talk show. Imagina fazer uma liga, sorteamos para que algumas pessoas se encontrem com FalleN, TACO, e perguntem o que quiserem. Tem milhões de coisas que podemos fazer, e hoje, como falei, o recorde não está difícil de ser quebrado. Hoje todo mundo ganha zero, se ganharmos um, já é alguma coisa.

Vamos ver se conseguimos fomentar. Nossa intenção é dar parte disso para os jogadores, para a organização, separar um fundo para ajudar organizações que têm academy. Na GODSENT, a gente levou os caras para fazerem bootcamp, isso tem um custo, e sabemos que nenhuma organização vai conseguir fazer isso. Se ele tiver ajuda e conseguir melhorar o salário e dar um bootcamp, aí voltamos no ecossistema. Se ele tiver todas as condições para jogar as vagas daqui, será que ele precisa se esconder na Europa por conta de um contrato? Aqui, o ecossistema vai ser melhor. É o que tentaremos fazer. Temos algumas conversas, estamos longe ainda de um escopo, mas é isso que queremos fazer.

Seriam campeonatos em junho e novembro?

É, quando a grande maioria estiver vindo para o Brasil, jogue esse último campeonato. É uma coisa que sentimos falta. Quem está lá fora não consegue conectar. Não conseguimos conectar marca com os fãs, não conseguimos conectar personalidades com os fãs, porque é tudo muito distante. Vamos ter o nosso escritório, e eu queria fazer dentro do nosso escritório um palco. Isso que estamos fazendo aqui é um embrião do que queremos fazer. Vamos jogar uma vaga da ESL... uma organização que faz isso no mundo e é um negócio absurdo é a Karmine Corp. São 12 mil pessoas no estádio todo sábado. O cara consegue trazer os influenciadores, o rapper favorito, porque está girando. Eu não tenho presunção e nem almejo isso, seria ótimo, mas eu queria.

Vamos jogar a final da ESL? Vamos jogar isso para 50 pessoas. Vamos jogar o campeonato que estamos nos playoffs, da Champion of Champions, se conseguirmos nos classificar para o major e não precisar isso ir para o último (qualificatório) do RMR, a nossa intenção é jogar daqui, entre os dias 25 e 28, com 50 reais e mais um quilo de alimento para entrar, e aqui cabem 300 pessoas. Vem e você vai ver a gente jogando num palco, de frente. Devem existir pessoas que gostariam de ter essa interação, porque você está vendo seu ídolo ali, ou a pessoa que você gosta, e é lógico, sempre vai ter um cara que vai trocar uma ideia com você. Nosso intuito como organização hoje é essa conexão com o público que nunca fomos capazes de termos, pois estávamos muito distantes. Vamos tentar essa mudança. Não sei se vai dar certo ou se será possível, mas estamos dispostos a tentar.

O que as organizadoras de torneios falam sobre essa liga?

A gente fez um estudo e, por incrível que pareça, todas as vagas disponíveis na América do Norte estavam disponíveis na América do Sul. A quantidade pode não ser a mesma, só que a única coisa que divergia... é lógico, teve campeonato em Dallas, eles vão dar mais vagas, o custo é voar o cara para lá. A IEM, que classificamos vencendo da FURIA, teve vaga para o Brasil. O time do SHOOWTIME cansou de jogar campeonatos (lá fora). Está tendo vaga... poderia ser melhor, mas não é mais o cenário apocalíptico que todo mundo pinta perto do que a gente jogava quando os meninos eram da KaBuM. Aquela fase já passou, o que vamos tentar fazer é consolidar. Tem umas diferenças, porque vamos tentar conversa com a ESL, porque os EPT Points acabaram e vamos tentar ver uma reclassificação, como conseguiremos classificar, mas isso é uma coisa que, quando chegar a hora, esperamos que a ESL abra as portas para que conseguirmos falar francamente com eles o que poderíamos fazer.

A queda de qualidade nos treinos enquanto estão no Brasil é uma preocupação de vocês?

Esse é o cuidado. Não vamos ficar no Brasil. Vamos ficar muito mais na Europa do que no Brasil, e, quando viermos, vamos ter a oportunidade de treinar com a galera que está aqui. E se o ecossistema está rodando perfeitinho, porque não o cara da ODDIK, que está numa liga, com receita, tem dinheiro para investir, manda os caras para fazer bootcamp na Europa e depois volta para o Brasil? Com o tempo, o cenário vai ficar melhor. Eu acho que, se as coisas acontecerem de uma maneira que todo mundo fique bem, o cenário brasileiro em três anos volta a ser tão forte quanto tínhamos SK no top 1 e Immortals no top 4 do mundo. Não aconteceu, está ali (do nada), os dois times estavam entre os quatro melhores do mundo. Conseguimos fazer isso em três ou quatro anos.

dead, com a SK, na ESL One Belo Horizonte em 2018

Você é a favor da panela, com os melhores jogadores brasileiros formando o melhor time do mundo, ou mais times num nível sólido?

Eu prefiro ter o melhor time do mundo. Quanto mais você tentar subir e solidificar, você traz (os outros times). Do mesmo jeito que trouxemos o top 1 e o top 4. A proximidade faz subir. Essa panela é um pouco difícil, porque naquela época a gente tinha um senso de que o melhor time brasileiro era a SK, subir para a SK era um pulo. Hoje não temos nenhum time brasileiro assim, porque todo mundo acha que dá. Naquela época não, todo mundo achava, mas éramos os melhores do mundo, então se tivesse proposta, eles iam. Hoje em dia todo time acha que dá. Se você perguntar pra Imperial, eles falam que dá pra ganhar da Zero Zero, da FURIA, eles falam que da, o consenso geral é esse.

É difícil formar a panela, uma por preço, e outra porque nem o jogador brasileiro quer. Ele acredita no time dele. Antigamente, o cara poderia ser o melhor dos seus amigos, mas era a SK chamando. O teu amigo virava e falava para você ir. E todos que foram deram certo. boltz, felps, Stewie, que entrou e teve resultados até que bons. A mística do SK não era só no Brasil, era fora também, assim como tem a NAVI e a FaZe hoje. A FaZe não dá muito para comparar porque já é um time internacional, mas o NAVI é como se fosse a gente.

Em relação às panelas, eu não sei se hoje temos cinco jogadores prontos para fazer a panela e dominar o mundo. Está mais difícil. Não temos hoje o FalleN top 3 do mundo, o cold top 1, o fer top 1, o TACO sempre ali, o boltz, o felps. Não temos cinco jogadores no top do mundo para falar que vamos fazer a panela e ganhar tudo. Você tem hoje o yuurih, que para mim é o melhor jogador brasileiro, e o resto bem parelho. Não tem esses caras que você vai juntar e você sabe que vai vencer. Hoje é parte de um processo, se juntar e se conhecer como time. É basicamente o que a FURIA fez. Se juntaram, cresceram como um time, e colheram os louros dois ou três anos depois.

Quando vamos ter mais notícias da liga?

Não posso falar por todo mundo, só pela Zero Zero. Vamos voltar em janeiro. As organizações que estavam na América do Norte tendem a voltar. Mais uma vez, quando falo voltar não é ficar 100% no Brasil, mas jogar os qualificatórios aqui e tudo. Acho que paiN, MIBR. Sei que a paiN gostaria de fazer isso, porque eles têm uma estrutura muito boa no Brasil. MIBR eu não sei. A Team One também. Os times que ficam mais focados na América do Norte, tendem a voltar pro Brasil, essa é a conversa que tivemos lá atrás. Os negócios estão bem parados, mas é um desejo desses times. Da Imperial também.

A liga pretende definir piso e teto salarial, limite para multas rescisórias e esse tipo de regulação?

É muito distante, porque você está entrando no corpo de governança de cada empresa. Eu não consigo imaginar um cenário que isso aconteça. Você citou a NBA, mas é uma liga meio que mundial. Não tem como eu fazer isso dentro do Brasil, sendo que uma organização americana quer comprar meu jogador, uma organização espanhola quer comprar meu jogador.

O que você acabou de falar agora é novidade também, hein? Imagino qual seja. O substituto do SunPayus?

Já pegaram, né?

Já. Mas tentaram algum outro awper que fala espanhol?

Tem vários pelo mundo que falam. Mas é isso. Não tem como eu fazer algo só para cá se estou suscetível ao mercado mundial. E o mercado da América do Norte vai passar o limbo que passamos, não tem reposição e eles vão ter que buscar, e já estão indo buscar pelo mundo. Falar inglês hoje é mais importante do que nunca para as melhores condições de trabalho, porque as organizações americanas são absurdamente boas.

Você foi de herói a vilão no cenário nacional. Como você vive com essa dualidade?

Na real, eu estou cagando e andando. As pessoas que eu quero que se importem são as pessoas que, quando aconteceu o bug, eu sentei e pedi desculpas para eles. O que aconteceu nesse episódio foi que éramos o time mais popular do mundo e os caras pegaram e explodiram, aí todo mundo bateu. Só que esqueceram dos outros 47. Se eu falar sobre isso (bug do coach), dentro do Brasil vão lembrar de mim, mas eu fui o que menos pegou (tempo de suspensão). Já passaram quase 50 ou 60 jogadores comigo, e se você perguntar para eles, tenho certeza que ninguém vai me estourar. São as opiniões deles que eu mais me importo. Todo mundo pode falar o que quiser. A internet dá voz para idiotas.

Estou lá no Twitter falando do São Paulo, sempre, e quem quiser me xingar... eu acho que sou um dos poucos caras que nunca bloqueou uma pessoa. Se você quiser me xingar, você pode ir lá. Não que eu veja, mas você pode xingar, e às vezes eu dou risada. Tinha um cara, que eu chamava de Senninha. Era Vitor alguma coisa, que tinha um capacete do Senna. Não importava o resultado, eu ia ver o comentário dele porque era sempre me xingando, a gente rachava o bico, então, se hoje ele ver isso, eu sinto falta dele me xingar, ele era muito engraçado e tinha criatividade. A internet é difícil, tem vários exemplos que você olha. Eu não sei o que está acontecendo, mas estou vendo os caras pedirem desculpa para o Nicolino. O cara perdeu o trabalho, e agora? Você pede desculpas e a vida do cara, como fica? Eu não estou aqui para julgar, não sei o que está acontecendo, mas se alguém que criticou posta que não aconteceu nada, que só falou por falar... como fica a vida do cara?

Aconteceu um pouco comigo quando saiu o bug do coach, acho que o Gaules falou alguma coisa. Eu não uso Instagram. Está lá e eu vejo de vez em quando. Teve um dia que eu fui ver e minha foto tinha 7 mil comentários de pessoas me xingando. E eu vou fazer o que? Todo mundo vai falar o que quiser. Eu falo isso pros jogadores, que são muito suscetíveis a isso. Tem que filtrar. É mais fácil hoje xingar alguém, então desapegue disso. De valor para as pessoas que de fato você se importa.

E também não fui isso, o cara que, meu Deus do céu...

O que você foi, então?

Eu fui um cara que ajudou, que gostava de CS, que tinha alguma experiência de vida e consegui passar um pouco para eles. Mas quem fez as coisas foram eles, não eu. E todo mundo tem sua parcela ali. Não tem mais nem menos, em algum momento todo mundo foi importante. Eu me sinto abençoado de pelo menos ter conseguido estar na hora certa, no lugar certo, e acreditar num negócio que ninguém acreditava. E eu também não acreditava no começo. Na hora que a gente viu, estávamos levantando o major. Eu lembro que estava eu, o zews, e falamos "caralho, ganhamos um major, que bizarro". Eu me sinto, sei lá, um cara de sorte por isso. Mas não sou um cara que salvou alguma coisa, e muito menos o cara que acabou com alguma coisa. Tô aí, até hoje, tentando sempre recomeçar alguma coisa.

Você se sente injustiçado pela comunidade em alguns momentos por conta do bug do coach?

Os caras (da ESIC) me condenaram, aí depois chegaram falando "você tem prova aí?". Disseram que se eu fizesse um pronunciamento público (diminuiria minha pena) e eu falei que não, que não ia admitir nada porque não fiz nada. Lembro que fiz um pronunciamento pedindo desculpa para os meus parceiros, e até para a organização, se porventura prejudiquei. Éramos da Flashpoint na época, os caras falaram que soltaram tudo porque iria ter Pro League no outro dia. E eu não jogo a Pro League.

Acredita que algumas decisões são tomadas para prejudicar somente os brasileiros?

Não. Não é questão de ser brasileiro. Vou te dar um exemplo, você tem a Dust2 norte-americana no seu guarda-chuva, e vocês espancam eles em número de acessos, certo? Tem que ter notícia. Vale a pena, e eu entendo. Tiveram vários jornalistas que me arrebentaram, e depois viraram para mim: "mal aí, sei que você não é desse jeito, mas é notícia". Eu virei e falei: "Você está fazendo o seu trabalho, eu não tenho nada contra". A culpa não é do cara, é minha. A realidade é que, se eu desse quit, nada disso teria acontecido. Quem tem que se desculpar sou eu, sou homem o suficiente para assumir isso. Mas a desproporcionalidade causada... Eu vi a notícia que agora a ESIC te dá um ban, agora vira para a Valve e fala que errou e pede para aliviar. Imagina a Valve virando para eles e dizendo que foram eles quem pediram para banir. Não estou falando do meu caso, mas do resto. Pessoas como o Apoka. O cara não pode fazer uma transmissão, e você vê que ele não fez nada. Olha o RobbaN, o cara vai roubar para tomar 16-1?

A, mas não tinha tempo para ver as coisas... então não solta. Tem agora um negócio australiano, faz um ano e não solta. Por que você soltou (o do bug do coach sem concluir as investigações)?. Eu fiquei sabendo pelo social media (do MIBR). Estávamos na Sérvia, soltaram picado, e lembro que fui falar com a ESL que a informação foi toda cruzada. E na época eu fui burro demais. Eu não sou um cara de tecnologia, lembro que fiz um vídeo no Twitter, mas fui burro o suficiente para não fazer assim (arrastar até o fim), e só apertei o botão. O vídeo ficou muito ruim e depois lembro que falei, já foi. Vou fazer o que. É seguir em frente, como segui.

O que me ajudou muito nisso foram as pessoas de dentro, que eram managers de vários times do mundo, jogadores, que sabiam que eu não era assim. Isso me confortou mais do que todo mundo, porque pelo menos os meus pares sabem que eu jamais faria isso, e isso se refletiu porque eu estava no mercado e as organizações começaram a vir falar comigo quando eu fui mandado embora. Eu falei "pô, tão me pintando de um negócio aqui", mas quem faz o negócio rodar e paga o salário está querendo que eu vá para lá.

dead atuando pela SK na StarSeries iLeague em 2018

Esse é o resumo da sua história? Quem está dentro te vê de uma forma, e quem está fora vê de outra?

Bastante. Eu sou um cara que estou falando com você, e desligou a câmera eu vou falar do mesmo jeito. Sei que isso é duro às vezes, o jeito que você se expressa pode soar bem errado, e eu sou passivo a erro, como qualquer ser humano. Talvez, na minha posição, o erro seja um pouco mais amplificado, porque na internet qualquer coisa que você fala tem que ter direção, prejudicar alguém, e às vezes não é isso. Falo no meu caso, a maioria das vezes não é para prejudicar alguém. Mas, quem está dentro mesmo sabe que o que eu puder fazer para ajudar alguém, eu vou fazer. E não é só do meu time. Tem milhões de coisas que acontecem e eu não tenho o porque que vire público e eu não quero que vire público. Várias coisas. E talvez seja por isso que eu tenho respeito das pessoas que estão dentro dos esports. Talvez não do total. Claro que xingar o Gaules não ajuda também, e eu entendo isso. Mas as pessoas são passíveis a isso. Eu, quando erro, sou claro. O cara que me conhece, tem opinião sobre mim, está certo, porque eu sou essa pessoa. O que eu sou fora das câmeras, eu sou na frente delas também, isso quando eu estou na frente, porque não apareço. E isso não faz mal de jeito algum, no meu cotidiano acho que isso faz muito bem. Pode falar que sou alguma coisa, mas não sou hipócrita.

É o respeito das pessoas que você foi próximo que ainda te faz seguir no CS?

Sim, com certeza. Na hora que você está triste ou não, é com essas pessoas que você fala, são seus amigos. Você está falando de pessoas como o TACO, que passei os últimos 8 ou 9 anos de 230 dias por ano juntos. Mesmo ele indo para a Liquid ainda estava perto, foi o único de todos que continuou essa caminho inteiro. Mas tenho muito contato com FalleN, fer, cold, zews, fnx, felps. A lista é grande. Tem o tatazin, lando, zakk, peace, muita gente que passou. Hoje talvez não estejamos ali (juntos), mas sempre vamos tomar uma cerveja e dar risada das coisas lá atrás. HEN1, LUCAS1, não tem cara mais engraçado que esses pra uma resenha. É isso que fica. Às vezes tem tanta negatividade, e esses caras são tão positivos, e no final das contas eles vivem o que eu vivi numa escala muito pior. Eles têm minha solidariedade. Eles entendem que tem o ônus e bônus, assim como eu entendo. Se um dia eu cansar do ônus ou do bônus, eu paro.

Acho que eu não preciso ser um cara que tem que ficar provando o meu valor. A história fala por si só. Onde eu vou, há algum tipo relativo de sucesso. E não estou falando de ganhar tudo, mas as empresas crescem, que é a parte que eu gosto de fazer. Eu não quero ser paizão de jogador, nós temos uma relação. E eu sou totalmente contra. A gente nunca foi isso, por mais que as pessoas falassem que éramos. O cara tem 20 e poucos anos, se o cara não consegue andar na rua, já passou o tempo, não sou eu que vou pegar na mão dele e fazer ele aprender. O que tentamos fazer com essa molecada é (passar experiência). Eles já são bons jogadores, eu já tenho 36 anos e já fiz muita merda na vida, o que eu posso dizer para eles é que não acho que isso aqui não é certo. Pregamos muito pelo caráter. Errar é humano e depende do erro que você pode ter. Tem várias pessoas que erram, você só não pode errar duas vezes na mesma coisa, você tem que aprender. Eu espero que eu tenha aprendido algumas coisas, mesmo sabendo que no futuro eu vou errar de algum jeito.

Você perdeu ou ganhou mais estando no CS?

Como pessoa, ganhei mais. Perdi mais dinheiro.

Perdeu mais dinheiro?

Pra caramba, por sinal. Mas ganhei pessoas fantásticas, já tinha pessoas fantásticas comigo e quando fui para GODSENT encontrei o Joãozinho (João Ludgerio, social media da Dust2 Brasil), Dan, juka, Codorna, Fred, Victor, só de ter a honra de estar próximo dessas pessoas, que para mim são seres humanos absurdos, para mim vale a pena, acho que estou ganhando. No fim do dia é isso que fica, as pessoas. O resto vai passar, a amizade fica.

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#1(Com 0 respostas)
11 de agosto de 2022 às 08:54
leozimmelo
Genial essas ideias do dead/00 de trazer o time pro BR e fazer esses mini palco pra 300+ pessoas, isso é algo que acho que outras podem ja começa a copiar.
Muitas coisas que podem engrandecer o cenário em geral. parabéns Dead e parabéns pela entrevista Dust
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