dgt, da 9z, falou que seu corpo já não respondia no último mapa de jornada

Profissionais da saúde analisam impactos de maratona de jogos

Preparadora física e psicólogo com atuação nos esports falaram dos efeitos da jornada de partidas e como se preparar melhor

O último dia de closed qualifier sul-americano do PGL CS2 Major Copenhagen ficou marcado por uma jornada de jogos decisivos, que começou às 14h do último domingo e foi terminar somente às 3h15 da segunda-feira.

Após as mais de 13 horas de partidas, contando com pausas entre partidas, a RED bateu a 9z e ficou com a última vaga no RMR Americas. As equipes jogaram 194 e 176 mapas respectivamente na maratona de partidas.

No X (antigo Twitter), Franco "dgt" Garcia, da 9z, disse que seu corpo não respondia no último mapa disputado. A Dust2 Brasil procurou um psicólogo e uma preparadora física, que falaram dos efeitos de uma longa maratona competitiva nos jogadores e como ela é prejudicial.

Isabelle Leal, preparadora física da FURIA, comentou que essa sequência longa de partidas pode resultar em diversos problemas a longo prazo, tanto físicos quanto psicológicos.

"Os mais comuns são lesões por esforço repetitivo (LER), fadiga mental e ocular, insônia e ansiedade. Embora os esports não exijam atividade física intensa, períodos longos de jogo podem contribuir para um estilo de jogo sedentário, por isso é tão importante por ter uma equipe de saúde", explicou.

O psicólogo Matheus Valle, que trabalhou na ARCTIC durante a conquista do tetracampeonato inédito do CBCS, conta que até dormir por 12 horas pode ser um incômodo, então manter a performance próximo ao máximo é impossível.

"Os esports são mais mentais, e a fadiga mental pode ser menos clara do que um cansaço físico, apesar de poderem ser igualmente debilitantes. Uma jornada longa de jogos faz com que a capacidade de processamento de informação e de autorregulação sejam reduzidas no cérebro, resultando em atletas que vão tomar decisões piores por não conseguirem mais captar o que está acontecendo no jogo de forma adequada."

Leal também adiciona que o cansaço leva às decisões erradas: "A fadiga em jogadores pode afetar o desempenho físico mas também o cansaço cognitivo, trazendo tomadas de decisões erradas, diminuição do tempo de reação, perda de foco e atenção, perda de motivação para treinar e jogar, o que resulta em uma queda geral no desempenho e na qualidade do jogo", conta a preparadora física.

Valle adiciona que, além do cansaço, os jogadores vão para as partidas com os nervos à flor da pele pela importância dos jogos. Com a tensão alta junto do cansaço, os jogadores perdem a capacidade de manter o controle, explica o psicólogo.

"Coisas que dão errado em uma partida ao fim da maratona podem tiltar um jogador com mais facilidade do que tiltaria nas primeiras partidas, por exemplo. As chances de discussões dentro da equipe também crescem."

Como se preparar melhor?

Afim de evitar essas fadigas, a preparadora física e o psicólogo apontam métodos que podem deixar os jogadores um pouco mais preparados para jornadas longas - embora não seja ideal que as equipes precisem atuar por tanto tempo.

"Apesar de jogar um campeonato por 12 horas seja um grande desafio, existem sim maneiras das equipes se tornarem mais resistentes a essas maratonas. Em termos de preparação mental, é importante trabalhar formas de aumentar autopercepção e autorregulação. Muitos atletas não percebem que começam a se tornar mais irritados, frustrados e emocionalmente sensíveis ao longo das partidas e isso pode ser díficil de perceber sozinho", explicou Valle.

"A psicologia entraria fornecendo recursos para que cada atleta possa reconhecer melhor os possíveis sinais de que estão ficando emocionalmente desregulados durante a partida e, a partir daí, aplicar as estratégias que são trabalhadas durante as sessões para retomar o controle e voltar para o estado de flow ideal", continuou o psicólogo.

Já para Leal, é essencial que os jogadores de esportes eletrônicos sejam encarados da mesma forma que os atletas de esportes convecionais. Assim, os profissionais de esports teriam uma rotina com mais cuidados e mais estruturada.

"Melhorando a qualidade de vida dos atletas, proporcionando uma melhor performance incorporando hábitos saudáveis como realizar pausas regulares, praticar atividades físicas, garantir também uma boa manutenção do sono dário. Falando mais da parte física, é necessário dedicar dias específicos para diferentes aspectos, como exercícios de relaxamento, fortalecimento, tempo de reação, foco e memória".

"Isso não apenas contribui para melhorar a performance do atleta, mas também proporcionar uma qualidade de vida mais elevada. Além disso, personalizar treinos diferentes para cada tipo de jogo (FPS, MOBA, RPG, etc.) e individualmente para cada atleta", finalizou a preparadora física.

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